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domingo, 28 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Degolação dos Inocentes


Tris trás. Zigue zague, rigue rague, milgue malgue. A pele era tão recente que saía íntegra. Crianças e nozes de casca recém-formada.
Os guerreiros tinham raízes milenárias e o céu cabeleiras embaladas pelo hálito dos anfíbios. Era preciso fechar as portas. Pepito. Manolito. Enriquito. Jaimito. Emilito.
Quando ficarem loucas, as mães hão-de querer construir uma fábrica de chapéus de pórfiro, mas com esta crueldade nunca poderão atenuar a ternura dos seus peitos derramados.
Os tapetes eram enrolados. O ferrão da abelha tornava possível o manejo de espada,
Era necessário o ranger de ossos e o rebentar dos açudes dos rios. Uma bacia e basta. Mas uma bacia que não se assume com o jacto interminável que há-de soar durante três dias.
Subiam às torres e desciam até aos búzios. Por fim, uma luz de clínica venceu a untosa luz do hospital. Já era possível operar com todas as garantias, Iodofórmio e violeta, algodão e prata de ouro mundo.Vão entrando! Há pessoas que se atiram das torres para os pátios e outras, desesperadas, que espetam tachas nos joelhos. A luz da manhã era cortante e o vento oleoso tornava possível a ferida menos esperada.
Jorgito. Alvarito. Guilhermito. Leopoldito. Julito. Joseíto. Luisito. Inocentes. O aço precisa de calores para criar as nebulosas, e lá vamos à incansável lâmina! É melhor ser medusa e flutuar, do que ser criança. Alegríssima degolação! Função lógica do sangue sem luz, que sangra as suas paredes.
Chegavam das ruas mais distantes. Todos os cães levavam um pezinho na boca. O pianista louca apanhava unhas rosadas para construir um piano sem emoção, e os rebanhos baliam com os pescoços partidos.
É preciso ter duzentos filhos e entregá-los à degolação. Só desta forma seria possível a autonomia do lírio silvestre.
Vinde! Vinde! Aqui está o meu filho tão macio, o meu filho de pescoço fácil. Poderás degolá-lo facilmente no patamar da escada.
Dizem que está a ser inventada a navalha eléctrica, para reanimar a operação.
Recordais-vos do rouxinol com as duas patas partidas? Estava entre os insectos criadores dos frémitos e das cuspidelas. Pontas de agulha. E teias de aranha sobre as constelações. Dá vontade de um verdadeiro riso pensarmos como a água está fria. Água fria nas areias, nos céus frios e nos dorsos de caimão. Aqui, nas ruas, corre o mais escondido, o mais saboroso, o que bate os dentes e faz empalidecer as unhas. Sangue. Com toda a força do seu g.
Se medirmos e estivermos cheios de piedade verdadeira, a degolação parecer-nos-á uma das grandes obras de misericórdia. Misericórdia do sangue cego que, seguindo a lei da sua natureza, quer desaguar no mar. Nem sequer houve uma voz. O chefe dos hebreus atravessou a praça para acalmar a multidão.
Às seis da tarde não restavam mais de seis meninos por degolar. Os relógios de areia continuavam a sangrar mas as feridas já estavam todas secas.
Já todo o sangue cristalizara quando as lanternas começaram a aparecer. Nunca haverá no mundo outra noite igual àquela. Noite de vidros e mãozinhas geladas.
Os seios enchiam-se de leito inútil.
O leite materno e a lua travaram a batalha dos mármores e lá deixava espetadas as suas últimas raízes enlouquecidas.


Frederico García Lorca in Anjo & Duende. Trad. Aníbal Fernandes. Assírio & Alvim, 2007, pp 38/40

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

terça-feira, 13 de outubro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

XXVI



Agora só me resta ouvir,
Para juntar o que oiço a este canto, para deixar que os sons contribuam para
ele.

Oiço bravuras de pássaros, o rumor do trigo que cresce, o crepitar das
chamas, o crepitar da lenha com que cozinho,
Oiço o som que amo, o som da voz humana,
Oiço todos os sons, juntos, combinados, fundidos ou seguindo-se,
Sons da cidade e sons fora da cidade, sons do dia e da noite,
Jovens conversando com quem gostam, o alto risco dos trabalhadores quando
almoçam,
Os irados sons da amizade quebrada, a voz débil dos doentes,
O juiz com as mãos agarradas à secretária, com os lábios pálidos ditando uma
sentença de morte,
As elevadas vozes dos estivadores descarregando os navios junto ao molhe,
o refrão dos que levantam a âncora,
As sirenes de alarme que tocam, o grito de fogo, o zumbido imediato dos
motores de dos carros dos bombeiros com as sirenes e as luzes de
cores,
O silvo do vapor, o sólido rodar da caravana de carroças que se aproximam,
A marcha lenta tocada à cabeça do grupo que avança aos pares,
(Vão a algum funeral, as bandeiras estão cobertas de musselina negra).

Oiço o violoncelo, (é o lamento de um coração jovem),
Oiço a corneta de chaves penetrando velozmente nos meus ouvidos,
Fazendo estremecer o meu ventre e o meu peito num doce espasmo.

Oiço o coro da ópera,
Ah, isto sim, é música - isto está em harmonia comigo.

Grandiosa e fresca como a criação enche-me a voz do tenor,
A órbita flexível da sua boca derrama-se e sacia-me.

Oiço a perfeita soprano (que vale o meu canto comparado com o seu?)
A orquestra conduz-me em círculos mais largos que os de Urano,
Desperta-me ardores de que nunca suspeitara,
Faz-me navegar, tocar águas com os pés nus, as ondas que os lambem
indolentemente,
O granizo bate-me com toda a fúria, perco o ânimo,
Mergulho na doce morfina, estrangulam-me os falsos sinais da morte,
Por fim, de novo me ergo para sentir o enigma dos enigmas,
Isso a que chamamos Ser.


Walt Whitman
in Canto de Mim Mesmo
Assírio & Alvim, 1999

I


Celebro-me e canto-me,
E aquilo que assumo tu deves assumir,
Pois cada átomo que a mim pertence a ti pertence também.

Vagueio e convido a minha alma,
À vontade vagueio e inclino-me a observar a erva do Verão.
A minha língua, cada átomo do meu sangue, composto deste solo, deste ar,
Aqui nascido de pais aqui nascido de outros pais aqui nascido, e dos seus
pais também
Eu, aos trinta e sete anos, de perfeita saúde começo,
Esperando que só a morte me faça parar.

Suspensos os credos e as escolas,
Retiro-me por certo tempo, deles saturado mas não esquecido,
Sou o porto do bem e do mal, e seja como for falo,
Natureza sem obstáculos com a sua energia original.


Walt Whitman
in Canto de Mim Mesmo
Assírio & Alvim, 1999

quarta-feira, 29 de julho de 2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009



“A dança é a uma canção do corpo, quer seja de alegria ou de dor”

Martha Graham (1901-1985)
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