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sábado, 19 de novembro de 2011

«Se encontrares uma mulher melhor do que eu, esquecer-me-ás, mas se for pior, recordar-te-ás.»


Leão Tolstoi. O poder das trevas seguido de O Cadáver vivo. Círculo de Leitores, Lisboa, 1980., p. 36

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

VI

  «Oh, se ao menos nada tivesse feito por simples preguiça! Céus, como me teria respeitado. Teria conseguido respeitar-me porque, pelo menos, havia sido capaz de ser preguiçoso; teria havido em mim pelo menos uma qualidade que quase poderíamos dizer positiva e que serviria para eu acreditar em mim mesmo. Pergunta: o que é ele? Resposta: um mandrião. Que agradável teria sido ouvir tal coisa sobre a minha pessoa! Quereria dizer que eu estava absolutamente definido, quereria dizer que havia algo a dizer sobre mim. «Mandrião»: vejam bem, é um chamamento e uma vocação, é uma carreira. Não gracejem, é isso mesmo.»



Fiódor Dostoiévski. Notas do Submundo. Trad. Rosário Morais da Silva. Publicações Europa-América, Lisboa, 2007., p. 17
«Ha, ha, ha! A seguir vais encontrar prazer numa dor de dentes» irão dizer-me às gargalhadas.
 «Bem, mesmo numa dor de dentes há prazer», respondo eu.



Fiódor Dostoiévski. Notas do Submundo. Trad. Rosário Morais da Silva. Publicações Europa-América, Lisboa, 2007., p. 17

sábado, 6 de agosto de 2011

«Mas de que pode um homem decente falar com grande prazer?
   Resposta: de si próprio.
   Pois bem, falarei de mim.»





Fiódor Dostoiévski. Notas do Submundo. Trad. Rosário Morais da Silva. Publicações Europa-América, Lisboa, 2007., p. 10
   «A questão não era apenas não saber como tornar-se malévolo, a questão era não saber como tornar-me no que quer que fosse; nem malévolo nem bondoso, nem numa víbora nem num homem honesto, nem num herói nem num insecto. Agora, vivo a vida no meu canto, martirizando-me com a odiosa e inútil consolação de que um homem inteligente não pode séria e verdadeiramente tornar-se no que quer que seja, só os tolos se tornam nalguma coisa.  Sim, no século XIX, um homem deveria ser, e moralmente tinha de ser, preeminentemente uma criatura desprovida de carácter; um homem de carácter, um homem activo é preeminentemente uma criatura limitada. É esta a minha convicção de quarenta anos. Tenho agora quarenta anos e, a mais completa velhice. Viver mais do que quarenta anos é má educação, é vulgar, é imoral. »





Fiódor Dostoiévski. Notas do Submundo. Trad. Rosário Morais da Silva. Publicações Europa-América, Lisboa, 2007., p. 9
«Saí da casa dele [Bielínski] em estado de êxtase. Parei por um instante na esquina de sua casa, olhei para o céu, para o sol luminoso, para as pessoas que passavam, e compreendi, no mais fundo do meu ser, que aquele tinha sido um momento solene na minha vida, um marco decisivo, que alguma coisa inteiramente nova havia começado.»
 


 Dostoiévski sobre as palavras de Bielínski, em, 'Diário de um Escritor'
«Atormentavam-me até eu ficar envergonhado: levavam-me a ter convulsões e, por fim, fizeram com que ficasse doente, e bem doente me fizeram ficar! Agora, digam-me senhores, não estão por acaso a pensar que estou a exprimir remorsos por alguma coisa, que estou a pedir perdão por alguma coisa? Asseguro-vos que isso me é indiferente...»



Fiódor Dostoiévski. Notas do Submundo. Trad. Rosário Morais da Silva. Publicações Europa-América, Lisboa, 2007., p. 9

terça-feira, 21 de junho de 2011

(como eu compreendo o pobre Piskariov...)


   «Oh, era demais!, já se tornava impossível de suportar. Piskariov precipitou-se para fora, de cabeça e sentidos vazios. Turvou-se-lhe a mente: sem atentar no caminho, sem tino, sem ver, sem ouvir, vagueou todo o dia. Ninguém sabe se dormiu ou não dormiu em qualquer sítio; só no dia seguinte o instinto cego o levou ao seu apartamento, pálido, com um aspecto medonho, o cabelo desgranhado, sinais de loucura no rosto. Fechou-se no quarto, sem deixar entrar ninguém, sem pedir nada. Quatro dias se passaram e o quarto fechado nenhuma vez se abriu; ao cabo de uma semana, o quarto continuava fechado. Chamaram por ele à porta, mas não houve resposta; por fim, arrombaram-na e encontraram o seu cadáver com a garganta cortada. A lâmina ensaguentada estava no chão. Pelos braços convulsamente abertos e pela cara terrivelmente desfigurada podia concluir-se que a sua mão fora certeira e que sofreu ainda muito antes de a sua alma pecadora lhe abandonar o corp
    Assim pareceu, vítima de louca paixão, o pobre Piskariov, quedo, tímido, modesto, ingénuo como um menino, que transportava em si a chispa do talento que talvez, com o correr do tempo, viesse a atear um fogo grande e brilhante. Ninguém chorou a sua morte; ninguém estava ao lado do seu corpo inanimado para além da figura vulgar do chefe de esquadra do bairro e do indiferente médico municipal. Levaram o caixão despercebidamente, sem ao menos as cerimónias religiosas, para o cemitério de Okhta; atrás do féretro apenas um guarda-soldado chorava, e mesmo esse porque bebera uma garrafa de vodca a mais.»


Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 50/1

segunda-feira, 20 de junho de 2011

   

   «Os sonhos acabaram por se tornar a vida dele e, desde então, a sua existência tomou um rumo estranho; pode dizer-se que dormia acordado e estava de vigília no sono. Se alguém o visse sentado em silêncio diante da mesa vazia, ou a andar pela rua, decerto o tomaria por um sonâmbulo, ou por um indivíduo destruído pelas bebidas fortes; o seu olhar estava privado de sentido, a sua distracção natural ampliou-se e, autoritariamente, expulsava da cara todos os sentimentos e movimentos. Apenas se animava com a chegada da noite.»


Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 45

A senhora

«A senhora passou o olhar em volta de todo o círculo de pessoas que ansiavam por atrair a sua atenção, mas logo o desviou, cansada e desatenta, e cruzou os olhos com os de Piskariov. Oh, que céu!, que paraíso!, dá-me forças, Criador, para o suportar!, pois isto não caberá na vida, destruirá, arrebatará a minha alma! Ela fez-lhe sinal, mas não com o gesto de mão ou um aceno de cabeça, não: o sinal relanceou pelos seus olhos demolidores, tão fino e imperceptível que ninguém o pôde ver, tirando Piskariov, que o viu e compreendeu.»




Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 41
«Aquela miscelânea incrível de rostos deixou-o completamente aturdido; parecia-lhe que um demónio qualquer esmigalhara todo o mundo reduzindo-o a mil fragmentos variados e que, depois, misturara sem critério e sem ordem todos esses fragmentos.»




Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 38
«Ficou-lhe retida no peito a respiração, tudo nele se converteu num tremor indefinido, todos os seus sentidos ardiam em fogo, tudo diante dele se vestiu de um nevoeiro.»



Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 32
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