terça-feira, 5 de julho de 2022

José Afonso - Venham Mais Cinco

''cantar friorento de pássaro esquecido''

 José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 217

«Tentações, tem cada um as que pode e aprendeu.»

 José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 211

''maviosas histórias da carochinha''

 José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 210

 

maré do carvoeiro
ocasião propícia, oportunidade

''o mato é um jardim sem rega nem jardineiro''

 José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 205

 «habituou-se a ver Deus na pastilha de farinha triga e nunca foi capaz de o inventar doutra maneira»


José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 198


 

 


verbo intransitivo
estar fora de sidelirardisparatar

''não fosse ter acontecido o milagre das rosas''

 José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 197

'' com o tempo até as fontes confundem as memórias''

 José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 195

 


adjetivo, nome masculino
1.
mandrião, preguiçoso
2.
vadio, parasita

«, é só para ver se um dia a sua consciência lhe põe os cornos,»

José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 187

 «(...), e é sabido que as paisagens morrem porque as matam, não porque se suicidem.»

José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 185

 «(...), porque a vista delas ofende os sentimentos que nos ensinaste a sentir,»

José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 174

segunda-feira, 4 de julho de 2022


 

açodadamente

''que mentis pela gorja''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 311

Preso por mil, preso por mil e quinhentas.

 - diz o velho adágio

 « Então o luar batendo nos lanços dos seus muros, dava um reflexo de luz suavíssima, mais rica da saudade que os próprios raios daquele planeta guardador dos segredos de tantas almas, que só nele crêem que exista alguma inteligência que as perceba.»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 303

''parecias hoje desacostumadamente triste''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 296

«(...), vira este homem rodeado de pergaminhos e livros»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 290

«(...), e não pensemos agora no que vai pelo mundo das letras, tão baralhado e revolto, como o mundo da política.»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 290


 

''reflexões tristíssimas''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 290

« Hoje a ciência desbaratou todas as ilusões »

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 289

 «(...), ou algumas casas, góticas, negras, e arruinadas, só povoadas de ratos e osgas.»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 284

''honra literária''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 262


 


nome feminino
pedra lavrada ou simplesmente aparelhada, geralmente em paralelepípedos, para construções

''ataviados de seda''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 259

domingo, 3 de julho de 2022


 

Chico Buarque

« - Capaz és tu de nos matar com latins de frades;»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 246

Recideret omne quod ultra perfectum traheretur

 Poderemos fazer a poda a tudo o que for demais.

« - bom seria que vós nos lêsseis alguma coisa do vosso roteiro »

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 246

« - Em verdade - replicou João de Sá - ; porque ouviste falar em Maria, crestes logo que era a Virgem; porque viste meia dúzia de demónios pintados pelas paredes com muitos braços e grandes dentes, tiveste-los em conta de santos; a uma pouca de água sem sal chamaste água benta, e um pouco de barro, que vos deram para pôr na testa, tomaste-o por cinza de defuntos ! Eu serei sandeu, mas certo que há aí quem o seja mais do que eu o sou.»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 244

Credat judaeus Apella, non ego

 Creia-o o judeu; não eu.

''superstição da chusma''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 243


 

«, ajoelhou, e beijou a mão do cadáver''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 230

''indizível desesperação''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 230

''tinha os olhos abertos e envidraçados''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 229

''quem salva traidores é traidor como eles''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 229

amiudar


                                                                Torso / Maryanne, 1990


 

Elis Regina

Si Deus pro nobis, qui contra nos?

 Se Deus é por nós, quem prevalecerá contra nós?

desassombradamente

 «(...), com um metal de voz adocicado, como o miar de um gato, quando quer pilhar a alguém um bocado de pão.»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 228

sábado, 2 de julho de 2022

'' dizei-o só a ele''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 226

«Era a última viagem que fazia neste mundo: passados alguns dias um pouco de veneno o levou ao sítio para onde todos nós caminhamos, e donde ninguém ainda voltou - para o cemitério.»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 225/6

 « Soldados, as vossas cabeças cairão se tiverem orelhas para ouvirem promessas de sua reverência; as vossas mãos serão decepadas, se as folhas das árvores sentirem, por essa estrada, tinir o seu ouro dentro de vossas manoplas.


 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 225


 

''sempre anda a sonhar com almas de outro mundo''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 224

«(...) que para revelar o maior segredo não precisava senão da mínima contradição, ou de ver que desse segredo se fazia pouco cabedal.»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 224

''trevas espessíssimas''

 

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 218

''não viu por lá viva alma''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 217

'' era preciso morrer ou matar''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 215

«As ruas estavam ermas; porque era a hora, em que costumamos, nós os Portugueses, repousar depois de comer: costume santo, que nossos avós guardavam à risca, e de que já hoje alguém se envergonha, porque meia dúzia de franchinotes literários, franceses e ingleses, tiraram daí argumento para nos tacharem de preguiçosos; (...)»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 213

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Lord Huron - The Night We Met (A noite que nos conhecemos)

''pasmaceira popular''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 210

 «(...) muitos actores que sem piedade esfolam a linguagem»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 206

 

cair/dar no goto
agradar, achar graça, engraçar com

exalçação

Petintais

 carpinteiros de naus

asserenar


 

visagem

''traidor espingardeiro''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 198

 « - Só sabem ir espalhar pelo povo aquilo que ele não deve saber, e o que lhe convém se lhe revele, guardam-no muito bem guardado.»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 197

ademanes

 

bioco

 /ô/

nome masculino
1.
mantilha usada para cobrir a cabeça e parte do rosto
2.
figurado hipocrisiafalsa modéstia
3.
figurado gesto ameaçadorameaça

 


nome feminino
1.
traje muito ataviado
2.
garridice
3.
ornatoenfeite

N̰ḭc̰k̰ ̰C̰a̰v̰̰̰ḛ̰̰.̰.Let L̰o̰v̰ḛ ̰ḭn̰

''foi morto miseravelmente''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 193

 «(...), consolam com descomposturas e acariciam com bofetões e dentadas.»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 192

'' eu era padre dos pobres''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 187

domingo, 26 de junho de 2022

« - Compadre, não cureis de tesouras, nem de navalhas (...)»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 176

 


nome feminino
1.
saia interior, geralmente de cor branca, usada sob outra saia ou vestidosaiote
2.
toalha ou pano de mesa que pende dos lados, quase alcançando o chão

'' a infernalidade do ruído''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 174


 

Fontaines D.C. - Skinty Fia (Full Album)

'' preço ensanguentado''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 172

«(...) o povo servia só para ser calcado e sofrer, sem que lhe fosse dado queixar-se.»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 168

'' os decretos de el-rei''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 157


 

 


nome feminino
1.
venda ou compra de bens espirituais ou de objetos estreitamente ligados a um benefício espiritual
2.
tráfico de coisas sagradas

apostasia

 ''pequena porção de ruínas amontoadas''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 152

« Oxalá tu pudesses ler no fundo do meu coração.»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 152

'' despejou o peixe em um alguidar de água''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 148

bruxuleavam

'' fez sinal-da-cruz''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 135


 

sábado, 25 de junho de 2022

 


nome masculino
1.
negrume de nuvens
2.
nuvem de fumo denso
3.
redemoinho
4.
figurado grande aflição
5.
figurado escuridãotrevas

« (...) a podridão e os vermes começavam a despedaçar-lhe os membros»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 128

desesperação

segunda-feira, 20 de junho de 2022

carniça


 

''colérico em demasia''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 123

«(...), esmigalhando o crânio do infiel, abriu-o até aos dentes.»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 117

«Então faz-se um grande silêncio, e após o silêncio vêem-se corpos destroncados, poças de sangue, arcabuzes quebrados, e ouvem-se o gemer dos feridos e o estertor dos moribundos.»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 117

''céu proceloso''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 116

passamento

''oferecidos a certa morte''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 114

 «(...) debaixo dos muitos panos que lhe envolviam o braço e o ombro esquerdo levava a própria morte; nos fios da espada, que a mão direita mal sustinha, levava, porventura, ainda a morte de muitos outros!»


 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 113

 

nome feminino
1.
planície fértil, várzea
2.
regionalismo terra de cultura de centeio ou milho serôdio


 

''Semelhante ao vento de Deus, (...)»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 110

''searas pálidas''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 108

''canaviais dos ribeiros''

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 106

 « A vista do sangue enxugava-lhes por algumas horas as lágrimas, (...)»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 104

coevo

 « Os três ferros feriram fogo; mas a pancada deu em vão, aliás o crânio do pobre clérigo teria ido fazer mais de quatro redemoinhos nos ares.»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 91

«(...) mentis pela gorja!»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 88


 

momice

''dir-vo-lo-ei eu''

domingo, 19 de junho de 2022

pugnaz

 

a seu talante
a seu bel-prazer

«(...), sente bater-lhe o coração com ânsia desacostumada.»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 59


 

T͟h͟e B͟l͟ack Keys - Delta Kream (Full Album) 2021

pequice

«Sonhos de três noites a fio não mentem»

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 53

''doía-lhe a honra''

 Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 51

 «(...) dava mostras de mágoa e saudade da condessa: as salas estavam forradas de negro; de negro eram os trajos dela;»

Alexandre Herculano. Obras Completas. Lendas e Narrativas. Tomo II. Livraria Bertrand. 2ª Edição, 1974., p. 51




 

A PAIXÃO DE FERNANDO P. (excerto)

[...] Mais tarde, como a pulsão do desejo e do amor lhe voltasse muitas vezes, pensou noutro género de mulheres. Afinal porque não? Encontrou algumas que o atraíram, mas elas ficaram sempre longe, porque nunca foi capaz de saltar o fosso enorme de se aproximar, sequer de lhes dirigir uma palavra fora de propósito. Tivera uma educação puritana, uma educação inglesa num meio provincial e em fins do século XIX, quando o espírito da Rainha Victória ainda dirigia as etiquetas, as maneiras e sobretudo as consciências.

Não se via ao lado de uma rapariga que fosse também uma senhora, capaz de lhe propor fosse o que fosse ou de ter com ela uma dessas conversas de circunstância, recheadas de alusões sociais e de galanteios velados.

E, depois, na Lisboa do tempo, nos primeiros anos do século XX, embora, as raparigas do seu meio fossem flores de estufa em ambientes muito fechados, só se davam com amigos de infância, farejando os pedigrees dos rapazes que delas se aproximasse com uma intuição rápida e certeira.

Ele era ainda o estrangeiro, afinal. O exilado dividido entre a pátria onde fora educado e a pátria da sua origem e do seu presente, dividido afinal, como alguém viria a dizer, entre dois exílios.

Solitário, tendo vivido anos em quartos alugados e ganhando a vida com traduções e trabalhos de circunstância, Fernando não tinha também muitas ocasiões para frequentar ambientes mundanos ou sequer para conviver. Olhava de longe, divisava vultos por detrás de janelas fechadas, encontrava-se com amigos e conhecidos nos cafés, nas casas de pasto, em restaurantes baratos. Era raro que falasse com alguém nas tabernas e bares que visitava com assiduidade. Não era um igualitário. Desgostava-se das atmosferas ordinárias desses lugares, mas não havia outro remédio porque não tinha dinheiro para bebidas caras, para o porto, para o whisky. Havia felizmente também a aguardente, o bagaço e a ginginha. Fernando P. entrava sem olhar para os lados, dirigia-se de imediato ao balcão, não raro fingia-se estrangeiro, um inglês, emborcava de uma vez só o copo, e logo a seguir o outro, pagava e saia sempre sem olhar para os lados, muito direito, muito digno, restando-lhe, e isto até ao fim da vida, a pequena vaidade de saber que o álcool nunca lhe subia à cabeça, pelo menos ao ponto de ser visível e de fazer tristes figuras.

De verdadeiro, de grande na sua vida, só os seus versos, os seus escritos, as suas prosas só esse universo invisível em que era rei e senhor, em que a solidão se lhe transmutava em grandeza e em que todo o vazio da sua existência exterior se lhe sublimava em paixão criadora, em convicção de que ia mudar os homens, o mundo, a sua pátria, restituindo-os à sua nobreza prometida e ao destino transcendente para que tinham sido criados.

Nos seus períodos mais criadores, no arrebatamento e na elevação do seu espírito, ele próprio escrevera um dia, tinha pensamentos que, se conseguisse realizá-los, acrescentariam uma nova luz às estrelas, uma nova beleza ao mundo e um maior amor no coração dos homens.

Mas havia, no teatro da sua alma, uma assintonia fatal entre o vazio e o pleno platónico, o mundo interior da sua imaginação, a sua pulsão de ascese, a convergência das suas ideias numa vontade de levitação, o seu ser para dentro, vazia, angustiosa e egocêntrica a sua existência de órfão de pai, quase de mãe, homem solitário obrigado a reprimir continuamente a sua saudade da infância feliz.

Só o álcool, o fogo de Dionísio, o aliviava temporariamente dessa doença, dessa contradição, dessa aporia que lhe roubava a paz, a tranquilidade, a entrega total a valores mais e mais altos.

Como poderia curar-se deste padecimento permanente? Antes de conhecer Cordélia sentia-se cada vez mais só e mais abandonado Pouco a pouco quebravam-se-lhe todos os laços.

Em breve ficaria sozinho, pensava muitas vezes.

O seu mundo interior era-lhe bálsamo, era-lhe a razão de viver, mas não chegava. Não era capaz de dominar com pulso de ferro o entrechocar das suas emoções angustiadas de solidão, por vezes desesperadas, ao perguntar-se o que fazia nesta existência, que o rejeitava e onde todas as suas acções, versos, pensamentos não passavam de riscos na areia, que ninguém via, todos pisavam sem um relance, que a primeira onda apagaria.

Não aprendera, a não ser falsamente, pela interposta pessoa de uma das suas criações literárias, a do Ricardo, a sentir-se como um heleno, um apolíneo, um estoico.


Ao vê-lo sereno, suave, de semblante imperturbável, com o seu sentido de humor muito britânico, mal sabiam os seus amigos, mesmo os amigos dilectos, o que eram os seus ciclones nocturnos, as suas intermináveis insónias, a pergunta obsessiva que fazia a si próprio: porquê? Porque me castigaram os deuses com esta inteligência, com esta agudeza, com este talento, com esta intuição metafisica, se foi para eu continuar a ser um pobre abandonado, sedento de um amor utópico, que não está ao seu alcance. Porque, ó Sagrado, escrevera num poema inacabado, sobre a minha vida derramaste o teu verbo? Maldito o dia em que pedi a ciência. Mais maldito o que a deu porque me a deste.

E depois, este obsessivo medo da loucura (em si próprio já uma loucura) que o assolava nos seus instantes mais desvairados. O medo da loucura, o temor do suicídio, a fuga pelo álcool eram as três pragas que nunca o deixavam, como aguilhões aplicados nos pontos mais dolorosos da sua psique.

Por vezes chegara a admitir que o amor, um amor como os outros, um amor simples com uma rapariga simples, poderia salvar a humanidade que nele havia também, aproximando os dois continentes cindidos que em seu ser se degladiavam. Dizem que o amor é a união ou a virtualidade da união. É estulto dizê-lo, porque tudo neste mundo fluí, evoluí, esmorece e degenera. Há contudo uma hora para ser sábio e uma hora para ser ingénuo. A ingenuidade é um baixar das defesas críticas, um ver o universo com olhos de criança, um entregarmo-nos à ilusão sem cuidarmos de saber se é ou não ilusão, um deixarmo-nos tomar pelo nosso ser mais profundo e antigo, antes de nós gerado, para dar um sentido às nossas existências.

Há dez anos, Cordélia, a mulher criança que era a própria essência da ingenuidade e que no entanto sabia o que era o amor sensual, podia dá-lo e inspirá-lo num plano outro daquele, vil, que até então conhecera… Há dez, ou fora há nove anos? Entrara na sua vida, modificara-o de alto a baixo, dera-lhe esperança, prometera-lhe uma plenitude num e noutro hemisfério do seu ser.

Fora em 1920, ele já passara os trinta anos, ela não tinha ainda vinte. Aproximaram-se. Tocaram-se fugazmente. Tinham estado muito perto um do outro. Tinham feitos promessas em comum, tinha parecido possível. Ela já não sabia quem ele era, não conhecia e nunca conheceria a natureza infinitamente complexa do seu espírito. Ainda bem, porque só os diferentes podem ser complementares, ele era um arquétipo do intelectual, devotado à vida do espírito, ela era um ser da natureza, de emoções simples e primárias, espontânea como todas as coisas simples e verdadeiras.

[...]


Excerto do ultimo romance de António Quadros escrito no início dos anos 90 em Vale de Óbidos “A Paixão de Fernando P.”, acervo da Fundação António Quadros
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