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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

"Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e o instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia."

-"Poesia e Prosa: 1940- 1980"
- Eugénio de Andrade

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Esta noite preciso de outro verão sobre a boca
crescendo nem que seja de rastos.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

"O silêncio é a minha maior tentação. As palavras, esse vício ocidental, estão gastas, envelhecidas, envilecidas. Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem. Também apaziguam, é certo, mas é tão raro! Por cada palavra que chega até nós, ainda quente das entranhas do ser, quanta baba nos escorre em cima a fingir de música suprema! A plenitude do silêncio só os orientais a conhecem".


 Eugénio de Andrade

domingo, 20 de julho de 2014

sobre Eugénio de Andrade


«(...), viveu sempre extremamente distanciado do que se chama vida social, literária ou mundana, avesso à comunicação social, arredado de encontros, colóquios, congressos, etc., e as suas raras aparições em público devem-se a ''essa debilidade do coração, que é a amizade''.»

sexta-feira, 27 de junho de 2014

«Os navios existem e existe o teu rosto/ encos-
tado ao rosto dos navios.»

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Presumível retrato da poeta grega Safo.
Pintura proveniente de Pompeia. Colecção Roger-Viollet

Semelhante aos deuses me parece
o homem que diante de ti se senta
e, tão doce, a tua voz escuta,

ou amoroso riso – que tanto agita
meu coração de súbito, pois basta ver-te
para que nem atine com o que diga,

ou a língua se me torne inerte.
Um subtil fogo me arrepia a pele,
deixam de ver meus olhos, zunem meus ouvidos,

o suor inunda-me o corpo de frio,
e tremendo toda, mais verde que as ervas,
julgo que a morte não pode já tardar.


Eugénio de Andrade. Poemas e Fragmentos de Safo. Porto, Limiar, 1974

terça-feira, 2 de novembro de 2010


«Terei de reconhecer que falo de mim mais do que devia mas, em prosa, ninguém me voltará a encontrar noutro sítio – prometo»


Eugénio de Andrade in À Sombra da Memória (1993)

domingo, 16 de maio de 2010

«Toda a poesia é luminosa, até/ a mais obscura.»


Eugénio de Andrade
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