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domingo, 16 de março de 2014

NEVOEIRO

A névoa desce sobre a terra,
abraçada à noite.
Vejo, imprecisamente,
o casario e as luzes
da outra margem do rio.
Mais à direita, ao longe,
são já da névoa a praia, o mar.
Ouve-se apenas o ronco
do farol - um som molhado.
Para os lados dos pinhais,
anda a bruma a fazer medo
e a pôr mais pressa nos passos
de quem lhe quer fugir.
Não há luar, não há estrelas.
De novo, olho para o rio.

Não sei se o vejo:
anda a névoa, já, com ele
e os meus olhos dizem
o que é bruma, o que é rio.
E ela não para:
avança ao meu encontro,
cauta, subtil, insinuante...
Cerca-me.
E eu tenho, apenas
orvalho nas árvores do jardim,
gotas de água que se partem na alameda,
o ar húmido que me trespassa,
os cabelos encharcados
e pensamento de névoa...



Alberto de Serpa in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 324/5
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