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domingo, 20 de novembro de 2011

8

«E o paraíso? Existe um paraíso?».
«Creio que sim, minha senhora, mas os vinhos doces
já ninguém os quer».





Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 233
5

«Desci, dando-te o braço, pelo menos um milhão de escadas
e agora que já cá não estás é o vazio em cada degrau.
Mesmo assim a nossa longa viagem foi breve.
A minha ainda dura, mas já não me acontecem
as coincidências, as reservas,
as ciladas, os dissabores de quem crê
que a realidade é aquilo que se vê.

Desci milhões de escadas dando-te o braço
e não porque com quatro olhos talvez se veja mais.
Contigo desci-as porque sabia que nós os dois
as únicas verdadeiras pupilas, ainda que ofuscadas,
eram as tuas.»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 233
«Não sei como extenuada tu resistes
neste lago
de indiferença que é o teu coração; talvez
te salve um amuleto que guardas
junto ao bâton dos lábios,
à borla do pó-de-arroz, à lima das unhas: um ratinho branco,
de marfins; e é assim que existes!»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 161
«A tua agitação faz-me pensar
nas aves de arribação que vão contra os faróis
nas noites de tempestade:
também a tua doçura é uma tempestade,
rodopia e não aparece,
e as suas pausas são também mais raras.»




Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 159
«regressa ao caminho onde contigo me entristeço,
àquele que apontou um chumbo seco
às minhas, às tuas noites:
volta às primaveras que não florescem.»




Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 155

                                        «Hoje volto
até junto de vós mais forte, ou estarei enganado, se bem que o coração
pareça abrir-se em recordações ledas e atrozes.»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 139

''duas camélias pálidas''

domingo, 13 de novembro de 2011

«Não tenho sentidos; nem sentimento. Não tenho limite.»


Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 111
«ANTIGO, fico embriagado pela voz
que sai das tuas bocas quando se abrem
como verdes sinos e voltam
para trás desaparecendo.
A casa dos meus longínquos estios
ficava a teu lado, como sabes,
naquela terra onde o sol abrasa
e os mosquitos soltam nuvens pelos ares.
Agora como então emudeço na tua presença,
mar, e não me acho digno já
do solene ensinamento
da tua respiração. Foste o primeiro a dizer-me
que o ínfimo fermento
do meu coração era apenas um momento
do teu; que eu tinha bem fundo
a tua audaciosa lei: ser vasto e diferente
e ao mesmo tempo constante:
e esvaziar-me assim de toda a sujidade
como tu fazes quando lanças nas areias
entre cortiças algas e estrelas do mar
os inúteis despojos do teu abismo.»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 101

«Na idade de ouro florida nas margens felizes
também um nome, uma veste, eram um vício.»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 91
      (...)

«                                     Ardes
também tu entre as lages do estio,
coração que desfaleces! E de maneira incauta
ensaias novas notas na tua flauta.»




Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 57

terça-feira, 8 de novembro de 2011

« (...) e o eterno trabalho do tempo que faz desaparecer a própria memória e até a memória da
memória, num contínuo vórtice que vai da solidão ao vazio, ao nada;»


no Prefácio

Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p.26

domingo, 16 de outubro de 2011

«O homem é um destroço, um ser para sempre perdido nos abismos e nas ressonâncias de várias tempestades, interiores ou não, habitando numa invisível calma que nos embala, suspeita: o hábito, esse acampamento de ilusões. »

no Prefácio


Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p.13
«(...), e o poema é sempre um instrumento de aproximação aos mistérios do homem, à espessura das coisas do mundo,»


no Prefácio


Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p.12/3

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

«Os que choravam continuam a chorar.»



Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 491

«(...)     - nó das solidões
do eu que se sente morrer
e não quer aparecer nu perante Deus:


assumo tudo, para poder compreender,
de dentro, o fruto dessa ambiguidade:
um homem adorável, de quem, neste Abril


incalculado, mil jovens descidos do Além,
esperam confiantes um sinal que tenha
a força da fé sem piedade,


para lhes consagrar a raiva humilde.»



Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 485-487
« oh paz que permite a dor selvagem -
oh marca da infância! Oh destino de ouro
construído sobre o eros e a morte, como

uma distracção - e os seus mil e um pretextos
o riso, a filosofia! Ter ilusões ( o amor)
(...)»



Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 457

''excesso de Servilismo''

«(...) Foi mais uma amizade,
daquelas que duram uma noite
e atormentam depois toda uma vida.»




Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 433

FRAGMENTO DE CARTA PARA O JOVEM CODIGNOLA

Querido rapaz, sim, claro, vamos encontrarmo-nos,
mas não esperes nada desse encontro.
Quanto muito, mais uma decepção, mais um
vazio: daqueles que fazem bem
à dignidade narcisista, como uma dor.
Aos quarenta anos sou como era aos dezassete.
Frustrados, o homem de quarenta anos e o rapaz de dezassete
podem, decerto, encontrar-se, balbuciando
ideias convergentes, sobre questões
separadas por dois decénios, uma vida inteira,
mas que aparentemente são as mesmas.
Até que uma palavra, saída das gargantas hesitantes,
paralisada de pranto e vontade de estar só -
lhes revele a disparidade sem remédio.
E, ao mesmo tempo, terei de fazer de poeta
pai, e refugiar-me na ironia
- que te embaraçará: porque o homem de quarenta anos
é mais alegre e mais jovem do que o rapaz de dezassete,
sendo já senhor da sua vida.
Para além desta aparência, deste disfarce,
nada mais tenho a dizer-te.
Sou avarento, o pouco que possuo
está bem fechado neste meu coração diabólico.
E os dois palmos de pele entre a face e o queixo,
por baixo da boca torcida de tanto sorrir
de timidez, e o olhar que perdeu
a sua doçura, como um figo que azedou,
parecer-te-iam o retrato
fiel dessa maturidade que te faz sofrer,
uma maturidade não fraterna. De que pode servir-te
alguém da tua idade - mas entristecido
na magreza que lhe devora a carne?
O que ele deu, está dado, o resto
é árida piedade.





Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 427-1429
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