Os meus ossos estão espetados no deserto, não há
um só no meu corpo que lhe escape.
Cravados todos eles na areia do deserto, uns a seguir
aos outros, alinhados.
Seria absurdo falar-se de esqueleto.
A pele foi entretanto soterrada, há quem já tenha
caminhado em cima dela, uma bandeira, quase uma coroa.
O vento apoderou-se-me das vértebras. O próprio sol
que entre elas brilha é descarnado, um sol deserto, onde
o deserto penetrou.
Talvez pudéssemos lavá-lo, este deserto, quem sabe,
ou amarrá-lo, amordaçá-lo. A pele garante o espaço, o
resto logo se veria.
Luís Miguel Nava. Prefácio de Fernando Pinto do Amaral e Org. e Posfácio de Gastão Cruz. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed. 2002., p. 160
quarta-feira, 28 de julho de 2010
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