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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

«Tu sabes, basta um pouco de chuva
          para reverdecer a erva dos caminhos.»


Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 170

Na montanha

Das águas do Jing emergem rochas brancas,
       num céu gélido revolteiam folhas púrpura.
Não choveu nos caminhos da montanha,
       mas minha cabaia humedecida pelo azul do vazio.



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 167

Adeus à Primavera

Os dias cada vez mais vazios, eu envelhecendo,
        mas todos os anos trazem de volta a Primavera.
Meus pequenos prazeres numa taça de vinho,
        para quê lamentar o esvoaçar das flores.



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 153

Adeus

Desces do cavalo, encho-te a taça de vinho,
        peço-te notícias, não pareces feliz.
''Estou de regresso, vou descansar nos montes do Sul.''
        Podes partir, não faço mais perguntas.
Nas montanhas, nuvens brancas ao encontro do céu.



_________________
O interlocutor do poeta é, segundo alguns comentadores chineses,
o também poeta e mandarim Meng Haoran (690-740) que, caído em
desgraça, procura a paz, a liberdade, nas montanhas, entre nuvens e céu.
Wang Wei sabe. Quem depende dos homens está sujeito a mil mudanças,
quem depende da Natureza é eterno.



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 137

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Crepúsculo outonal na montanha

Depois da chuva, na montanha vazia,
          a frescura do entardecer anunciando o Outono.
Os pinheiros filtrando raios de luar,
          um arroio de cristal brincando sobre as pedras.
Os bambus sussurrando, as lavadeiras regressando,
          os lótus ondulando, a barca do pescador oscilando.
Pouco a pouco esvai-se o perfume da Primavera.
          Sim, como conservá-lo?


__________________________
Os pinheiros, verdes todo o ano, as pedras, imutáveis, evocam a permanência,
a longevidade, enquanto o luar e as águas a correr simbolizam a imaterialidade
das coisas. Em Wang Wei tudo se entrelaça.




Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 135
Como pesa, no corpo, a mais leve de todas as sedas!


Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 125

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Na primavera, pensamentos da mulher sozinha

Dói muito olhar a chuva, caindo como rolos de seda,
         a saudade cresce quando o vento da Primavera rasga o
                                                                                    [céu.

Caem flores sobre a terra coberta de musgo,
          dia após dia, ninguém me vem visitar.



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 117

Partindo de madrugada para o desfiladeiro de Ba

De madrugada, com restos de Primavera,
          deixo a capital, rumo ao desfiladeiro de Ba.
Uma mulher lava roupa nas águas limpas do rio,
          os pássaros chilreiam ao sol da manhã.
Sobre as águas, faz-se o comércio nos barcos,
          há pontes suspensas do topo das árvores.
Subo a um monte, emergem cem aldeias,
           lá longe, dois rios brilham como prata.
As pessoas falam estranhos dialectos,
           mas os pintassilgos cantam, como na minha terra.
Sou capaz de reconhecer a paisagem,
           minha tristeza se atenua.




Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 107

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

«Sinto saudades do meu amigo, em viagem,
          ergo a taça, não sou capaz de beber.»



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 91
«Não, não sou ainda um velho,
           ao meu coração compraz a vida de ermita.»



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 90

VI

Após a chuva da noite, os botões da flor de pessegueiro
        aveludadamente rosa,
com a névoa da manhã, os rebentos de salgueiro
        intensamente verdes.
Os criados não varreram o tapete de pétalas caídas,
        os rouxinóis cantam, o homem da montanha dorme ain-
                                                                                       [da.



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 71

A lua sobre o rio do Leste

A lua sai de dentro da montanha,
      eleva-se, devagar, sobre o portão da casa.
Mil árvores perfuram a humidade do céu,
      nuvens negras voam no espaço.
De súbito, o luar embranquece a floresta,
     a terra respira no orvalho frio.
Águas de Outono cantam nas cascatas,
     uma névoa azul paira sobre as rochas,
sombras partidas abraçam cumes vazios.
     Como num sonho, tudo é transparente, puro.
De pé, à janela, diante do rio.
     de madrugada, sonolento, sem pensar.



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 63
«Invisíveis as gentes do lugar,
         a névoa principia aos pés da minha cama.»



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 62

Em Qizhou, adeus a Zu, o Terceiro

No reencontro, apenas o tempo de um sorriso,
            logo depois, na despedida, lágrimas nos olhos.
As salas tristes, amarga, deserta a cidade,
           frio o céu, distantes, puras, as montanhas.
Cai a tarde, correm as águas do grande rio.
         A tua barca parte, de velas enfunadas,
eu, de pé, na margem, os meus olhos em ti,
        um longo momento.



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 59
«Se um dia me sorrir a ventura do regresso,
         ficará a tristeza, os cabelos embranquecidos pelos anos.»



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 57

Meditando no Outono

No alpendre, um vento gelado
         atravessa a minha roupa fina.
É noite, ressoam os últimos tambores,
         goteja a água na clepsidra de jade.
A lua atravessa a Via Láctea,
         embebeda-a de luz.
Uma pega salta de uma árvore de Outono,
        uma chuva de folhas cai.



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 56
«Não me vou perder quando um dia aqui voltar,
          acordarei ao nascer da aurora, subirei a montanha.»



Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 53

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A senhora Xi

As boas graças do presente
         não fazem esquecer os anos do passado.
Os olhos cheios de lágrimas,
        jamais disse uma palavra ao príncipe de Chu.



___________________

Este jueju, apenas vinte caracteres, necessita, ao bom modo dos comentado-
res chineses, de uma longa explicação.
Terá sido composto em circunstâncias muito particulares, por ordem do príncipe
Ning, irmão do imperador Xuanzong.
O príncipe, apesar de possuir já dez mulheres no seu serralho, cobiçou a esposa
bonita de um pasteleiro da cidade e acabou por fazer dela sua concubina, recom-
pensando o homem com umas tantas moedas de prata. Um ano mais tarde,
perguntou à agora sua concubina favorita se ela ainda recordava o antigo marido.
Como sempre, a mulher não falou e o príncipe deu ordens para trazerem o padei-
ro à presença de ambos. A concubina, ao olhar o marido, começou a chorar.
O príncipe Ning pediu então aos poetas presentes na corte que compusessem
um poema sobre o sucedido. Wang Wei  tinha 20 anos e improvisou este jueju.
No entanto, ao referir o príncipe de Chu, recordava uma outra história.
Em 680 a.c., o príncipe de Chu derrotou o príncipe de Xi e ficou com a esposa
deste último. A mulher deu-lhe dois filhos, mas jamais pronunciou uma só palavra
na presença do novo senhor. Um dia explicou porquê: ' Eu, pobre de mim, fui
condenada a servir dois amos. Incapaz de encontrar a morte, que posso então
dizer?''
Com este poema, ao recordar uma história esquecida, Wang Wei impressionou
de tal modo o príncipe Ning, e a corte, que a mulher do pasteleiro foi entregue
ao seu primeiro marido.





Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 48

Subindo à torre da muralha de Hebei

Na aldeia, sobre a falésia de Fu,
        o pavilhão dos viajantes, entre bruma e nuvens.
Do alto da muralha, contemplo o sol poente,
        o rio distante espelha as montanhas verdes.
Nas águas, uma luz brilha em barca solitária,
        anoitece, pescadores e aves, de regresso.
Adormecem os espaços do céu e da terra
        e meu coração em paz, como o grande rio.




Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 47

Canções de uma noite de Outono

I


Na longa noite, gota a gota, cai a água na clepsidra,
       as nuvens finas, dispersas, deixam passar o luar.
Escondidos, os insectos de Outono inundam de canções o ar.
      Não chegou ainda a roupa de Inverno, oxalá a geada não
                                                                       [comece a cair.

II

Brilhante a acácia na lua, suave o orvalho de Outono,
      ela não despiu a túnica de seda leve.
Rasga a noite, dedilhando a lira de prata,
     perturbada, não deseja o regresso ao quarto vazio.




Clássicos Chineses. Poemas de Wang Wei. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Instituto Cultural de Macau, 1993, p. 37
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