segunda-feira, 10 de outubro de 2022
domingo, 9 de outubro de 2022
« Estava cansado do mundo.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 87
''perfume verde de jardim molhado''
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 86
''faziam tricots para os pobres''
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 77
« Generosos são só os loucos ou os santos.»
'' a doença dos pobres''
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 69
'' o fogo dos Estios''
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 65
''princípio da despersonalização''
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 53
''violentos espaços marinhos''
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 50
domingo, 2 de outubro de 2022
A MORTE DA ROSA
•
Gabriel García Márquez nasceu a 6 de março de 1927 em Aracataca, na Colômbia. Um dos nomes mais importantes da literatura do século XX, o autor de Cem anos de solidão, como muitos reconhecidos pela prosa, também se experimentou na poesia. Recebeu por sua obra o Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Morreu no dia 17 de abril de 2014 na Cidade do México.
Cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim
Literato cantabile
agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto pode ser o fim
do seu início
agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em minha orla
os pássaros de sempre cantam assim,
do precipício:
a guerra acabou
quem perdeu agradeça
a quem ganhou.
não se fala. não é permitido
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos
está vetado qualquer movimento
do corpo ou onde quer que alhures.
toda palavra envolve o precipício
e os literatos foram todos para o hospício
e não se sabe nunca mais do mim. agora o nunca.
agora não se fala nada, sim. fim. a guerra
acabou
e quem perdeu agradeça a quem ganhou.
***
Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início:
Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.
Você não tem que me dizer
o número de mundo deste mundo
não tem que me mostrar
a outra face
face ao fim de tudo:
só tem que me dizer
o nome da república do fundo
o sim do fim
do fim de tudo
e o tem do tempo vindo:
não tem que me mostrar
a outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos.
está vetado qualquer movimento
quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando a minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let’s play that
•
Torquato Neto nasceu a 9 de novembro de 1944 em Teresina. Autor de uma obra multifacetada que inclui poesia, crônica e letras de canções, sua carreira se inicia pela participação de vários movimentos de vanguarda, como a Tropicália. Morreu no dia 10 de novembro de 1972, no Rio de Janeiro.
PALAVRAS
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
Sombra,
Um outro voo
Coxas, pelos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
E eu
Sou a flecha,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Clara, exata, quase um fardo para carregar.
Eu diria que é um ataúde de um anão ou
De um bebê quadrado
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.
Tenho de passar a noite com ela e
Não consigo me afastar.
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.
Está escuro, escuro.
Enxame de mãos africanas
Mínimas, encolhidas para exportação,
Negro em negro, escalando com fúria.
É o barulho que mais me apavora,
As sílabas ininteligíveis.
São como uma turba romana,
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas!
Não sou um César.
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.
Podem ser devolvidos.
Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.
Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.
Há laburnos, colunatas louras,
Anáguas de cerejas.
No meu vestido lunar e véu funerário
Não sou uma fonte de mel.
Por que então recorrer a mim?
Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá-los.
À EMISSORA NACIONAL
Queiram dar-nos o prazer
De umas vezes nos dizer
O que Salazar não disse.
Transmitem a toda a hora,
Nas entrelinhas das danças,
«Salazar disse» (Emissora)
E aí vem essa senhora
A Estada Nova com tranças.
Sim, talvez seja o melhor,
Porque estes homens do estado
Quando falam, é o pior,
E então quando são do teor
Do Salazar já citado!
SOLENEMENTE
Solenemente
Carneiríssimamente
Foi aprovado
Por toda a gente
Que é, um a um, animal,
Na assembleia nacional
Em projecto do José Cabral.
Está claro
Que isso tudo
É desse pulha austero e raro
Que, em virtude de muito estudo,
E de outras feias coisas mais
É hoje presidente do concelho,
Chefe de internormas animais,
E astro de um estado novo muito velho.
Que quadra
Isso com qualquer espécie de graça?
Nada.
A Igreja Católica ladra
E a Maçonaria passa.
E eles todos a pensar
Na vitória que os uniu
Neste nada que se viu,
Dizem, lá se conseguiu,
Para onde agora avançar?
Olhem, vão p’ra o Salazar
Que é a p… que os pariu.
1935
«A ideia seria boa se não houvesse outra melhor.»
José Saramago. A Viagem do Elefante. Porto Editora. 2014., p. 38
segunda-feira, 12 de setembro de 2022
segunda-feira, 5 de setembro de 2022
''A luta política, entretanto, jamais excede a disputa pelo poder, pelo estatuto, pelo pedestal/trampolim; e o poder é apenas visto como apropriação da regalia, ostentação da vaidade, usufruto do mero poleiro na gaiola. De tal modo, que o poder, doravante, é apenas "estar no poder". Já não é sequer meio para determinado fim segundo preliminar causa: É, mais uma vez, fim e causa em si mesmo - uma forma estritamente burguesa de conforto, uma masturbação social, um fetishismo político. Em bom rigor, nada mais que bacoco desfile, show-off, exibição. Não há qualquer projecto ou projecção para lá do "estar no poder". Tudo se esgota nesse aparecer enquanto se pode, e nesse tudo fazer para estar o mais possível. Esvaziado da sua essência, fica o poder reduzido a mera aparência de poder, simulacro de governação, fazer de conta. Assim, o Poder "Democrático", tal qual se exibe - de imitação barata (mas financiada a peso de ouro) - nas nossas paragens, constitui dupla vacuidade e redundância: ambos, o poder e a sua forma (a "democracia") na ausência mútua, reiterada e compulsiva de princípios e fins, confinam-se a meios absolutos, e tornam-se não modos de servir à comunidade, mas expedientes para se servirem dela. Pelo que, a finalidade do poder não é fazer qualquer coisa em prol do país: é apenas fazer do país estância. Albergue. Hospedaria. As eleições pouco ou nada definem (e ainda menos implementam), de qualquer programa minimamente efectivo para a vida do quadrienalmente lambuzado povo: apenas determinam quem vai "estar", e de que modo, hospedado no erário público nos próximos quatro anos. ''
Via Dragoscópio
terça-feira, 30 de agosto de 2022
sábado, 27 de agosto de 2022
« Um escritor que só pode ser compreendido por algumas pessoas não chega a ser inteiramente um escritor.»
« Cheirava a coisas limpas a mar e a cravos.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 31