sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Beco das Forçadas

SÓLIDO, LÍQUIDO, GASOSO

sólido líquido gasoso
Eva ângelo


Este objeto artístico parte dos registos vídeo e áudio realizados para as instalações apresentadas em LU.GAR.OCULTO [2018], neste caso, # 1 "Ilusões de futuro, pesadelos do presente" e # 2 "Memórias das águas", alem do uso dos arquivos realizados em 2018 prevêem-se ainda novas recolhas de som, foley's a ser produzidos no decurso deste trabalho, agora centrado na montagem. Partindo do tema "água", dos conhecimentos da natureza e memoria dos lugares este trabalho propõe, essencialmente, uma experiência imersiva e sensorial a partir do vídeo numa abordagem formal exploratória em torno da ideia dos "estados da matéria" procurando para além das "forças de coesão" sugeridas pelas formas e escuta atenta, o resgate da "memória" e "consciência ecológica", discussões/experiências que ambas instalações já propunham.


Imagem, realização e montagem
Eva Ventura Ângelo

Som adicional e música
Ana Maria Ktupenski

''memória insepulta''

''A velocidade com que vivemos impede-nos de viver'

O Aqui e o Agora

''Passamos pelas coisas sem as habitar, falamos com os outros sem os ouvir, juntamos informação que nunca chegamos a aprofundar. Tudo transita num galope ruidoso, veemente e efémero. Na verdade, a velocidade com que vivemos impede-nos de viver. Uma alternativa será resgatar a nossa relação com o tempo. Por tentativas, por pequenos passos. Ora isso não acontece sem um abrandamento interno. Precisamente porque a pressão de decidir é enorme, necessitamos de uma lentidão que nos proteja das precipitações mecânicas, dos gestos cegamente compulsivos, das palavras repetidas e banais.
Precisamente porque temos de nos desdobrar e multiplicar, necessitamos de reaprender o aqui e o agora da presença, de reaprender o inteiro, o intacto, o concentrado, o atento e o uno. Mesmo tendo perdido o estatuto nas nossas sociedades modernas e ocidentais, a lentidão continua a ser um antídoto contra a rasura normalizadora. A lentidão ensaia uma fuga ao quadriculado; ousa transcender o meramente funcional e utilitário; escolhe mais vezes conviver com a vida silenciosa; anota os pequenos tráficos de sentido, as trocas de sabor e as suas fascinantes minúcias, o manuseamento diversificado e tão íntimo.''

José Tolentino Mendonça, in 'O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas'
''É que não se envelhece para morrer. Penso no modo extraordinário e preciso como o livro do Génesis descreve a caminhada do patriarca Abraão. “Abraão expirou... velho e saciado de dias” (Gen 25:8). Sim, não se envelhece para morrer. Envelhecemos para nos saciarmos de vida e desse modo sentir que, mesmo escassa ou vacilante, a vida é o milagre mais espantoso, mais indescritível e pródigo que nos tocou em sorte. Com razão, James Hilmann escreveu: “Envelhecendo eu revelo o meu carácter, não a minha morte.” A velhice é um laboratório de vida presente e não só passada, uma escola onde se aprofunda o significado da esperança e do amor. Quando estes sentimentos, despidos já das contaminações do cálculo, distantes do enganador afã dos objetivos que lhe colocámos, revelam finalmente a sua natureza. O que é o amor em si, o que é a esperança sem mais — os velhos sabem-no melhor.''

José Tolentino Mendonça


 

Cidade pós-narrativa

 '' A causa e o propósito''

Vítor Cotovio



 '' a dialéctica entre o mel e o fel''

Vítor Cotovio

 A Senhora Língua

turpilóquio

bardolatria

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

The Hill We Climb: the Amanda Gorman poem that stole the inauguration show.


“The Hill We Climb”
Amanda Gorman

''When day comes we ask ourselves, where can we find light in this never-ending shade? The loss we carry, a sea we must wade. We’ve braved the belly of the beast, we’ve learned that quiet isn’t always peace and the norms and notions of what just is, isn’t always justice. And yet the dawn is ours before we knew it, somehow we do it, somehow we’ve weathered and witnessed a nation that isn’t broken but simply unfinished.

We, the successors of a country and a time where a skinny black girl descended from slaves and raised by a single mother can dream of becoming president only to find herself reciting for one. And, yes, we are far from polished, far from pristine, but that doesn’t mean we are striving to form a union that is perfect, we are striving to forge a union with purpose, to compose a country committed to all cultures, colors, characters and conditions of man.

So we lift our gazes not to what stands between us, but what stands before us. We close the divide because we know to put our future first, we must first put our differences aside. We lay down our arms so we can reach out our arms to one another, we seek harm to none and harmony for all.

Let the globe, if nothing else, say this is true: that even as we grieved, we grew, even as we hurt, we hoped, that even as we tired, we tried, that we’ll forever be tied together victorious, not because we will never again know defeat but because we will never again sow division.

Scripture tells us to envision that everyone shall sit under their own vine and fig tree and no one should make them afraid. If we’re to live up to our own time, then victory won’t lie in the blade, but in in all of the bridges we’ve made.

That is the promise to glade, the hill we climb if only we dare it because being American is more than a pride we inherit, it’s the past we step into and how we repair it. We’ve seen a force that would shatter our nation rather than share it. That would destroy our country if it meant delaying democracy, and this effort very nearly succeeded. But while democracy can periodically be delayed, but it can never be permanently defeated.

In this truth, in this faith, we trust, for while we have our eyes on the future, history has its eyes on us, this is the era of just redemption we feared in its inception we did not feel prepared to be the heirs of such a terrifying hour but within it we found the power to author a new chapter, to offer hope and laughter to ourselves, so while once we asked how can we possibly prevail over catastrophe, now we assert how could catastrophe possibly prevail over us.

We will not march back to what was but move to what shall be, a country that is bruised but whole, benevolent but bold, fierce and free, we will not be turned around or interrupted by intimidation because we know our inaction and inertia will be the inheritance of the next generation, our blunders become their burden. But one thing is certain: if we merge mercy with might and might with right, then love becomes our legacy and change our children’s birthright.

So let us leave behind a country better than the one we were left, with every breath from my bronze, pounded chest, we will raise this wounded world into a wondrous one, we will rise from the golden hills of the West, we will rise from the windswept Northeast where our forefathers first realized revolution, we will rise from the lake-rimmed cities of the Midwestern states, we will rise from the sunbaked South, we will rebuild, reconcile, and recover in every known nook of our nation in every corner called our country our people diverse and beautiful will emerge battered and beautiful, when the day comes we step out of the shade aflame and unafraid, the new dawn blooms as we free it, for there is always light if only we’re brave enough to see it, if only we’re brave enough to be it.''

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

xurreira

''mata de sicómoros''

 Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 5


 

''sombrio desgosto''

 Selma Lagerlöf. O Livro das Lendas. Tradução de Pepita de Leitão. Livros do Brasil, Lisboa., p. 17

A RAPARIGA DO BREJO GRANDE

 Selma Lagerlöf. O Livro das Lendas. Tradução de Pepita de Leitão. Livros do Brasil, Lisboa., p. 17

Ela diz que não sonha.

« Ela diz que não sonha. Mas, no entanto, deve sonhar. O que sucede é que os sonhos não a perturbam, ou então perturbam-na de tal maneira que os esquece antes de acordar. Gosta de dormir, e o sono faz-lhe bem. Queria ser como ela. Luto contra o sono e  desejo-o com ânsia.»

 John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 47

sacrossantos

tau.ma.tur.go

« - O Senhor-Sabe-Tudo não pensa senão numa coisa: esmagar as pessoas.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 42

Fontaines D.C. - Oh Such a Spring

 Down by the docks

The weather was fine
The sailors were drinking American wine
And I wished I could go back to spring again
Now they're all gone
That's life moving on
Some stay behind to get drunk on the sun
They wish they could go back to spring again
Oh, such a spring
Oh, such a spring
Oh, such a spring
The noise of the town
The salt in the air
It plays all around
But I no longer care
And I wish I could go back to spring again
Oh, such a spring
Oh, such a spring
Oh, such a spring
They try words
And down through the years
It all turns to tears
They don't know
But they try anyway
The clouds cleared up
The sun hit the sky
I watched all the folks go to work
Just to die
And I wished I could go back to spring again
Compositores: Grian Alexander Chatten / Carlos Ramos O'Connell / Conor Patrick Deegan / Conor Patrick Curley / Thomas Patrick Coll


 The bride: Lana Del Rey

The video: “Ultraviolence,” 2014

Panchão

''Um panchão é um cartucho de pólvora, revestido por papel vermelho. É um elemento típico da China, sendo tradicionalmente queimado para cumprir um dos rituais do Ano Novo Chinês.''

 « - O dia está sombrio.

- Não. As cortinas é que estão caídas.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 34

Nightshade Flower

Deadly nightshade

 (Atropa belladonna)

 «No terceiro dedo da mão esquerda trazia um volumoso olho de gato engastado num anel de ouro.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 32

´
Fotografia Bárbara Fonte

 

«Quando um homem se casa, está arrumado.»

 John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 28

''claridade azul, fantasmagórica''

 John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 28

fantasistas

 « E, depois de terem troçado d'Ele, tiraram-lhe a túnica e arrastaram-n'O para pô-lo na cruz.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 27

rapariguinhas

 «Ela era uma devastadora, uma caçadora, uma Artemisa para tudo quanto fosse calças. O velho capitão Hawley teria dito que ela tinha um «olhar vadio».

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 25


 

Lana Del Rey - Chemtrails Over The Country Club

 Obituário | José Dinis, o dentista da carrinha Gulbenkian que pôs várias gerações a ler (1933-2021)


''José Joaquim Cesar da Cruz Dinis, figura marcante da cultura na região na última metade do século XX, morreu no passado dia 11 de janeiro, aos 87 anos, em Coimbra, mas só hoje a sua morte foi revelada publicamente. Dentista de profissão num consultório que herdou do pai, ficou conhecido para lá das fronteiras do concelho de Abrantes, onde nasceu e viveu, por ser encarregado de uma biblioteca itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian durante mais de 30 anos.

A sua carrinha Citroën tinha o número 32 e ficou gravada na memória de várias gerações de Abrantes, Sardoal, Mação, Vila de Rei, Ponte de Sor e Gavião, que começou a visitar a partir de 1963. O percurso que fazia todos os meses por vários concelhos da região era decorado pelos miúdos e ansiado de igual forma pelos mais velhos. Quando a carrinha da Gulbenkian estacionava tinha sempre já uma fila de gente à espera. Era o mundo que chegava sobre rodas, sobretudo nos anos 60, 70 e 80, quando a televisão só tinha dois canais, a oferta cultural era escassa e os livros um bem raro na maioria das casas portuguesas.

Muita gente aprendeu a ler com os livros recomendados por José Dinis, centenas de crianças descobriram as bandas desenhadas e as histórias de aventuras que iriam moldar a sua infância, jovens namoradeiros trocaram os primeiros bilhetinhos dentro dos livros que ele passava de mão em mão, cúmplice desses amores.

José Luís Peixoto foi um dos seus fiéis “clientes” quando aprendia as primeiras letras no concelho de Ponte de Sor, onde nasceu. “Uma vez por mês, ao fim da tarde, a carrinha Citroën chegava ao terreiro de Galveias, calhava-nos as quartas-feiras. Ficava estacionada em frente da cooperativa. Depois do 25 de Abril, o clube dos ricos passou a sede da cooperativa. Quando eu chegava, vindo dos lados do São João, já havia outros rapazes e raparigas à volta da carrinha”, recordou num artigo publicado na revista Visão, em 2014. “Impressionava-me a quantidade de livros. Precisava de me esticar para chegar às prateleiras mais altas e, por isso, parecia-me que não tinham fim. O senhor Dinis conduzia a carrinha, recebia os papéis preenchidos com os códigos dos livros que requisitávamos. Levávamos sempre a quantidade máxima de livros. Líamos muito depressa os que tínhamos e, depois, íamos trocando entre nós até ao regresso da biblioteca no mês seguinte.”

O leitor tornou-se escritor, e muito por “culpa” daquele homem, que lhe aguçou a curiosidade pelas emoções que vivem escondidas em cada página. “Às vezes dou por mim a falar nisso perante uma plateia que me olha como se estivesse a dar notícias de um mundo meio real, meio imaginário”, diz Peixoto. Mas sim, a realidade mágica das bibliotecas itinerantes foi palpável durante quase 50 anos – e ainda perdura na memória de todos os que se cruzavam com elas.

A Fundação Calouste Gulbenkian criou o programa em 1958, para “promover e desenvolver o gosto pela leitura e elevar o nível cultural dos cidadãos, assentando a sua prática no princípio do livre acesso às estantes, empréstimo domiciliário e gratuitidade do serviço”. Poetas como Herberto Hélder e Alexandre O’Neill trabalharam nas bibliotecas itinerantes enquanto jovens – o nível de cultura exigido aos encarregados era bastante elevado, e muitos recordam precisamente a imensa cultura de José Dinis, que tinha sempre resposta pronta para as muitas perguntas que lhe faziam (quase como se fosse um “petite Larousse”).

Depois da Gulbenkian ter terminado este projeto em 2002, surgiram outras bibliotecas itinerantes, como projetos municipais. A sua missão estava longe de estar cumprida, como prova por exemplo a Bibliomóvel de Proença-a-Nova, que acaba de vencer o prémio de Boas Práticas Públicas da Direção-Geral de Arquivos e Bibliotecas.

Créditos: Arquivo Gulbenkian

Carismático e sempre gentil, é como muitos o recordam. Ninguém se sentia menorizado perante as prateleiras da sua pequena-grande biblioteca, e todos respeitavam o livro emprestado de forma quase reverencial, manuseando-os com cuidado para os poder devolver sem qualquer estrago adicional.

“Os livros saíam como pão quente, e qual milagre da multiplicação dos pães, voltavam intactos como se não tivessem sido comidos. Os livros saíam e entravam, e isso era o nascimento, o sangue de um novo Portugal, amassado com um fermento, a curiosidade.” Quem o diz é José Tavares, médico abrantino que entrevistou José Dinis por diversas vezes, ao longo dos anos, para escrever um livro que fixasse a memória que aquele homem tinha das gentes e das terras por onde passou. A obra “A Biblioteca Ambulante” recebeu uma menção honrosa no Prémio Literário do Médio Tejo em 2017, na categoria de não-ficção, mas a edição é garantida apenas ao primeiro classificado – no caso, “O Arneiro, 100 anos depois da guerra”, um ensaio fotográfico de Paulo Jorge de Sousa –, tendo havido posteriores tentativas de avançar com a publicação, travadas entretanto pela chegada da pandemia de covid-19.

“Não seria maravilhoso o mundo se as bibliotecas fossem mais importantes do que os bancos?”, perguntou um dia Felipe à revolucionária Mafalda desenhada por Quino. Sim, seria. Nesse mundo haveria livros sem fim, e filas de gente a encher de vida as livrarias e as bibliotecas, sempre com um José Dinis à porta, a sorrir-nos e a dar-nos um bom conselho.

“O Sr. Dinis representou para mim a primeira ideia do que era um sábio. Ele conhecia os autores e até as personagens de todos os livros no ventre mágico da carrinha. As leituras que me recomendou ampliaram o meu mundo e acabaram-me com muitos medos. Na verdade, sem elas eu não era o mesmo.”
Francisco Lopes, diretor da Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes

“Passados estes anos, acho que a primeira pessoa sábia e muito culta que conheci nesta terra que piso [Abrantes] foi o senhor José Dinis, quando a seguir a 74 nos levava os livros a trote numa biblioteca itinerante da Gulbenkian. Parava ali em Santo António e tinha leituras para sugerir a todos os meninos e meninas que acorriam à carrinha dos livros uma vez por semana. Ainda não tínhamos consciência de que a liberdade estava a passar por ali e muitos de nós só conhecíamos os livros da escola. O senhor Dinis nunca esboçava um sorriso, mas falava. Falava que se desunhava a ensinar-nos outras coisas que não aprendíamos nem na escola, nem em casa. Deu-nos mundo através dos livros que levávamos para casa.”
Fernanda Mendes, técnica de comunicação na Câmara Municipal de Abrantes

“Até sempre, GRANDE ZÉ DINIS! Quando me juntar a ti já nao vou ter vergonha de te pedir livros para levar para casa, do teu enorme CITROEN, em Cardigos, de onde me lembro de ti. OBRIGADO pela tua grande INSATISFAÇÃO. Pegou-se, fica descansado.”
António Colaço, artista plástico, ex-assessor de imprensa do grupo parlamentar do Partido Socialista''

Fonte

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

rábulas

 

genetliologia

ge.ne.tli.o.lo.gi.a
ʒənətljuluˈʒiɐ
nome feminino
arte de predizer o futuro pela observação dos astros

in.su.la.men.to

I Don't Belong de Fontaines D.C.

 You should have heard me in the lounger

Telling people what they was
Spitting out all types of sugar
Just dying for a cause, cause, cause
A smiler slithered to my corner
On a face so true
My word is always in the ready
And I'll attribute that to you
I don't belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't wanna belong to anyone
You should have heard him in the bowery
Learning people with a tongue
Cut from second-hand cloth
Make the women feel young
I heard him serving as a soldier
In the annexe of the earth
Threw himself before a bullet
And threw the metal to the dirt
Hear the man's word
I don't belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't wanna belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't wanna belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't belong to anyone
I don't wanna belong to anyone

Compositores: Carlos Ramos O Connell / Conor Patrick Deegan / Thomas Patrick Coll / Grian Alexander Chatten / Conor Patrick Curley

domingo, 17 de janeiro de 2021

''elucubração errante''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 59

F̲o̲ntaines D.C. - A̲ H̲ero's D̲eath

Paloma Picasso by Andy Warhol



 

O lótus de Vixnu

"as maçãs do diabo"

Mandrágora

''os redemoinhos do Devir''

 Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 42

 ''essas mentiras esculpidas nas paredes do coração''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 41

''Oráculos do vazio''

 Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 40

der.vi.xe


Thievery Corporation - Saudade (full album)

votos de pobreza e humildade

'' o monstro antropófago''

 Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 39

'' o presídio do ego''

 Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 39

''caleidoscópio emocional''

 Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 37

O Touro Branco de Poseidon

 ''...Descendências monstruosas, Quimera, Hidra, Cerbero, pobre Equidna, mãe orgulhosa...O labirinto, Dédalo, Minos, Pasiífae, Ariadne, Teseu, Minotauro, o monstro atraiçoado!''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 37

 ''O orgulho da beleza, o Eco que o persegue, Narciso esse reflexo eterno...''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 37

FONTAINES D.C. - NOX ORAE 2018 | Full Live performance HD

''o fruto proibido da ignorância''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 36

 ''O bálsamo cósmico''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 36

 

fonofobia

fo.no.fo.bi.a
fɔnɔfuˈbiɐ
nome feminino
1.
medo de falar alto
2.
medo ou aversão a determinado(s) ruído(s)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

insulação pandémica

''Tomai e recebei, as horas do meu dia
Alegrias e dores, penas e trabalhos.

Fora eu rico, Senhor, e muito Vos daria,
Mas sei que nada valho.

Que tenho eu, meu Deus, p'ra pôr sobre a patena
Que as mãos do sacerdote elevam no altar?
A não ser esta imensa, esta infinita pena,
De nada ter p'ra dar.
Com o trigo loiro deponho, na patena,
A minha vida inteira, of'reço-a no altar.
Mas ainda me fica esta infinita pena,
De nada ter p'ra dar.
Em cada hóstia, imaculada e pura,
Quantos os grãozinhos do nosso trigo loiro?
Mas, para ser hóstia, sofre sob a mó dura
Cada baguinho de oiro.''


 

insultos soezes

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Ephemera

portuguesmente

 ''Os números não reflectem estados de alma''

Isabel Saraiva

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

“Fantasia a mais, literatura a menos – mas não de somenos”

e.xor.di.ar

 fazer o exórdio deprincipiar

''encarniçamento terapêutico''

 Júlio Machado Vaz

Presentismo Vs Absentismo

'' o fio da eticidade''




 

 

sindemia

sin.de.mi.a
sĩdəˈmiɐ
nome feminino
MEDICINA, ANTROPOLOGIA processo de interação sinérgica entre duas ou mais doenças que se desenvolvem em simultâneo em indivíduos de um dado grupo populacional marcado por certas condições socioeconómicas específicas, afetando negativamente a evolução de cada uma dessas doenças

''A incerteza permanente é o eco do caos.''

''fadiga pandémica''

Júlio Machado Vaz 

O Triângulo das Bermudas da Psiquiatria

 « Ansiedade  |   Depressão | Stress Pós Traumático »

Júlio Machado Vaz

 «A depressão trata-se, a tristeza digere-se.»

Júlio Machado Vaz

 

O (des)Lugar da Ética Na Obra Eternidade de Ferreira de Castro


Encontrar o caminho ético, o fio da eticidade do autor e, porventura, dizer qual a sua compleição e estrutura ética, em Eternidade, é nosso desafio. O pensamento intuitivo de Ferreira de Castro antecipa aquilo que a ciência iria mostrar como verdade. A sua atenção para desconcerto social em Eternidade é o grito da vida, enquanto existência e o grito humano, enquanto comportamento. Ao falar de morte, contrariamente àquilo que pudemos pensar – que a morte está à nossa frente –, vemos, nesta obra, que na verdade grande parte da nossa morte está atrás de nós, porque toda a existência que deixamos para trás pertence já à eternidade. Eternidade é, na sua essência, um grito bioético, porque é um grito pela vida, sempre.

 

misoginia

mi.so.gi.ni.a
mizɔʒiˈniɐ
nome feminino
1.
aversão ou desprezo pelos indivíduos do sexo feminino
2.
preconceito contra as mulheres

revolta espiritual

« o século de Augusto»

 Roma

sábado, 9 de janeiro de 2021

Jo Anne Callis 

Untitled (Woman with a Black Line),1976

 

 ''os vagidos até ao amanhecer''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 35

''PÓLEN DO FOGO''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 35

''ferida insarável''

Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 23

 ''os pilares poéticas de Babel''

 Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 22

Pártenon


«Vejo-te oculto como um deserto, vejo-te luxuriante como um oásis»

 Luís Pedras. Silêncio Ensurdecedor. Editorial Minerva. 1ª Edição, 2011, p. 12

''metabolismo existencial''

 Luís Pedras, poeta


A Woman under the Influencce (1974), Gena Rowlands


 

so.bran.ce.ri.a

''(...) essas mentiras esculpidas nas paredes do coração''

 Ângelo Rodrigues

''velho-deus-incompreendido e cansado da Eternidade''

 Ângelo Rodrigues

 ''De que são feitos os sonhos e os homens que os habitam?''

Ângelo Rodrigues

«Criar é matar a morte»

 Romain Rolland

The Re-Stoned - Stories Of The Astral Lizard(Full Album)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021


 

''Stay Gold, Ponyboy, Stay Gold''

 filme The Outsiders, Coppola

eletroconvulsoterapia

perturbações neuropsiquiátricas



"A morbilidade psiquiátrica aumentou, quer através do efeito direto do vírus no sistema nervoso central e na ativação da resposta imunológica e inflamatória, quer pelas consequências psicológicas de adaptação a uma situação que é indutora de stress."

Maria João Heitor

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

domingo, 3 de janeiro de 2021

Gábor Szabó



Tippi Hedren On Filming The Birds

AS MUSAS CEGAS IV

Mulher, casa e gato.
Uma pedra na cabeça da mulher; e na cabeça
da casa, uma luz violenta.
Anda um peixe comprido pela cabeça do gato.
A mulher senta-se no tempo e na minha melancolia
pensa-a, enquanto
o gato imagina a elevada casa.
Eternamente a mulher da mão passa a mão
pelo gato abstracto,
e a casa e o homem que vou ser
são minuto a minuto mais concretos.

A pedra cai na cabeça do gato e o peixe
gira e pára no sorriso
da mulher da luz. Dentro da casa,
o movimento obscuro destas coisas que não encontram
palavras.
Eu próprio caio na mulher, o gato
adormece na palavra, e a mulher toma
a palavra do gato no regaço.
Eu olho, e a mulher é a palavra.

Palavra abstracta que arrefeceu no gato
e agora aquece na carne
concreta da mulher.
A luz ilumina a pedra que está
na cabeça da casa, e o peixe corre cheio
de originalidade por dentro da palavra.
Se toco a mulher toco o gato, e é apaixonante.
Se toco (e é apaixonante)
a mulher, toco a pedra. Toco o gato e a pedra.
Toco a luz, ou a casa, ou o peixe, ou a palavra.
Toco a palavra apaixonante, se toco a mulher
com seu gato, pedra, peixe, luz e casa.
A mulher da palavra. A Palavra.

Deito-me e amo a mulher. E amo
o amor na mulher. E na palavra, o amor.
Amo, com o amor do amor,
não só a palavra mas
cada coisa que invade cada coisa
que invade a palavra.
E penso que sou total no minuto
em que a mulher eternamente
passa a mão da mulher no gato
dentro da casa.

No mundo tão concreto.

SÚMULA

Minha cabeça estremece com todo o esquecimento.
Eu procuro dizer como tudo é outra coisa.
Falo, penso.
Sonho sobre os tremendos ossos dos pés.
É sempre outra coisa, uma
só coisa coberta de nomes.
E a morte passa de boca em boca
com a leve saliva,
com o terror que há sempre
no fundo informulado de uma vida.
Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam os seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.

Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes canta e sangra.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.
Eu digo: roda ao longe o outono,
e o que é o outono?
As pálpebras batem contra o grande dia masculino
do pensamento.

Deito coisas vivas e mortas no espírito da obra.
Minha vida extasia-se como uma câmara de tochas.

- Era uma casa - como direi? - absoluta.

Eu jogo, eu juro.
Era uma casinfância.
Sei como era uma casa louca.
Eu metias as mãos na água: adormecia,
relembrava.
Os espelhos rachavam-se contra a nossa mocidade.

Apalpo agora o girar das brutais,
líricas rodas da vida.
Há no esquecimento, ou na lembrança
total das coisas,
uma rosa como uma alta cabeça,
um peixe como um movimento
rápido e severo.
Uma rosapeixe dentro da minha ideia
desvairada.
Há copos, garfos inebriados dentro de mim.
- Porque o amor das coisas no seu
tempo futuro
é terrivelmente profundo, é suave,
devastador.

As cadeiras ardiam nos lugares.
Minhas irmãs habitavam ao cimo do movimento
como seres pasmados.
Às vezes riam alto. Teciam-se
em seu escuro terrífico.
A menstruação sonhava podre dentro delas,
à boca da noite.
Cantava muito baixo.
Parecia fluir.
Rodear as mesas, as penumbras fulminadas.
Chovia nas noites terrestres.
Eu quero gritar para lém da loucura terrestre.
- Era húmido, destilado, inspirado.
Havia rigor. Oh, exemplo extremo.
Havia uma essência de oficina.
Uma matéria sensacional no segredo das fruteiras,
com as suas maçãs centrípetas
e as uvas pendidas sobre a maturidade.
Havia a magnólia quente de um gato.
Gato que entrava pelas mãos, ou magnólia
que saía da mão para o rosto
da mãe sombriamente pura.
Ah, mãe louca à volta, sentadamente
completa.
As mãos tocavam por cima do ardor
a carne como um pedaço extasiado.

Era uma casabsoluta - como
direi? - um
sentimento onde algumas pessoas morreriam.
Demência para sorrir elevadamente.
Ter amoras, folhas verdes, espinhos
com pequena treva por todos os cantos.
Nome no espírito como uma rosapeixe.

- Prefiro enlouquecer nos corredores arqueados
agora nas palavras.
Prefiro cantar nas varandas interiores.
Porque havia escadas e mulheres que paravam
minadas de inteligência.
O corpo sem rosáceas, a linguagem
para amar e ruminar.
O leite cantante.

Eu agora mergulho e ascendo como um copo.
Trago para cima essa imagem de água interna.
- Caneta do poema dissolvida no sentido
primacial do poema.
Ou o poema subindo pela caneta,
atravessando seu próprio impulso,
poema regressando.
Tudo se levanta como um cravo,
uma faca levantada.
Tudo morre o seu nome noutro nome.

Poema não saindo do poder da loucura.
Poema como base inconcreta de criação.
Ah, pensar com delicadeza,
imaginar com ferocidade.
Porque eu sou uma vida com furibunda
melancolia,
com furibunda concepção. Com
alguma ironia furibunda.

Sou uma devastação inteligente.
Com malmequeres fabulosos.
Ouro por cima.
A madrugada ou a noite triste tocadas
em trompete. Sou
alguma coisa audível, sensível.
Um movimento.
Cadeira congeminando-se na bacia,
feita o sentar-se.
Ou flores bebendo a jarra.
O silêncio estrutural das flores.
E a mesa por baixo.
A sonhar.


In «Ou o Poema Contínuo», Assírio & Alvim, 2001


 

ELIS REGINA - ÚLTIMA ENTREVISTA

AS PALAVRAS

Ficarão para sempre abertas as minhas
salas negras.
Amarrado à noite,
eu canto com um lírio negro sobre a boca.

Com a lepra na boca,
com a lepra nas mãos.
Este mamífero tem sal à volta,
este mineral transpira, a primavera precipita-se.

Com a lepra no coração.
Mais de repente,
só chegar à janela e ver uma paisagem tremendo
de medo.


E uma vida mais lenta
só com uma estrela às costas,
uma tonelada de luz inquieta,
uma estrela respirando como um carneiro
vivo.

Igual a esta espécie de festa dolorosa,
apenas um ramo de cabelos violentos
e o seu odor a pimenta,
no lado escuro
como se canta que as salas vão levantar
o seu voo.

Ficarão para sempre abertas estas mãos exageradas
em dez dedos com sono,
como uma rosa acima do pénis.

Ao cimo do caule de sangue,
essa flor confusa.
Um equilíbrio igual,
só a estrela ao cimo do êxtase.


Só alguma coisa parada no cimo de uma visão
tremente.
A primavera, que eu saiba,
tem o sal como cor imóvel,


Por um lado entra a noite,
assim de súbito negra.

De uma ponta à outra enche-se o espaço
aplainando tábuas.
Rasga-se seda para aprender o ritmo.
Abraço um corpo com as camélias
a arder.

Abertas para sempre as negras partes
de mais uma estação.

Semelhante a isto
as mulheres andam pelas galerias transparentes,
e o palácio queima a noite onde estou
cantando.

É possível ainda cortar ao meio o ofício de ver —
e num lado há espelhos bêbedos,
no outro um cardume ilegível de sons
obscuros.

Sabe-se então pelo silêncio em volta,
sabe-se em volta que são lírios
sonoros.

Passando
as mulheres colhem estes sons irrompentes,
e as mãos ficam negras junto à beleza
insensata.

Elas sorriem depois com um talento
terrível.
Levamos às costas um carneiro palpitante.

Pesa tanto uma estrela
quando se acorda nas salas negras abertas de par em par,
e as mãos agarram um ramo de cabelos dolorosos,
e sobre a boca um lírio em brasa,
branco, branco,

que não nos deixa respirar.
A lepra na boca,
que não nos deixa respirar.

Um ramo de lepra contra o corpo,
como isto então só o movimento de águas obscuras
pelos canais de um canto,
como um palácio de salas negras abertas
para sempre.

Este animal respira como um espelho de pé,
no ar,
no ar.
TRÍPTICO

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram.



(excerto do poema «Tríptico», publicado em A Colher na Boca, 1961)

NÃO TOQUES NOS OBJECTOS IMEDIATOS

Não toques nos objectos imediatos.
A harmonia queima.
Por mais leve que seja um bule ou uma chávena,
são loucos todos os objectos.
Uma jarra com um crisântemo transparente
tem um tremor oculto.
É terrível no escuro.
Mesmo o seu nome, só a medo o podes dizer
a boca fica em chaga.



sábado, 2 de janeiro de 2021

CANÇÃO DE MADRUGAR - CARLOS DO CARMO ( ALBÚM "CANOAS DO TEJO" 1972)


De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei…

Sei dos teus olhos acesos na noite
Sinais de bem despertar
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar
Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo pode acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer

Irei beber em ti
O vinho que pisei
O fel do que sofri
E dei… dei…

Dei do meu corpo o chicote de força
Rasei meus olhos com água
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas alarguei cidades
E construí poetas

E nunca, nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não lucrei
Mas quis… quis…

Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer

Então nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos, nem…
pedras, nem facas, nem fomes, nem secas, nem…
feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas, nem…
forcas, nem cardos, nem dardos, nem guerras, nem…
choros, nem medos, nem uivos, nem gritos, nem…
pedras, nem facas, nem fomes, nem secas, nem…
feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas, nem mal…

Letra: Ary dos Santos
Música: Nuno Nazareth Fernandes
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