quinta-feira, 21 de março de 2013

COMO SE



meia-noite no quarto a luz pisca
abro esta janela para mim
o sonho bruxuleia quase extinto
faço como se não tivesse frio

faço tudo como se fosse amanhã
porquê acreditar quando se discursa
porquê acreditar que aqui agora é Verão
a palavra esquarteja-se na minha boca

juntam-se estorninhos por cima de mim
-céus o que eu também estou a dizer -
só aranha caça moscas de Outono
será que alcanço uma morte digna


1974


Pátkai Tivadar.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p. 47

Luto Branco


a Cskonai Attila

Acumula-se, como nos lábios fria
nicotina, nos arbustos o amarelo de morte,
em roto casaco as árvores envoltas:
nevoeiro: - luto branco do nosso parque!


Os lagos são máscaras de prata geladas,
como a calma no rosto de minha mãe!
Distintivos - murchar das folhas, das equimoses
na folhagem do bosque, no meu rosto.


Unha escavadora, a Lua sob os olhos nossos;
flores do Dia dos Mortos:
caem-nos crisântemos nos braços
-consoladores!- na neve dos nossos ossos!


Troncos em fila para um Deus severidade,
pensamentos desarmados
-deforma-se a máscara de prata do lago:
degelo - soluça síroco.


Calma severa no rosto de minha mãe;
planta árvores de folha-distintivo
na colina sagrada de crisântemos:
que eles se elevem aos país-ave.


E acumula-se ainda, como nos lábios fria
nicotina, nos arbustos o amarelo de morte,
e em roto casaco as árvores envoltas
-nevoeiro! - luto branco do nosso parque!

Géczi János.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.23

quarta-feira, 20 de março de 2013



«-A pobreza precisa de alegria, meu filho - disse a velha. - A dor necessita de distracção, senão devora-nos. Mais vale nós a devorarmos.- Enquanto falava, batia com o punho numa pedra. - A mim, que estou a divertir-me, a Morte já me fez sobrer bem. Como vingar-me daquele miserável?
já não posso conceber filhos, senão ela havia de ver.» 


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 437



«Morremos por ser homens sem lenda, sem grandeza, sem mistério», dirá por sua vez o próprio Céline. E talvez seja esta a fonte das desgraças do homem moderno.



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 13

bípedes em busca de uma côdea

 
«Céline fala pelos não-judeus e faz-se vítima: « Nada tenho de especial contra os Judeus enquanto judeus, ou seja, galfarros como os outros bípedes em busca de uma côdea...Não me incomodam nada. Um judeu vale tanto como um bretão, assim em bloco, em igualdade de circunstâncias, como um tipo de Auvergne, um franco-monhé, um 'filho de Maria''...É possível...Contra o racismo judaico é que me revolto, é que sou mau e fervo até às profundezas das cuecas!...Vocifero! Faço estrondo! parêntesis  Para o Judeu, lembrem-se disto...quem não for judeu é animal!»  



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 10

Louis-Ferdinand Céline


«Mas em Céline, homem de obcecações e ódios irreprimíveis, nunca existiu meio termo. Céline não hesitou em mostrar-se desabrido e fanático.»

Aníbal Fernandes


Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 10

tartufo

tartufo
nome masculino
indivíduo hipócrita; velhaco; devoto fingido
(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)

tartufo In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-20].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/tartufo
>.
tartufo
nome masculino
indivíduo hipócrita; velhaco; devoto fingido
(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)

tartufo In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-20].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/tartufo
>.
nome masculino

 indivíduo hipócrita; velhaco; devoto fingido

(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)


«O poeta rouba onde pode.»


Méliusz József
«no fogo do relâmpago galopa o cavalo,»


Géczi János.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.21

terça-feira, 19 de março de 2013

''camomila-da-morte''

CADA VEZ MAIS LINDO




O espelho de gelo todo ensanguentado
                        significa amor
distância
o pátio da prisão
                       coberta de neve

                    vejo
o luar desenterrado
e cai               cai
sobre a minha sombra
cai a neve sem parar



Biró József.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.15

''a noite de LUAR cheira a PÃO''


Biró József.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p.13



«Colocou palavras milagrosas
No tesouro da minha memória.»



Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992., p. 43







3


SOMBRA
                                                                                                     


                                                                                                          Que sabe certa mulher
                                                                                                                                Sobre a hora da morte?

                                                                                                                 O. Mandelshtam



Sempre mais elegante, mais rosada, mais alta que todas,
Para que vens ao de cima do fundo dos anos tombados
E a memória rapace diante de mim faz tremular
O teu perfil transparente por trás dos vidros do coche?
Como se discutia nessa altura - tu, anjo ou pássaro!
Uma pequena palha te chamou o poeta.
Para todos por igual através das negras pestanas
Dos olhos em abismo fluía a terna luz.
Oh sombra! Perdoa-me, mas o tempo claro,
Flaubert, a insónia e os lilases tardios
De ti - bela de 1913 -
E do teu dia indiferente e sem nuvens
Me fizeram lembrar ...Mas tais recordações
A mim não me ficam bem. Oh sombra!


9 de Agosto de 1940. De noite.

Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992., p. 33

AOS DEFENSORES DE ESTALINE


São estes que gritavam «Solta
Barrabás para nós na festa», estes
Que mandaram a Sócrates beber
Veneno na estreiteza muda da prisão.

Despejar-lhes a mesma bebida
Na boca inocentemente difamatória,
A estes queridos amantes das torturas,
Peritos na fabricação de órfãos.


1962


Anna Akhmatova. Poemas. Edição Bilingue. Tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitrier. Edições Cotovia, Lisboa, 1992

sábado, 16 de março de 2013

aguaçal


baús

«O coração de Kosmas era ainda uma gruta escura, povoada de visões.»


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 417

apoquentações

Homem cretense


«Haviam-se sentado num banco. «Como te chamas?», indagou o rapaz. «Noémia». «Fala, Noémia, a vida deve ser-te difícil. Tem confiança em mim, sou cretense.» «Que é isso de cretense?» « Um homem ardente.»



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 415

«A vida é curta, digamos o que temos a dizer enquanto é tempo.»


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 414

«-Crêem em Deus? Isso é que me interessa saber.
 -Crêem numa nova divindade, cruel e poderosa, e que pode chegar a ser omnipotente.
-Qual?
-A Ciência, Reverendíssimo Padre.
-Um espírito impiedoso, isto é, o diabo.»



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 412

sexta-feira, 15 de março de 2013


´´cavando ao sol nos vinhedos''

« -Não deves ter medo - dizia-me. - Só se aprende, fazendo. Basta ter vontade...Se me engano, corrige-me.»


Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 85

«Tinha já aqueles olhos tristes, de gato, e sempre que falava, concluía: «Se me engano, corrige-me.»



Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 84

'' braçado de erva''


«Não sabia que crescer queria dizer partir, envelhecer, ver morrer(...)»



Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 71

quarta-feira, 13 de março de 2013

«Nunca encontrei uma rapariga que soubesse o que é a música...»


Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 19


«Nós não somos do século d'inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século d'inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.»



 José de Almada-Negreiros

ancinho



«Cesare Pavese, um homem em busca da Morte.»

Manuel de Seabra no prefácio



Cesare Pavese. A Lua e as Fogueiras. Tradução e Prefácio de Manuel Seabra. Livros de bolso. Editora Arcádia, Lisboa., p. 10



All is the same.
Time has gone by.
Some day you came,
some day you 'll die.


Some one has died
long time ago.

Consulta o teu coração e decide o que te parecer melhor.

«Lê esta carta e faze o que Deus te inspirar. Não há esperança. Ainda desta vez se luta para nada. Consulta o teu coração e decide o que te parecer melhor.»
   Franziu as sobrancelhas, o lábio superior arregaçou-se-lhe, descobrindo o dente rebelde.
  «Grande desgraça há-de haver se consultar o coração», resmungou. «O mundo explodirá».  



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 376

títere


nome masculino

 1. boneco que se move por meio de cordéis e articulações; marioneta
2. figurado, pejorativo pessoa que se deixa manipular por outrem; bonifrate
3. popular aquele que gosta de provocar o riso; palhaço; bufão
4. popular janota; casquilho

(Do castelhano títere, «idem»)


«-Compreendi que, tendo-se medo de qualquer coisa, seja um leão, ou um homem, ou uma miragem, nos devemos lançar de cabeça, sempre em frente. Logo o medo desaparece. Deixa-nos e vai pegar-se a outro, ao leão, ao homem, ou à miragem. Eis aqui o segredo.»  


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 356

«farrapos de nuvens róseas.»


«(...) a morte parecia tê-la esquecido.»


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 346

á-bê-cê


«-A velhice nunca vem só, meus filhos - lamentava-se. - Como já não posso lutar com os braços, luto com a cabeça...até que se faça em pó.»  


Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 342

«Não tinha desejo nem vagar para conviver com ninguém.» 



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 177


«(...) e como Deus iria ainda sofrer pela mão dos homens.»



Nikos Kazantzaki. Liberdade ou Morte. Estúdios Cor., p. 165

The Rosebud Garden of Girls (June,1868)




«(...) - Causo-te repugnância, Cate? - disse-lhe baixo, troçando. Sentiu-se apanhada de surpresa e baixou os olhos e a voz. - Porquê? - balbuciou, ela que só truncava as conversas.
  -Éramos novos, - recordei. - As coisas nunca acontecem a tempo.»




Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa,
p. 154
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