domingo, 4 de dezembro de 2022

« Olhei tanto para mim que me esqueci de tudo.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 368

''Perdoai-me a minha vaidade.''

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 368

 « Sem ti em morreria miseravelmente asfixiado entre os trevos e as margaridas.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 359

« Os meus olhos de vidro não têm pálpebras. Só as noites são as minhas pálpebras.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 355

«Quem dá aos pobres empresta a Deus.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 355

'' cansa e magoa os meus olhos de vidro.''

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 352


Desire, 2016
Sven Van Driessche

 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

"Entre o nevoeiro", 1984

 Escritor japonês Issei Sagawa

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

ACONSELHO-VOS O AMOR




“Aconselho-vos o amor:
o equilíbrio dos contrários.
Aconselho-vos o amor
cheio de força; os moinhos
girando ao vento desbridado.
Aconselho-vos a liberdade
do amor (que logo passa
— vão dizer-vos que não —
para os gestos diários).
ACONSELHO-VOS A LUTA."

De "Cuidar dos Vivos" (1963), incluído em "A Musa Irregular" (1991), de Fernando Assis Pacheco

Visita-me Enquanto não Envelheço



visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado

tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos

antes que desperte em mim o grito
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro

perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te


 

O cortejo dos penitentes

 No cortejo dos penitentes

Vão culpados pecadores da gulaVão culpados da sensualidadeCastigados até à medulaVão os tíbios e frouxos no amorImaculados como o CriadorVão culpados por abstinênciaVão culpados das suas carênciasNo cortejo dos penitentesOs homens cortam suas próprias carnesSão ofertas que fazem aos céusAo mais alto de todos os céusNo cortejo dos penitentesOs sacerdotes da austera vidaVão contentes e muito enfeitadosSobre as cinzas dos sacrificadosE cantam louvoresAo Deus
Abranda SenhorA pena dos mortosP'ra que te louvemCom sono quieto
No cortejoOs penitentesBebem tragos da bebida amargaDa urina que depois vomitamPela noite mal aventuradaNo cortejoOs penitentesComem postas de sangue coalhadoDa sangria dos outros romeirosSuavemente mutiladosE cantam louvoresAo Deus

Fausto Bordalo Dias

a lei do obscurecimento

 L. Jacobinski

 "Pôr a nu as pessoas que violaram a lei, fazê-las tombar e bater nelas com yaras no traseiro"

Leon Tolstói

 "A poesia assim como a prosa é antes de tudo, e sobretudo, uma certa maneira de pensar e conhecer"

V. CHKLOVSKI

"A arte é pensar por imagens"


Sven Van Driessche

 

O mundo recompensa com mais frequência as aparências do mérito do que o próprio mérito.


Autor: La Rochefoucauld , François   
''Um asno será sempre um asno, mesmo se o cobrires de ouro.''

 Derjavine , Gavril    

amá-la-emos

 « À senhora L ***

                                     Petrovskoe, 3 de Junho de 18...

                                    Lembre-se de perto,

                                    Lembre-se de longe,

                                    Lembre-se de mim

                                    Hoje e sempre,

                                    Lembre-se até ao túmulo,

                                    Como sei amar fielmente...

                                                                         Karl MAUER..»


crestomatia

''Um sonho apaga o outro''

 Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 78


Sven Van Driessche is a Polaroid photographer from Belgium

 

« O simples som da sua voz diz tantas coisas ao meu coração!»

 Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 75

snobs

« - Quem são? - perguntou o Gladíolo.

- Ela é a mulher mais chique e mais bem vestida desta terra. É uma espécie de tulipa. Ele é um snob.

- O que é um snob? - perguntou o Gladíolo.

-É uma espécie de Gladíolo.

- Que fazem os snobs?

- Têm muitos amigos e são muito convidados, e por isso toda a gente gosta muito deles e os convida muito.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 346

''Dorme como se tivesse morrido.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 343

 « (...) e o homem e o rio não se encontravam.»


Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 333

« - A floresta é grande e na escuridão ninguém  a conhece.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 332

gentio

Porque Nâo Me Vês


 

pessoa achacadiça

« Vós que entrais deixai toda a esperança.»

 « - Dante foi o maior poeta da Itália, um poeta que conhecia os segredos deste mundo e do outro, pois viu vivo aquilo que nós só veremos depois de mortos.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 321

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

« Parecia-me que, se encontrasse o seu olhar, a sua dor e a minha ultrapassariam os limites do sofrimento que é possível suportar.»

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 71

« O meu coração apertou-se à vista do seu desgosto;»

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 69


 

''A minha cabeça estava cheia de coisas fúteis;''

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 68

 ''A poeira obscurecia o ar''


Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 68

''folhas de um verde duro e sombrio''

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 68

''camisa branca com bolsos de algodão vermelho''

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 67

desempenado

 «(...) toda a sua vida não era mais do que um acto de amor e um sacrifício de si mesma.»

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 64

domingo, 27 de novembro de 2022

« Um raio de luar bateu nas janelas.»

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 60

Adoniran Barbosa e Elis Regina, 1978

cúpido

'' o seu mau querer''

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 49

bem sabes que eu detesto lágrimas

 «Minha irmã era uma choramingas completa.

- Está bem, está bem - replicou ele - eu brinco, só para não chorares, bem sabes que eu detesto lágrimas.»

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 49

 ''ameixas e pêssegos, embrulhados em folhas.''

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 47

« Os pobres são os pobres. Têm a pobreza.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Noite de Natal (1959). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 304

''pássaros de vidro''

catracegar

« - Sabes - disse o peixe - , quando uma pessoa nos atira à cara o favor que nos fez perde o direito à nossa gratidão.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 285

''Parece um lírio de Maio, »

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 280


 

chorar até que a minha solidão se desfaça

 « Ele vai encostar a minha cabeça ao seu ombro para que eu possa chorar, chorar até que a minha solidão se desfaça.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 274

«Perdoa-me a minha vaidade.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 268

 « Sem ti eu morreria miseravelmente asfixiado entre os trevos e as margaridas.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 259

« Quem dá aos pobres empresta a Deus.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Fada Oriana (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 254

vinagreira

 ''havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos''

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Menina do Mar (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 229



 

 Casa branca em frente ao mar enorme,

Com o teu jardim de areia e flores marinhas

E o teu silêncio intacto em que dorme

O milagre das coisas que eram minhas.


 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. A Menina do Mar (1958). Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 229

''manhã marinha''

'' a tanto não me acovardo''

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 213

 « Quem no dia seguinte a via com um cântaro à cabeça e o rosto liso, clássico e trigueiro, rosado pela manhã fria, nunca adivinharia o combate com as fúrias, loucuras e temporais da noite.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 212

 « Direita e forte, carregava enormes cântaros de água, (...)»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 209

'' uma cara clássica''

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 209

"Going Down" - Freddie King


I'm going down
I'm going, down, down, down, down, down
Yes, I'm going down, yeah
I'm going down, down, down, down, down
Yes, I've got my big feet in the window
Got my head on the ground

Let me down
And close that box car door
Yes, let me down
And close that box car door
Well, I'm goin' back to Chattanooga
And sleep on sister Irene's door

(Guitar & instrumental) Hey!

Yes, I'm going down
I'm going, down, down, down, down, down
I'm going down
I'm going, down, down, down, down, down
Yes, I got my big feet in the window
I got my head on the ground

lavradeira

 «(...), habitávamos o interior dos pulmões da maresia.»


 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 206

«Caiu-me a alma aos pés: não queria ser governada por fanáticos.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 204

«Muitos aderiram com entusiasmo à retórica dos demagogos.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 203

«O pior de todos os desastres seria a morte da palavra.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 203

quasi-omnipresente



Al Berto
in “O Medo” (ed. Assírio & Alvim)
(excerto)
 

terça-feira, 22 de novembro de 2022

 Acho uma moral ruim

trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.

Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.

Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.

Não me deem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.


António Aleixo 


 

«(...) aborrece-me ver pessoas instruídas, inteligentes, deixarem-se tomar por parvas...»

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 31

 « Sei bem quem fez todo o mal e porque já não precisam de mim; porque não quero dobrar-me, e porque não digo sim e ámen a tudo, como fazem certas pessoas. Tenho o hábito de dizer a verdade a toda a gente - tornou com orgulho.»

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 25

sovela

«(...), e ele, está só, completamente só, ninguém o acarinha, tem motivos para dizer que é órfão. A história da sua vida é tão triste!

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 11

« (...), sente-se que Karl Ivanovitch tem a consciência pura e a alma tranquila.»

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 10/11


 

A Chusma Salva-Se Assim

''pendurou o mata-moscas num prego''

Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 6

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

 “É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e, quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades em que não há mal nenhum que ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro: - o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro.”

P. António Vieira (1668)

''A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc. Eu oiço-os falar e pasmo não haver praticamente um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns. Mas os que giram em torno deles não são melhores. Desconhecemos até os nossos grandes homens: quem leu Camões por exemplo? Quase ninguém. Quem sabe alguma coisa sobre Afonso de Albuquerque? Mas todos os dias há paleios cretinos acerca de futebol em quase todos os canais. Porque não é perigoso. Porque tranquiliza. 

Os programas de televisão são quase sempre miseráveis mas é vital que sejam miseráveis. E queremos que as nossas crianças se tornem adultos miseráveis também, o que para as pessoas em geral significa responsáveis. Reparem, por exemplo, em Churchill. Quando tudo estava normal, pacífico, calmo, não o queriam como governante. Nas situações extremas, quando era necessário um homem corajoso, lúcido, clarividente, imaginativo, iam a correr buscá-lo. Os homens excepcionais servem apenas para situações excepcionais, pois são os únicos capazes de as resolverem. Desaparece a situação excepcional e prescindimos deles. 
Gostamos dos idiotas porque não nos colocam em causa. Quanto às pessoas de alto nível a sociedade descobriu uma forma espantosa de as neutralizar: adoptou-as. Fez de Garrett e Camilo viscondes, como a Inglaterra adoptou Dickens. E pronto, ei-los na ordem, com alguns desvios que a gente perdoa porque são assim meio esquisitos, sabes como ele é, coitado, mas, apesar disso, tem qualidades. Temos medo do novo, do diferente, do que incomoda o sossego. 
A criatividade foi sempre uma ameaça tremenda: e então entronizamos meios-artistas, meios-cientistas, meios-escritores. Claro que há aqueles malucos como Picasso ou Miró e necessitamos de os ter no Zoológico do nosso espírito embora entreguemos o nosso dinheiro a imbecis oportunistas a que chamamos gestores. E, claro, os gestores gastam mais do que gerem, com o seu português horrível e a sua habilidade de vendedores ambulantes: Porquê? Porque nos sossegam. De Gaulle, goste-se dele ou não, inquietava. Eu faria um único teste aos políticos, aos administradores, a essa gentinha. Um teste ao seu sentido de humor. Apontem-me um que o tenha. Um só. Uma criatura sem humor é um ser horrível. Os judeus dizem: os homens falam, Deus ri. E, lendo o que as pessoas dizem, ri-se de certeza às gargalhadas. E daí não sei. Voltando à pergunta de Dumas
– Porque é que há tantas crianças inteligentes e tantos adultos estúpidos?
não tenho a certeza de ser um problema de educação que mais não seja porque os educadores, coitados, não sabem distinguir entre ensino, aprendizagem e educação. A minha resposta a esta questão é outra. Há muitas crianças inteligentes e muitos adultos estúpidos, porque perdemos muitas crianças quando elas começaram a crescer. Por inveja, claro. Mas, sobretudo, por medo."

António Lobo Antunes

 "Quando chega domingo,

faço tenção de todas as coisas mais belas
que um homem pode fazer na vida.

Há quem vá para o pé das águas
deitar-se na areia e não pensar…
E há os que vão para o campo
cheios de grandes sentimentos bucólicos
porque leram, de véspera, no boletim do jornal:
«Bom tempo para amanhã»…
Mas uma maioria sai para as ruas pedindo,
pois nesse dia
aqueles que passeiam com a mulher e os filhos
são mais generosos.

Um rapaz que era pintor
não disse nada a ninguém
e escolheu o domingo para se matar.
Ainda hoje a família e os amigos
andam pensando porque seria.
Só não relacionam que se matou num domingo! 

(...) “

(DOMINGO, por Manuel da Fonseca, in 'Rosa dos Ventos', 1940)

domingo, 20 de novembro de 2022

Requiem in D Minor, K. 626: VIII. Lacrimosa


 

desbragadamente

voyeurismos

''hórrido''

«Bicho, filho de Satanás, peçonha de serpente.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 193

''no branco-sujo das paredes manchadas pela humidade''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 191

''o desacontecer das coisas''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 186

''uma vida desvivida gesto por gesto''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 186

Pois É


Pois é
Fica o dito e o redito por não dito
E é difícil dizer que foi bonito
É inútil cantar o que perdi

Taí
Nosso mais-que-perfeito está desfeito
E o que me parecia tão direito
Caiu desse jeito sem perdão

Então
Disfarçar minha dor eu não consigo
Dizer: somos sempre bons amigos
É muita mentira para mim

Enfim
Hoje na solidão ainda custo
A entender como o amor foi tão injusto
Pra quem só lhe foi dedicação

Pois é, e então ...


 

''a pobreza monótona dos dias''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 186

 «Quando adoeceu para morrer, ia Novembro perto do fim. As camélias brancas estavam em flor, levemente rosadas, macias, transparentes. Algumas lhe trouxeram ao quarto, apanhadas à beira do roseiral.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 184

'' o azul dos olhos desbotado''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 184

«Não quero amaldiçoar o mundo onde nasci nem acusar o Deus que me criou.»

  Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 169

''sabia que é no silêncio que se escuta o tumulto''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 169

sexta-feira, 18 de novembro de 2022


 

 «A vida, porém, tem muitas cartas no baralho e não é raro que as jogue quando menos se espera. Ia o elefante no seu passo medido, sem pressa, o passo de quem sabe que para chegar nem sempre é preciso correr.»

José Saramago. A Viagem do Elefante. Porto Editora. 2014., p. 210

''O tempo não está de rosas''

 José Saramago. A Viagem do Elefante. Porto Editora. 2014., p. 208

«Para bom entendedor até meia palavra sobra.»

 José Saramago. A Viagem do Elefante. Porto Editora. 2014., p. 207

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

'' um vaivém incessante de aves marítimas''

  Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 168

'' o seu arfar interior de tempestade''

  Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 167


 

''respiração oceânica''

  Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 166

«No centro vazio do quarto pode-se dançar.»

  Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 166

 ''jarra de vidro coalhado azul cheia de cravos''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 166

 

adjetivo
verde-maresverdeado

morder do sal

«(...) porque os vidros entre os caixilhos de madeira estão picados e despolidos pelo morder do sal.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 164

«(...) vê-se a chorina de grossos dedos verdes e de flores amarelas e roxas que cresce no jardim de areia.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 164

''jarra cheia de dálias vermelhas''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 163

Cultura E Civilização

'' o perfume do sal''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 161

 «Cães vadios farejavam o chão dos passeios e rebuscavam os caixotes do lixo tentando agarrar sob as tampas os restos, as cascas, o pescoço da galinha degolada.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 159

''discursos de prudência e cálculo''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 151

''snobonas''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 144

''Vi a carne do sofrimento''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 135

« - Dizei-me onde está o altar do deus que protege os humilhados e os oprimidos, para que eu implore e adore.

     Ao cabo de um longo silêncio, os sacerdotes responderam:

     - Desse deus nada sabemos.»


Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 135

Gal Costa | Nenhuma Dor


 

''Pátria deserdada''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 134

 «Caminhava num país que não era o seu e onde tudo era para ele insegurança e temor.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 132

«(...), e ficarei sentado ao teu lado para desfazer a tua solidão.»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 133

 «A tristeza subia da mais profunda morada da memória e aflorava inteira à tona das pupilas.»


Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 132

''ideograma da fome''

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 132

 « Ou terei sempre a mesma sede, a mesma fome, o mesmo desejo dos momentos e dos dias?»

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 132

«Então o seu coração ficou pesado de tristeza.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 132

 « - Num poema não devemos buscar sentido, pois o poema é ele próprio o seu próprio sentido. Assim o sentido de uma rosa é apenas essa própria rosa.»

  Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 129


 

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

CÃO DAS LÁGRIMAS (JOSÉ SARAMAGO, ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA/ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ)


''Personagem secundária em dois romances de José Saramago, o Cão das Lágrimas é uma figura em que se prolonga e modula a relevância que na ficção saramaguiana é atribuída aos cães, como animais em direta relação com os humanos, com os valores que eles representam e eventualmente degradam.

O Cão das Lágrimas de Ensaio sobre a cegueira (1995) aparece numa cidade cujos habitantes foram afetados por uma suposta epidemia de "cegueira branca". Apenas os animais apelidados de "irracionais" e a personagem "Mulher do Médico" terão conservado a sua visão inalterada. O facto de o ser humano ser o único animal que perde a capacidade de ver, enfatiza o distanciamento, baseado na capacidade de usar a razão, erguido entre esta espécie e todas as outras. Todavia, tal como é exemplificado por Saramago neste romance, a razão nem sempre é aplicada de forma benéfica. É o ser humano, e a sua incapacidade de usar a razão para o bem comum, que Saramago pretende atingir com a edificação deste cenário distópico. Em Ensaio sobre a cegueira, o ser humano perderá o seu lugar cimeiro na hierarquia das espécies e, impossibilitado de usar a tecnologia ou a ciência em seu proveito, será obrigado a recomeçar do zero.

Somos apresentados a esta personagem quando a Mulher do Médico, após ter forçado a sua saída de um supermercado para salvar a comida saqueada, chora sentada no chão enlameado; nesse instante, surge um cão que abandona a sua matilha para lhe lamber as lágrimas. A cena em que um cão "se aproxima de um ser humano em desespero e que, não podendo fazer mais nada, lhe bebe as lágrimas", foi considerada por Saramago como "um dos momentos mais belos que [fez] até hoje" (Saramago et al., 2008). Tal como o escritor sublinha, a descrição deste encontro entre os representantes de duas espécies contém em si uma mensagem que se estende a toda a sua obra (cf. Saramago et al., 2008). Num mundo fortemente tecnologizado, em que a lógica do lucro e a corrida ao poder regem a relação entre seres humanos, esta cena veicula um apelo à compaixão pelo outro.

Em Ensaio sobre a cegueira, todos os cães mantiveram a visão e percorrem agora a cidade divididos em matilhas, tornando-se em eficazes predadores. Sem ninguém para cuidar deles, estes regressaram a um período anterior à domesticação e são inclusive obrigados a alimentar-se dos cadáveres que cobrem as ruas da cidade. Os seres humanos, por seu turno, são reduzidos a animais, "pior ainda, [a] animais cegos" (Saramago, 1995: 134) que vivem entre excrementos e que perdem gradualmente a memória das mais elementares regras de convivência social. Tal como os animais irracionais, eles são reduzidos aos seus instintos básicos e lutam unicamente pela sobrevivência. Segundo o narrador de Ensaio sobre a cegueira, "quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos" (243).

Ainda que nada se saiba sobre o passado do Cão das Lágrimas, o narrador sublinha que este "não anda ao cheiro de carne morta, acompanha uns olhos que ele bem sabe estarem vivos" (233). Este cão conserva o hábito de seguir o ser humano quando todos os outros fiéis amigos parecem ter abandonado esta espécie. Até ao final da narrativa, o Cão das Lágrimas acompanha o grupo de sete personagens encabeçado pela Mulher do Médico. Ele é descrito pelo narrador como o "animal dos humanos" e o "cão de rebanho, com ordem de não perder nenhuma ovelha" (256). Contudo, quando não existem lágrimas para secar, este torna-se "áspero e intratável" (230).

Após algumas desavenças com membros desta espécie, Saramago chegou a ter medo de cães. Porém, acabaria por abrir as portas de sua casa a Pepe, Greta e Camões e a dedicar parte do seu "trabalho de escritor a criar, a inventar, a modelar figuras de cão, como se, já que temia os outros, estivesse na sua mão corrigir os erros da natureza» (Saramago, 2012). E assim nasceram, por exemplo, Achado que faz parte do livro Caverna (2000), «Constante de Levantado do chão, o cão do fio de lã azul da Jangada de pedra» e «um cão em que palpitava o coração do melhor dos humanos": o Cão das Lágrimas (Saramago, 2012).

No romance Ensaio sobre a lucidez (2004) o "cão compassivo" (Saramago, 2017: 295) de Ensaio sobre a cegueira assume igualmente o nome Constante. Talvez porque a sua função de apagar lágrimas será novamente requisitada, esta personagem acaba, contudo, por manter o epíteto "cão das lágrimas". Em Ensaio sobre a cegueira, o narrador advertiu que "o mal deste cão foi ter-se chegado tanto aos humanos" e que, por isso, "vai acabar por sofrer como eles" (Saramago, 1995: 295). Tal como todas as outras personagens, também ele será vítima da crueldade e irracionalidade humanas.

Ao sorver as lágrimas de um rosto, o cão das lágrimas parece tentar subtrair o sofrimento do seu hospedeiro. De facto, sempre que a dor sentida pela mulher do médico atinge um nível insuportável, o Cão das Lágrimas projeta um uivo dilacerante. Em Ensaio sobre a lucidez, onde a população é ameaçada por uma nova epidemia (desta vez do voto em branco), este uivo adquire um sentido particular. Neste ensaio, o Cão das Lágrimas não terá afinal lágrimas para secar. A epígrafe "Uivemos, disse o cão" é um grito definitivo de indignação contra um sistema político corrompido que, ao invés de servir os cidadãos, aciona todos os seus mecanismos para manter o statu quo. Para Saramago, "os cães somos nós. É hora de começar a uivar" (Saramago e Machado, 2004).

O Cão das Lágrimas surge em Blindness, realizado por Fernando Meirelles (2008), com Julianne Moore no papel de Mulher do Médico.''´


Texto aqui.

 

Referências

MEIRELLES, Fernando (dir.) (2008). Blindness. Rhombus Media: Japão, Brasil e Canadá.

SARAMAGO, José (1995). Ensaio sobre a cegueira. Lisboa: Caminho.

____ (2012). "Entra, encontraste a tua casa", disponível em https://caderno.josesaramago.org/158715.html (consultado em 09/01/2020)

____ (2017). Ensaio sobre a lucidez. Lisboa: Caminho.

SARAMAGO, José e Cassiano Elek MACHADO (2004). "José Saramago combate “cegueira” com votos em branco", disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ folha/ilustrada/ult90u42623.shtml (consultado a 9/01/2020).

SARAMAGO, José et al. (2008). "Entrevista de José Saramago ao jornal Público e à Rádio Renascença", disponível em https://www.josesaramago.org/entrevista-de-jose-saramago-ao-jornal-publico-e-a-radio-renascenca/ (consultado a 09/01/2020).

este país dói-me

“Este país (Portugal) preocupa-me, este país dói-me. E aflige-me a apatia, aflige-me a indiferença, aflige-me o egoísmo profundo em que esta sociedade vive. De vez em quando, como somos um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa.” 

José Saramago
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