os meus remorsos de Deus infernam-me,
[atormentam-me.
A mim nada me espanta ser escuma,
a salsugem da noite na madrugada infinita,
o que me escancara o espanto, o que me assusta
é saber o não saber, é adivinhar com a vista,
(...)»
Jorge Guimarães. Odes Nocturnas. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1990., p. 57
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domingo, 19 de janeiro de 2014
as bibliotecas ardem, as gerações
enchem o corpo-santo do mundo,
e nesta fila sei que agora sou eu,
e somos todos tão iguais, todos tão medonhos,
a habitar os sonhos uns dos outros
no pesadelo de nos metermos medo.
A voz das coisas habita-me de nada,
a minha nau chamou-se esquecimento,
quantas mãos seguraram este crânio vivo,
escuto-me na noite a noite sem manhã,
a voz das coisas faz o silêncio do mundo,
o vento atravessa as pedras com frio,
a sucessão dos dias é isenta de mim mesmo,
mas ataca-me de frio como o vento às pedras.
3.00, 22/7/87, Funchal.
Jorge Guimarães. Odes Nocturnas. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1990., p. 53
enchem o corpo-santo do mundo,
e nesta fila sei que agora sou eu,
e somos todos tão iguais, todos tão medonhos,
a habitar os sonhos uns dos outros
no pesadelo de nos metermos medo.
A voz das coisas habita-me de nada,
a minha nau chamou-se esquecimento,
quantas mãos seguraram este crânio vivo,
escuto-me na noite a noite sem manhã,
a voz das coisas faz o silêncio do mundo,
o vento atravessa as pedras com frio,
a sucessão dos dias é isenta de mim mesmo,
mas ataca-me de frio como o vento às pedras.
3.00, 22/7/87, Funchal.
Jorge Guimarães. Odes Nocturnas. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1990., p. 53
«(...)
perder o amor ao desviar a cara,
perder tudo, enfim, que já perdido
nasci, mas indagando sempre
cara, pedra, rumor, bátega, folha,
nas peças do processo em que me julgo
por não acreditar no que mais amo.
28/06/1987, Stonehenge, Londres.
Jorge Guimarães. Odes Nocturnas. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1990., p. 29
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
a mastigada dor de não poder
com os dedos tocar o Sol e a Lua,
a mágoa vil de me apodrecer
rumor e cócega dos vermes que me tomam
até ficar apenas dos meus ossos
a mais ímpia e crua gargalhada,
quanto mais só me fico e demoro
os ombrais do destino aproximando,
choro, Senhor, de rastos choro,
miserando, Senhor, tão miserando,
que no côncavo do ventre do meu nada
o meu eco tornasse, em Vós tocando.
24/6/87, Herdade do Sobrado.
Jorge Guimarães. Odes Nocturnas. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1990., p. 21
com os dedos tocar o Sol e a Lua,
a mágoa vil de me apodrecer
rumor e cócega dos vermes que me tomam
até ficar apenas dos meus ossos
a mais ímpia e crua gargalhada,
quanto mais só me fico e demoro
os ombrais do destino aproximando,
choro, Senhor, de rastos choro,
miserando, Senhor, tão miserando,
que no côncavo do ventre do meu nada
o meu eco tornasse, em Vós tocando.
24/6/87, Herdade do Sobrado.
Jorge Guimarães. Odes Nocturnas. Colecção Poesia e Verdade. Guimarães Editores, Lisboa, 1990., p. 21
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