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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Imagens evasivas da leitura

Vivo a minha vida em círculos cada vez maiores
que sobre as coisas se entendem.

Rainer Maria Rilke, Sonetos a Orpheu


op.cit, Gérard de Cortanze. O movimento das coisas. Tradução de Isabel Aguiar Barcelos. Campo das Letras Editores, Porto, 2002., p. 147
«O grande pássaro materno é um cadáver,»


Gérard de Cortanze. O movimento das coisas. Tradução de Isabel Aguiar Barcelos. Campo das Letras Editores, Porto, 2002., p. 116
Ela ilude-se
na delícia dos rostos, entre
trincheiras guarnecidas com celusas. Todo
este calor superficial nos seus olhos
de sombra demasiado pura de metáforas,
estas desculpáveis indiscrições.
Ela curva-se, ondula. A calma medida da tempestade
atinge-a na forma mais viva do seu equilíbrio. Prisioneira
de um erudito desejo de agradar,
assemelha-se a essas águias enredadas
nas suas próprias lembranças: finge ignorar
os cavalos, o mar assombrado. Bruscamente,
compõe aos pés deliciosos do animal
um caniço cercado de silêncios
e de compridas tapeçarias.


Gérard de Cortanze. O movimento das coisas. Tradução de Isabel Aguiar Barcelos. Campo das Letras Editores, Porto, 2002., p. 95

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

nem a espada
nem o touro
nem o medo:
a fonte está lá e
segreda-lhe ao ouvido
que ela é eterna,
que o seu ser possui
a nascente,
a sua sede, a sua perenidade,
um busto de alabastro,
uma memória de gaio.


Gérard de Cortanze. O movimento das coisas. Tradução de Isabel Aguiar Barcelos. Campo das Letras Editores, Porto, 2002., p. 79

Fragmento de algum oceano imaginário

Ele falava de coisas que estão num lugar qualquer
onde os nossos deuses não habitam - coisas que
faltavam mas que estavam já no coração.
Os nossos deuses são velhos. Esqueceram-se de nós
como de muitos filhos (bastardos).


Fernando Pessoa, O privilégio dos caminhos


op. cit Gérard de Cortanze. O movimento das coisas. Tradução de Isabel Aguiar Barcelos. Campo das Letras Editores, Porto, 2002., p. 64
Em ti desejava captar
a águia e os seus instintos.
Poder pintar o nevoeiro
da claridade solar.

Sinto que em ti palpita
o meu pensamento.

Depois do silêncio
virá uma fuga húmida.
Depois da tua natureza: uma curva
que respira. Os teus lábios
livres - purificados.



Gérard de Cortanze. O movimento das coisas. Tradução de Isabel Aguiar Barcelos. Campo das Letras Editores, Porto, 2002., p. 47
«Dormias, entre
lençóis de tesouras entrançadas.
Dormias.
Não me atrevi a tocar-te.


Gérard de Cortanze. O movimento das coisas. Tradução de Isabel Aguiar Barcelos. Campo das Letras Editores, Porto, 2002., p. 17
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