domingo, 8 de maio de 2022
três cavaleiros do apocalipse
« Tudo isto são males, e grandes males. Diríamos, para usar a linguagem do padre Agamedes, que são os três cavaleiros do apocalipse, cujos eram quatro, e, começando a contar, mesmo pelos dedos para quem não souber melhor, temos o primeiro que é a guerra, o segundo que é a peste, o terceiro que é a fome, e agora sempre chegou o quarto, que é o das feras da terra.»
José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 121domingo, 1 de maio de 2022
« No geral, porém, dão de esporas a si próprios para parecerem felizes.»
José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 99
Abri-o. Era uma edição barata de Tonio Kroeger de Thomas Mann.
- Estive indecisa entre isso e um manual de boas maneiras - disse Gloria. - Mas acabei por decidir-me por isso, visto que cheguei à conclusão de que já não há forma de educar-te.
- É estranho que não me tenhas trazido um livro obsceno - disse eu.
- Não quero continuar a apodrecer-te a imaginação.»
Juan José Saer. Cicatrizes. Traduzido do castelhano (Argentina) Pedro Miguel Mochila. Cavalo de Ferro, Lisboa, 2016., p. 91
segunda-feira, 25 de abril de 2022
- Conheço um tipo que não tem sentimentos e, no entanto, faz literatura - disse eu.
Juan José Saer. Cicatrizes. Traduzido do castelhano (Argentina) Pedro Miguel Mochila. Cavalo de Ferro, Lisboa, 2016., p. 74/5
« Depois de velho ainda se vive muito tempo.»
José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 95
« Ainda não há muito que sobretudo os poetas tuberculizavam, ou se suicidavam, ou, de qualquer modo, feneciam na flor dos anos lastimando-se aniquilados, perdidos, prontos para o fim: talvez pelos desvarios da imaginação e dos sentidos, durante vidas curtas mas longas em peripécias devastadoras.»
José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 84
«Todo o literato mais ou menos falhado tem uma invencível necessidade de falar de si e da sua obra; até de dar nas vistas.»
José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 76
A mim, o que me defende é a minha obscuridade.
«Todos reconhecemos que os camaradas literatos nada merecem uns aos outros. A mim, o que me defende é a minha obscuridade.»
''Então foram dar com ele morto, ia já alto o sol desse dia maravilhoso.''
José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 66
terça-feira, 19 de abril de 2022
A Tua Presença
'' os bares melancólicos de sujos mosaicos''
Juan José Saer. Cicatrizes. Traduzido do castelhano (Argentina) Pedro Miguel Mochila. Cavalo de Ferro, Lisboa, 2016., p. 49
ponto mais à frente a partir do qual
''negrume gélido''
Juan José Saer. Cicatrizes. Traduzido do castelhano (Argentina) Pedro Miguel Mochila. Cavalo de Ferro, Lisboa, 2016., p. 41
''lama aguada''
Juan José Saer. Cicatrizes. Traduzido do castelhano (Argentina) Pedro Miguel Mochila. Cavalo de Ferro, Lisboa, 2016., p. 30
«(...), despia-me e sentava-me a fumar e a beber gim a pequenos goles. Deixava-me ficar ali até se começar a ver o primeiro lampejo de claridade diurna. Às vezes masturbava-me.»
Juan José Saer. Cicatrizes. Traduzido do castelhano (Argentina) Pedro Miguel Mochila. Cavalo de Ferro, Lisboa, 2016., p. 21
'' experimentava aguaceiros de sangue por detrás dos olhos''
Juan José Saer. Cicatrizes. Traduzido do castelhano (Argentina) Pedro Miguel Mochila. Cavalo de Ferro, Lisboa, 2016., p. 19
« Vai-se ver e não está a pensar em nada: vai-se a ver e até as mamas desapareceram e agora não têm nada lá dentro, texturas somente, as paredes negras, áridas, corroídas pela ferrugem de velhas memórias e pensamentos, um negror húmido, verde-escuro, sem quaisquer zonas iluminadas, nem o eco da luz pálida nem o do som brumoso que é o horizonte de ruído que rodeia o cone iluminado pelo candeeiro cuja luz se desdobra sobre a mesma de bilhar,(...)»
Juan José Saer. Cicatrizes. Traduzido do castelhano (Argentina) Pedro Miguel Mochila. Cavalo de Ferro, Lisboa, 2016., p. 13
segunda-feira, 18 de abril de 2022
'' as vergonhas da ignorância são as que mais custam a confessar''
José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 84
''gloriarem-se os sofredores do seu sofrimento''
José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 79
''as águas corriam como seda escura e rangideira''
José Saramago. levantado do chão. 20ª Edição. p. 75
Fausto
em busca daquela terra
e a maré foi de rosas pela boca
na calmaria tão grande
e a**im como fosse cansado
a água vai muito mansa
e o meu corpo suado
embalado
flutua e descansa
e vimos com os nossos olhos
que em maravilha se olharam
uma cor na água do rio
desvairada da outra
desvariada pelo tom
alucinada
pelo desvairo da cor
se uma era doce
e a outra salgada
em ondulante sabor
e a cor do ouro repousa
derramado na areia
e saborosa e tão quieta era a vista
pouco lavada dos ventos
são infindas as garças reais
em voos muito arabescos
que só do olhar tivemos
um doce e grande refresco
e em todo aquele rio era grande
a cópia de pescarias
de multidão de gatos-de-algália
papagaios e bugias
e surgem do denso arvoredo
incontáveis gentes pretas
de tão lindas mulheres
e de grande vergonha
tão ledas
e o perfume desta terra
é a doçura do seu fruto
o mistério do seu vulto
em selva de arvoredos
de palmares
laranjeiras
limoeiros e cidreiras
cristalinas
pelos ares
brilham as cores do arco celeste
de infinitas maneiras
de infinitas maneiras