sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

«(...)

Noite...
(apetece-me repetir o teu nome)
alagaram a cidade com mistério
- que brutos! que brutos os deuses!,
sinto mãos viscosas, aranhiços
a bajularem-me os braços,
andam fantasmas à solta, pelas ruas,
ossos de uma brisa
de voz cava.

É noite.
Quem saberá distinguir
o teu e o meu grito,
a febre e o arrepio,
as carícias e os punhais?

Noite.
Nesta rua onde me deslasso,
filósofo estremunhado,
há uma luz baça
que, ébria, tropeça
na calçada.

(...)»



Fernando Namora. As Frias Madrugadas. Publicações Europa-América, 4ª ed, Lisboa, 1971., p.28
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