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domingo, 16 de maio de 2021

 ''O escritor pode, apenas, processar o real através do seu corpo e dar-lhe a forma de ficção, ou pensamento, poema ou crónica, para o entregar, como quem estende a mão”

Hélia Correia

Hélia Correia: “sem palavras voltamos para a pré-história”

sexta-feira, 10 de julho de 2015


HÉLIA CORREIA
in 'Montedemo', Lisboa, Ulmeiro, 1983

sábado, 27 de julho de 2013

ETRA (reflectindo) - Talvez haja momentos em que as coisas se soltam da mentira,  como os frutos se desprendem do ramos que os sustinha.  E vão rolando até ao sol, no meio da estrada, sob os olhares de todos. E não há nisso acção  de deuses nem de humanos, mas tão-só a passagem da própria natureza. E uma vez caído o fruto, nunca mais ninguém conseguirá uni-lo à árvore. (Para Helena) A partir do instante em que eu to diga, tudo será diferente. Queres saber?



Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 80/1

ETRA - A vingança não quer o sofrimento. Quer a humilhação. Eu humilhei-me.



Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 78
«(...) Nunca um filho amou tanto a sua mãe como Orestes naquele momento em que a matou.»


Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 71

segunda-feira, 22 de julho de 2013

''escorregando na maciez do sangue''

«HELENA - Chega! Mas como tu és cansativo! Que cansativos se tornaram todos os homens desta terra, desde os reis ao mais enlouquecido vagabundo! A falta que lhes faz a guerra! O mais parecido que agora acharam para se entreterem é insultarem as mulheres!»



Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 64/5
«ORESTES - É um grito que o tempo, por si só, nunca terá poder para apagar. É o grito do homem que morre atraiçoado pela própria mulher. O que se houve em Micenas não é a dor da carne que a faca dilacera. É a do coração. E essa perdura. Como se o ar em volta da cidade fosse de bronze e o grito não achasse saída. Embate às cegas, fere-se, recua, e atravessa os ouvidos de cada cidadão.»




Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 63

domingo, 21 de julho de 2013

«ETRA (com malícia) - Vê como falas. Mesmo que isso seja verdade, é uma das verdades que nunca se declaram. Não podia viver-se num mundo em que as palavras não passassem primeiro pelo crivo do bom senso.»


Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 55

Somente as inocentes enlouquecem.

« HELENA (insistindo) - Veio agarrado a mim todo este sangue, escorreu-me pelas pernas à medida que eu ia caminhando. Olha ali, olha, a marca de uma sandália minha. Está o meu rasto a sangue em toda a parte.

ETRA - Estás a ver tanto sangue como eu. Helena, pára.  Só estou eu aqui. Já não caio nessa história há muito tempo.

HELENA  (parando, olha para Etra como uma criança) - O sangue está em toda a parte. Em toda a parte. Nunca mais deixa de escorrer por mim abaixo.

ETRA - Ela e as suas grandes atitudes! Imitas muito bem as loucas, querida. Mas não conseguirás enlouquecer. Somente as inocentes enlouquecem. (Tira-lhe o balde com violência)



Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 48
(...) Pirro agride e domina Helena, numa ambiguidade de intenções

PIRRO - O meu pai! O meu pai não é para aqui chamado. Julgas que não se sabe que também ele te desejou que nem um doido?  Tu porque não o aceitaste, tu, que dormiste com todo o cão vadio?

HELENA - Deixa-me. Que queres tu? Fazer-me medo? Se é o medo que tu amas, nunca, mas nunca, ouviste? o verás  nos meus olhos.»



Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 46
« HELENA (rindo) - Que bebedeira, que exagero, ó deuses! A falta que lhe fez a mão da mãe assente a tempo próprio no focinho.»


Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 38

«MENELAU - (...) O meu genro tem lá o seu feitio, já o pai era assim. Só estava bem, zangado.»


Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 24
(...)

«HELENA - Eu tinha de fazer qualquer coisa...

HERMÍONE - Estraçalhar maridos é um bom passatempo.

PIRRO - Minha mulher Hermíone tem carácter. Sai à mãe.

ETRA - Se é carácter andar de uma cama para a outra...

HELENA - Que dizes?

ETRA - Nada, Helena. Orava aos deuses. Para que entre nós a paz não seja breve e esta doméstica alegria se prolongue pelos restantes dias da nossa vida.»



Hélia Correia. O Rancor. Exercício sobre Helena. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2000., p. 23
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