domingo, 27 de fevereiro de 2011

«Lembro-me de que o seu corpo, a sua atitude e os movimentos resultavam por vezes rudes. Não que ela fosse tão rude. Parecia, sobretudo, que se recolhera no interior do seu corpo, que o entregara a si mesmo e ao seu próprio ritmo pausado, indiferente a alguma ordem do cérebro, e que esquecera o mundo exterior. Foi esse mesmo esquecimento do mundo que eu vi na atitude e nos movimentos ao calçar as meias. Mas nisso não era rude, tinha gestos fluidos, graciosos, sedutores; uma sedução que não é seios e nádegas e pernas, mas sim o convite para o mundo dentro do corpo.»


Bernhard Schlink. O Leitor. Traduzido do alemão por Fátima Freire de Andrade. Edições ASA., p.12

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