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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

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   «Terei já mencionado o facto de me dar bem com qualquer mulher desde que não me seja adversa por natureza. Bertha também o sabia. Um dia, quando nos encontrávamos deitados lado a lado, disse-me: «Penso que me amas menos por ser eu própria, do que por ser uma mulher - não achas isso ofensivo para mim?»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 65

Também no casamento

«Também no casamento, uma crise aguda é preferível a uma dor crónica; uma cena violenta desanuvia o ar e restabelece a paz doméstica.»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 65

«Na maioria das vezes lia até altas horas da madrugada, pois para mim um dia sem livros é um dia perdido.»

Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 64
«Chega também o momento em que a despedida se torna tão dolorosa que praticamente se anseia que o morto se encontre debaixo da terra.»



Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 63

«Acrescente-se que a morte ocorre sobretudo durante a noite.»

Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 59
«Sou uma pessoa de bom fundo. Só quando estou de serviço é que sou um animal. E estou sempre de serviço.»



Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 59
      «Dormíamos com um único cobertor e quando o pavor me acordava à noite, sonhava como seria bom se nunca mais nos levantássemos. Estendia a mão e tocava em Bertha, que se encontrava junto a mim. Aqui estava em segurança; desejava que durasse sempre e que, acordando de vez em quando, repousássemos assim, um perto do outro, durante anos...durante séculos.
       No entanto, esta época foi proveitosa para a minha leitura. Aprendi mais com os livros do que com a universidade. Vivia dia e noite com os filósofos, com os clássicos e também com a Bíblia, como numa montanha com as suas fontes e os seus vales, desde que não estivesse ocupado a redigir anúncios ou à procura de emprego. »


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 55
«O Estado converteu-se num polvo gigante, de braços múltiplos, que aplica milhares de ventosas. Apenas uma única coisa me agradava mais do que no Leste: nos tempos livres não era preciso marchar atrás da bandeira e gritar «Hurra», podendo-se aqui ler e escrever aquilo que a cada um lhe bem apetecesse.»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 54

''olhar decifrador de caracteres''

domingo, 1 de dezembro de 2013

 
   «Faltava-me um amigo com quem pudesse compartilhar o meu sofrimento e a minha nostalgia, um parceiro de conversa. Sentia falta de Jagello - embora vivêssemos na mesma cidade, encontrávamo-nos mais afastados um do outro do que os antípodas.»



Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 45
«Encontrava-me agora sem emprego e quase sem dinheiro. Era o que se costumava dizer; com pouco valor para viver, mas com demasiado para morrer.»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 43
«Leio muito, talvez até demais, desde que a minha preocupação me oprime. Isto contribui igualmente para o enfraquecimento; primeiro a preocupação, depois as insónias, tornando-se estas por sua vez, a preocupação capital. Como se encontram ligados os elos da corrente?»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 16
«Depois de me levantar, observo-me ao espelho a fim de determinar a minha identidade, de me certificar de que ainda sou eu.»

Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 14
«Sou conservador por nascimento e inclinação e, mais ainda, por comodismo.»

Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 13
«Não sou poeta, tenho de o reconhecer apesar de ser capaz de exprimir «o que sofro» - em boa verdade, apenas em monólogo. Seja o que for «exprimir» é a palavra adequada que resulta sempre.»


Ernst Jünger. O Problema de Aladino. Tradução de Ana Cristina Pontes. Edições Cotovia, Lisboa, 1989., p. 12

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O suicídio

«O suicídio nunca foi tratado senão como fenómeno social. Aqui, pelo contrário, para começar, importa a relação entre o pensamento individual e o suicídio. Um gesto como este prepara-se, tal como acontece com uma grande obra, no silêncio do coração. O próprio homem o ignora. Uma bela noite, dá um tiro ou atira-se à água. De um gerente de prédios de rendimento que se matara, diziam-me certo dia que ele perdera a filha havia cinco anos, que mudara muito desde então e que essa história « o havia consumido». Não se pode desejar palavra mais exacta. Começar a pensar é começar a ser consumido. A sociedade não tem grande coisa a ver com estes princípios. O veneno está no coração do homem.»



Albert Camus. O Mito de Sísifo. Ensaio sobre o absurdo. Tradução de Urbano Tavares Rodrigues. Livros do Brasil, Lisboa., p. 18

domingo, 28 de julho de 2013

«-Há casais que têm quartos separados - dizia Stefan. - Eu preciso de um lugar onde possa fechar-me  de quando em quando sem que ninguém saiba onde estou.
   -...Imaginas que lá, no teu quarto secreto, eu não posso acompanhar-te em espírito...Como se eu não tivesse adivinhado...Como se eu não soubesse que te fechas lá para fazer outra coisa que não seja ler romances!...
   Stefan evitava falar de literatura quando estavam sós. Ao entrar em casa, a meio da noite, encontrava-a muitas vezes a ler. Ioana notava às vezes que ele lançava um olhar ao título, mas nunca lhe perguntava o que lia. Em casa, junto dela, Stefan nunca lia romances. E no entanto a sua cultura espantava Ioana. Ela não podia avaliá-la senão por acaso, quando paravam em frente de uma montra ou então quando ela folheava uma revista e lia o título de um livro.
    «Não presta», dizia ela, ou então: «Já li. É bastante interessante. Empresto-te, se quiseres.»
    «Ele pensa que gosto de romances porque estive noiva de Partenie», pensava ela.
     -...Claro! - continuara Ioana - adivinhei há muito tempo o que tu fazes lá no teu quarto secreto...Não devia dizer-to. Mas tu julgas-me mesmo assim muito ingénua. Há muito tempo que adivinhei! Adivinhei, na noite em que tu entraste com um cheiro de terebintina nas nãos. Tens lá um laboratório. Até é possível que não seja um quarto de hotel. Tu trabalhas num laboratório...»
    



Mircea Eliade. Bosque Proibido. Tradução de Maria Leonor Buescu. Editora Ulisseia, Lisboa, 1963., p. 18-19
«Uma vez li um livro», prosseguira ele, como se não tivesse ouvido, « um livro em que falava de um rapaz que chamava as serpentes pelo nome e conversava com elas. Tenho a certeza de que essas coisas são possíveis». Mas é preciso que alguém as ensine...O meu ouriço, por exemplo, rebolava-se na minha presença, encolhia os espinhos e deixava-me fazer-lhe festas. Tenho a certeza de que eu podia ter aprendido muitas coisas com ele, mas não sabia falar-lhe...»



Mircea Eliade. Bosque Proibido. Tradução de Maria Leonor Buescu. Editora Ulisseia, Lisboa, 1963., p. 15

«Fechava os olhos quando sorria, por coquetterie. Sempre que Stefan a tinha encontrado na escada, tinha-a surpreendido a puxar a blusa, tentando dar algum relevo ao peito ressequido.
      -Que gostaria eu de ser? Eu? - respondeu Vadastra levantando a voz. - Deputado? Qualquer pode sê-lo. Até um tipo como Voinea pode vir a ser deputado...
      -Então, ministro?
      -Talvez - respondeu Vadastra depois de curta hesitação. - Mas para que serve ser ministro? Hoje é-se ministro, amanhã já não. Depois passa-se para a opisição, à espera que torne a vir a nossa vez!...Sim, ministro não é mau...talvez eu lá chegue. Mas, de qualquer maneira, que é isso? Há tantas coisas a fazer! ...


Mircea Eliade. Bosque Proibido. Tradução de Maria Leonor Buescu. Editora Ulisseia, Lisboa, 1963., p. 9-10
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