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sábado, 11 de fevereiro de 2012

''desenhou a figura de Ofélia levada pela corrente''

Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 72

Verdi

« (...) ele sabe excitar sonoridades materiais, mas não consegue arrancar a alma do seu vestido de carne e levá-la, nua e possuída do infinito, pelas regiões das surpresas radiosas.»


Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 68

''lume santo''


(...)

«aquele sopro de que fala a Bíblia.»


Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 68

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Oh! nunca me digas que me queres muito!

   «Mas se me dizes que me queres muito, sinto que vem logo um estranho Inverno descorar-me as faces, desfolhar-me a alma de todas as emoções, e cobrir de geada todos os loucos desejos.
    Oh! nunca me digas que me queres muito




Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 52

«(...) os teus olhos húmidos, como violetas debaixo de água - »


Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 51
«(...) por fim, agitas-te, cheia de tempestades.»


Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 50
«Ainda hoje o triste anda penado nas águas escuras; e os teus olhos, ó serena rapariga, são eternamente falsos!
   Não era assim que eu pensava no tempo daqueles nossos amores, ó nome que eu não escrevo! daqueles amores tão doces como a suavidade das nossas noites de Outono - tão coloridos e vagos como aquelas nuvens, que sempre no ar andávamos formando e desmanchando.»



Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Aia

«Apenas os seus olhos, brilhantes e secos, se tinham erguido para aquele céu que, além das grades, se tingia de rosa e de ouro. Era lá, nesse céu fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava lá, e já o Sol se erguia, e era tarde, e o seu menino chorava decerto, e procurava o seu peito!...Então a ama sorriu e estendeu a mão. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua mão aberta. Que jóia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis, ia ela escolher?
A ama estendia a mão - e sobre um escabelo ao lado, entre um molho de armas, agarrou um punhal. Era um punhal de um velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma província.
Agarrada ao punhal, e com ele apertado fortemente na mão, apontando para o céu, onde subiam os primeiros raios de Sol, encarou a rainha, a multidão, e gritou:
-Salvei o meu príncipe - e agora vou dar de mamar ao meu filho!
E cravou o punhal no coração. (pp.162)

Eça de Queiroz in Contos. Edição «Livros do Brasil», Lisboa.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A Perfeição

O facudo Ulissess acariciou a barba rude. Depois, erguendo o braço, como costumava na Assembleia dos Reis, à sombra das altas popas, diante os muros de Tróia:
_Oh deusa venerável, não te escandalizes! Perfeitamente sei que Penélope te está muito inferior em formosura, sapiência, e majestade. Tu serás eternamente bela e moça, enquanto os deuses durarem: e ela, em poucos anos, conhecerá a melancolia das rugas, dos cabelos brancos, das cores da decrepitude, e dos passos que tremem apoiados a um pau que treme. O seu espírito mortal erra através da escuridão e da dúvida; tu, sob essa fronte luminosa, possuis as luminosas certezas. Mas oh deusa, justamente pelo que ela tem de mais incompleto, de frágil, de grosseiro e de mortal, eu a amo, a apeteço a sua companhia congénere! Considera como é penoso que, nesta casa, cada dia, eu coma vorazmente o anho das pastagens e fruta dos vergéis, enquanto, tu ao meu lado, pela inefável superioridade da tua natureza, levas aos lábios, com lentidão soberana, a ambrósia divina! Em oito anos, oh deusa, nunca a tua face rebrilhou com uma alegria; nem dos teus olhos verdes rolou uma lágrima; nem bateste o pé, com irada impaciência; nem, gemendo com uma dor, te estendeste no leito macio...E assim trazes inutilizadas todas as virtudes do meu coração, pois que a tua divindade não permite que eu te congratule, te console, te sossegue, ou mesmo te esfregue o corpo dorido com o suco das ervas benéficas. Considera ainda que a tua inteligência de deusa possui todo o saber, atinge sempre a verdade; e, durante o longo tempo que contigo dormi, nunca gozei a felicidade de te emendar, de te contradizer, e de sentir, ante a fraqueza do teu, a força do meu entendimento! Oh deusa, tu és aquele ser terrífico que tem sempre razão! Considera ainda que, como deusa, conheces todo o passado e todo o futuro dos homens: e eu não pude saborear a incomparável delícia de te contar à noite, bebendo o vinho fresco, as minhas ilustres façanhas e as minhas viagens sublimes! Oh deusa, tu és impecável: e quando eu escorregue num tapete estendido, ou me estale uma correia da sandália, não te posso gritar, como os homens mortais gritam às esposas mortais: - Foi culpa tua, mulher! - erguendo, em frente à lareira, um alarido cruel! Por isso sofrerei, num espírito paciente, todos os males com que os deuses me assaltem no sombrio mar, para voltar a uma humana Penélope que eu mande, e console, e repreenda, e acuse, e contrarie, e ensine, e humilhe, e deslumbre, e por isso ame de um amor que constantemente se alimenta destes modos ondeantes, como o lume se nutre dos ventos contrários.
Assim o facundo Ulisses desabafava, ante a taça de ouro vazia: e serenamente a deusa escutava, com um sorriso taciturno, e as mãos imóveis sobre o regaço, enrodilhadas na ponta do véu.
No entanto, Febo Apolo descia para Ocidente; e já das ancas dos seus quatro cavalos suados subia e espalhava por sobre o mar um vapor rúbido e dourado. Em breve os caminhos da ilha se cobririam de sombras. E sobre os velos preciosos do leito, ao fundo da gruta, Ulisses, sem desejo, e a deusa, que o desejava, gozaram o doce amor, e depois o doce sono.
Eça de Queiroz. Contos. Edição «Livros do Brasil» Lisboa .(pp.236/7)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A Perfeição

Não, deusa perigosa, não! Eu combati na grande guerra onde os deuses também combateram, e conheço a malícia infinita que contém o coração dos imortais! Se resisti às sereias irresistíveis, e me safei com sublimes manobras entre Cila e Caríbdis, e venci Polifermo com um ardil que eternamente me tornará ilustre entre os homens, não foi decerto, oh deusa, para que, agora, na ilha de Ogígia, como passarinho de pouca penugem, no seu primeiro voo do ninho, caia em armadilha ligeira arranjada com dizeres de mel! Não, deusa, não! Só embarcarei na tua extraordinária jangada se tu jurares, pelo juramento terrífico dos deuses, que não preparas, com esses quietos olhos, a minha perda irreparável!
Assim bradava, à beira das ondas, com o peito a arfar, Ulisses, o herói prudente...Então a deusa clemente riu, com um cantado e refulgente riso. E caminhando para o herói, correndo os dedos celestes pelos seus espessos cabelos mais negros que o pez:
_Oh maravilhoso Ulisses - disse - tu és, bem na verdade, o mais refalsado e manhoso dos homens, pois que nem concebes que exista espírito sem manha e sem falsidade! Meu pai ilustre não me gerou com um coração de ferro! Apesar de imortal, compreendo as desventuras mortais. Só te aconselhei o que eu, deusa, empreenderia, se o fado me obrigasse a sair de Ogígia através do mar incerto!...
O divino Ulisses retirou lenta e sombriamente a cabeça da rosada carícia dos dedos divinos:
_Mas jura...Oh deusa, jura, para que ao meu peito desça, como onda de leite, a saborosa confiança!
Ela ergueu o claro braço ao azul onde os deuses moram:
_Por Gaia e pelo Céu superior, e pelas águas subterrâneas do Estígio, que é a maior invocação que podem lançar os imortais, juro, oh homem, príncipe dos homens, que não preparo a tua perda, nem misérias maiores...
O valente Ulisses respirou largamente. E arregaçando logo as mangas da túnica, esfregando as palmas das mãos robustas:
_Onde está o machado do teu pai magnífico? Mostra as árvores, oh deusa!...O dia baixa e o trabalho é longo!
_Sossega, oh homem sôfrego de males humanos! Os deuses superiores em sapiência já determinaram o teu destino....Recolhe comigo à doce gruta, a reforçar a tua força...Quando Eos vermelha aparecer, amanhã, eu te conduzirei à floresta.


Eça de Queiroz. Contos. Edição «Livros do Brasil» Lisboa .(pp.234/5)

Singularidades de Uma Rapariga Loura

A Perfeição

Então Calipso, pensativa, lançando sobre os seus cabelos anelados um véu da cor do açafrão, caminhou para a orla do mar, através dos prados, numa pressa que lhe enrodilhava a túnica, à maneira de uma espuma leve, em torno das pernas redondas e róseas. Tão levemente pisou a areia, que o magnânimo Ulisses não a sentiu deslizar, perdido na contemplação das águas lustrosas, com a negra barba entre as mãos, aliviando em gemidos o peso do seu coração. A Deusa sorriu, com fugitiva e soberana amargura. Depois, pousando no vasto ombro do herói os seus dedos tão claros como os de Eos, mãe do dia:
_Não te lamentes mais, desgraçado, nem te consumas, olhando o mar! Os deuses, que me são superiores pela inteligência e pela vontade, determinam que tu partas, afrontes a inconstância dos ventos, e calques de novo a terra da pátria...
Bruscamente, como o condor fendendo sobre a presa, o divino Ulisses, com a face assombrada, saltou da rocha musgosa:
_Oh deusa, tu dizes!...
Ela continuou sossegadamente, com os formosos braços pendidos, enrodilhados no véu cor de açafrão, enquanto a vaga rolava, mais doce e cantante, no amoroso respeito da sua presença divina:
_Bem sabes que não tenho naves de alta proa, nem remadores de rijo peito, nem piloto amigo das estrelas, que te conduzam...Mas certamente confiarei o machado de bronze que foi do meu pai, para tu abateres as árvores que eu te marcar, e construíres uma jangada em que embarques...Depois eu a proverei de odres de vinho, de comidas perfeitas, e a impelirei com um sopro amigo para o mar indomado...
Eça de Queiroz . Contos. Edição «Livros do Brasil» Lisboa. (pp. 233)

A Perfeição

«...E ao herói, que recebera dos reis da Grécia as armas de Aquiles, cabia por destino amargo engordar na ociosidade de uma ilha mais lânguida que uma cesta de rosas, e estender as mãos amolecidas para as iguarias abundantes, e, quando as águas e caminhos se cobriam de sombra, dormir sem desejo com uma deusa que, sem cessar, o desejava.» (pp.228)

Eça de Queiroz. Contos. Edição «Livros do Brasil» Lisboa

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