«No terceiro dedo da mão esquerda trazia um volumoso olho de gato engastado num anel de ouro.»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 32
コカインの時間を介しての旅です
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 28
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 28
Obituário | José Dinis, o dentista da carrinha Gulbenkian que pôs várias gerações a ler (1933-2021)
''José Joaquim Cesar da Cruz Dinis, figura marcante da cultura na região na última metade do século XX, morreu no passado dia 11 de janeiro, aos 87 anos, em Coimbra, mas só hoje a sua morte foi revelada publicamente. Dentista de profissão num consultório que herdou do pai, ficou conhecido para lá das fronteiras do concelho de Abrantes, onde nasceu e viveu, por ser encarregado de uma biblioteca itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian durante mais de 30 anos.
A sua carrinha Citroën tinha o número 32 e ficou gravada na memória de várias gerações de Abrantes, Sardoal, Mação, Vila de Rei, Ponte de Sor e Gavião, que começou a visitar a partir de 1963. O percurso que fazia todos os meses por vários concelhos da região era decorado pelos miúdos e ansiado de igual forma pelos mais velhos. Quando a carrinha da Gulbenkian estacionava tinha sempre já uma fila de gente à espera. Era o mundo que chegava sobre rodas, sobretudo nos anos 60, 70 e 80, quando a televisão só tinha dois canais, a oferta cultural era escassa e os livros um bem raro na maioria das casas portuguesas.
Muita gente aprendeu a ler com os livros recomendados por José Dinis, centenas de crianças descobriram as bandas desenhadas e as histórias de aventuras que iriam moldar a sua infância, jovens namoradeiros trocaram os primeiros bilhetinhos dentro dos livros que ele passava de mão em mão, cúmplice desses amores.
José Luís Peixoto foi um dos seus fiéis “clientes” quando aprendia as primeiras letras no concelho de Ponte de Sor, onde nasceu. “Uma vez por mês, ao fim da tarde, a carrinha Citroën chegava ao terreiro de Galveias, calhava-nos as quartas-feiras. Ficava estacionada em frente da cooperativa. Depois do 25 de Abril, o clube dos ricos passou a sede da cooperativa. Quando eu chegava, vindo dos lados do São João, já havia outros rapazes e raparigas à volta da carrinha”, recordou num artigo publicado na revista Visão, em 2014. “Impressionava-me a quantidade de livros. Precisava de me esticar para chegar às prateleiras mais altas e, por isso, parecia-me que não tinham fim. O senhor Dinis conduzia a carrinha, recebia os papéis preenchidos com os códigos dos livros que requisitávamos. Levávamos sempre a quantidade máxima de livros. Líamos muito depressa os que tínhamos e, depois, íamos trocando entre nós até ao regresso da biblioteca no mês seguinte.”
O leitor tornou-se escritor, e muito por “culpa” daquele homem, que lhe aguçou a curiosidade pelas emoções que vivem escondidas em cada página. “Às vezes dou por mim a falar nisso perante uma plateia que me olha como se estivesse a dar notícias de um mundo meio real, meio imaginário”, diz Peixoto. Mas sim, a realidade mágica das bibliotecas itinerantes foi palpável durante quase 50 anos – e ainda perdura na memória de todos os que se cruzavam com elas.
A Fundação Calouste Gulbenkian criou o programa em 1958, para “promover e desenvolver o gosto pela leitura e elevar o nível cultural dos cidadãos, assentando a sua prática no princípio do livre acesso às estantes, empréstimo domiciliário e gratuitidade do serviço”. Poetas como Herberto Hélder e Alexandre O’Neill trabalharam nas bibliotecas itinerantes enquanto jovens – o nível de cultura exigido aos encarregados era bastante elevado, e muitos recordam precisamente a imensa cultura de José Dinis, que tinha sempre resposta pronta para as muitas perguntas que lhe faziam (quase como se fosse um “petite Larousse”).
Depois da Gulbenkian ter terminado este projeto em 2002, surgiram outras bibliotecas itinerantes, como projetos municipais. A sua missão estava longe de estar cumprida, como prova por exemplo a Bibliomóvel de Proença-a-Nova, que acaba de vencer o prémio de Boas Práticas Públicas da Direção-Geral de Arquivos e Bibliotecas.
Carismático e sempre gentil, é como muitos o recordam. Ninguém se sentia menorizado perante as prateleiras da sua pequena-grande biblioteca, e todos respeitavam o livro emprestado de forma quase reverencial, manuseando-os com cuidado para os poder devolver sem qualquer estrago adicional.
“Os livros saíam como pão quente, e qual milagre da multiplicação dos pães, voltavam intactos como se não tivessem sido comidos. Os livros saíam e entravam, e isso era o nascimento, o sangue de um novo Portugal, amassado com um fermento, a curiosidade.” Quem o diz é José Tavares, médico abrantino que entrevistou José Dinis por diversas vezes, ao longo dos anos, para escrever um livro que fixasse a memória que aquele homem tinha das gentes e das terras por onde passou. A obra “A Biblioteca Ambulante” recebeu uma menção honrosa no Prémio Literário do Médio Tejo em 2017, na categoria de não-ficção, mas a edição é garantida apenas ao primeiro classificado – no caso, “O Arneiro, 100 anos depois da guerra”, um ensaio fotográfico de Paulo Jorge de Sousa –, tendo havido posteriores tentativas de avançar com a publicação, travadas entretanto pela chegada da pandemia de covid-19.
“Não seria maravilhoso o mundo se as bibliotecas fossem mais importantes do que os bancos?”, perguntou um dia Felipe à revolucionária Mafalda desenhada por Quino. Sim, seria. Nesse mundo haveria livros sem fim, e filas de gente a encher de vida as livrarias e as bibliotecas, sempre com um José Dinis à porta, a sorrir-nos e a dar-nos um bom conselho.
“O Sr. Dinis representou para mim a primeira ideia do que era um sábio. Ele conhecia os autores e até as personagens de todos os livros no ventre mágico da carrinha. As leituras que me recomendou ampliaram o meu mundo e acabaram-me com muitos medos. Na verdade, sem elas eu não era o mesmo.”
Francisco Lopes, diretor da Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes
“Passados estes anos, acho que a primeira pessoa sábia e muito culta que conheci nesta terra que piso [Abrantes] foi o senhor José Dinis, quando a seguir a 74 nos levava os livros a trote numa biblioteca itinerante da Gulbenkian. Parava ali em Santo António e tinha leituras para sugerir a todos os meninos e meninas que acorriam à carrinha dos livros uma vez por semana. Ainda não tínhamos consciência de que a liberdade estava a passar por ali e muitos de nós só conhecíamos os livros da escola. O senhor Dinis nunca esboçava um sorriso, mas falava. Falava que se desunhava a ensinar-nos outras coisas que não aprendíamos nem na escola, nem em casa. Deu-nos mundo através dos livros que levávamos para casa.”
Fernanda Mendes, técnica de comunicação na Câmara Municipal de Abrantes
“Até sempre, GRANDE ZÉ DINIS! Quando me juntar a ti já nao vou ter vergonha de te pedir livros para levar para casa, do teu enorme CITROEN, em Cardigos, de onde me lembro de ti. OBRIGADO pela tua grande INSATISFAÇÃO. Pegou-se, fica descansado.”
António Colaço, artista plástico, ex-assessor de imprensa do grupo parlamentar do Partido Socialista''
You should have heard me in the lounger
Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 59
Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 42
Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 39
Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 39
Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 37
Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 36
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Júlio Machado Vaz
Encontrar o caminho ético, o fio da eticidade do autor e, porventura, dizer qual a sua compleição e estrutura ética, em Eternidade, é nosso desafio. O pensamento intuitivo de Ferreira de Castro antecipa aquilo que a ciência iria mostrar como verdade. A sua atenção para desconcerto social em Eternidade é o grito da vida, enquanto existência e o grito humano, enquanto comportamento. Ao falar de morte, contrariamente àquilo que pudemos pensar – que a morte está à nossa frente –, vemos, nesta obra, que na verdade grande parte da nossa morte está atrás de nós, porque toda a existência que deixamos para trás pertence já à eternidade. Eternidade é, na sua essência, um grito bioético, porque é um grito pela vida, sempre.
Azulejos da cidade,
numa parede ou num banco,Lá vai no Mar da Palha o Cacilheiro,
comboio de Lisboa sobre a água:Agarro a madrugada
como se fosse uma criança,
Canoa de vela erguida,
Que vens do Cais da Ribeira,
Gaivota, que andas perdida,
Sem encontrar companheira
O vento sopra nas fragas,
O Sol parece um morango,
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango
Canoa,
Conheces bem
Quando há norte pela proa,
Quantas docas tem Lisboa,
E as muralhas que ela tem
Canoa,
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa,
Nunca mais voltas ao cais,
Nunca, nunca, nunca mais
Canoa de vela panda,
Que vens da boca da barra,
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra
Teu arrais prendeu a vela,
E se adormeceu, deixa-lo
Agora muita cautela,
Não vá o mar acordá-lo
Canoa,
Conheces bem
Quando há norte pela proa,
Quantas docas tem Lisboa,
E as muralhas que ela tem
Canoa,
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa,
Nunca mais voltas ao cais,
Nunca, nunca, nunca mais
(Frederico de Brito)
«E se os seus passos não eram todos de igual comprimento, quem diria que isso era devido a que outrora se esforçava por nunca pisar a sombra de sua mãe quando caminhavam juntos?»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 21
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 21
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 21
« - Tu não me falas agora, Mary, minha querida. És uma das filhas de Jerusalém? Não chores por mim. Guarda as lágrimas para ti e para os teus filhos...Porque, se estas coisas acontecem numa árvore verde, que seria numa árvore seca? »
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 20«E era por volta da sexta-hora...isto é, à volta do meio-dia... e as trevas estenderam-se sobre a Terra até à nona hora. E o Sol escureceu. Porque me lembro eu disto agora? Meu Deus, muito tempo demorou Ele a morrer - uma medonha eternidade.»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 13