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domingo, 1 de dezembro de 2013

«Dei-lhe o meu ácido e ele morreu», disse o médico. «E, dez minutos depois, a galinha morta pôs-se em pé; esfregou-se contra o vidro como um gato, e vi a sua cabeça de gato. Foi morte de dez minutos.»


Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p. 69

domingo, 24 de novembro de 2013

«Estamos nus? Temos os nossos ossos e os nossos órgãos, a nossa pele e a nossa carne. Há uma fita de sangue a prender o teu cabelo. Não tenhas medo. Tens um tecido de veias à volta das coxas. O mundo passou numa carga sobre eles, o vento caiu em nada, soprando os frutos da batalha sob a lua. Peter ouviu as canções dos pássaros, mas não eram como as que ouvira aos pássaros, no parapeito do quarto, lançar das gargantas. Os pássaros estavam cegos.»


Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p. 58

boca parda

''Vem sentar-te e lê para mim, Rhianon.''

   «As mãos estavam cansadas, apesar de toda a noite terem repousado em cima dos lençóis da cama e ele só as ter levado à boca e ao seu coração revolto.»


Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p. 51
«Lá fora na noite andavam à procura dum louco. Tinha os olhos verdes, diziam, e tinha desposado uma senhora. Diziam que lhe tinha cortado os lábios porque sorria aos homens. Levaram-no, mas roubou a faca da cozinha e retalhou o guarda e evadiu-se para os vales brancos.»


Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p. 46
«Se achasse o sono, o sono seria uma rapariga. Nas duas últimas noites, ao caminhar ou correr pela região deserta, tinha sonhado com aquele encontro. «Deita-te», diria ela, e dar-lhe-ia do seu vestido para ele se deitar, estendendo-se ao seu lado. Tinha ele sonhado, e as vergônteas sob os pés fugitivos feito um ruído como o roçagar do vestido dela, quando o inimigo gritou nos campos.»


Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p. 45

''Não compreendia o frio no seu coração''

«Achou que era uma mulher misteriosa que gostava do escuro porque era escuro. Era velho demais para questionar os segredos da escuridão, e agora, com o fato preto rasgado e molhado e as mãos finas envoltas nas ligaduras da estranha mulher, sentiu-se mais velho do que nunca.»



Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p. 37

terça-feira, 19 de novembro de 2013

«(...); ali o silêncio batia como um coração humano. E ao sentar-se sob os montes cruéis, ouviu uma voz que estava nele a gritar: «Porque me trouxeste aqui?»



Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p.28

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

 
«Rezei à arvore», disse a criança.
 «Reza sempre a uma árvore», disse o jardineiro, pensando no Calvário e no Éden.
 «Rezo à árvore todas as noites.»
 «Reza a uma árvore.»
 O arame escorregou nos dentes.
«Eu rezo àquela árvore.»
O arame rebentou.
 
 
(...)
 
«Deus cresce em lugares estranhos», disse o velho. «As árvores d'Ele vêm ficar a lugares estranhos.»
 À medida que ele ia desenrolando a história dos doze passos da cruz, a árvore acenou os ramos à criança. Uma voz de apóstolo elevou-se dos pulmões poluídos.
  Então içaram-no a uma árvore e espetaram-lhe cravos na barriga e nos pés.
  Havia o sangue do sol do meio-dia no tronco da antiga, manchando a casca.»



Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p.24/5
«Estendeu a mão e acariciou o escuro, pensando sentir uma cabeça seca e de veludo deslizar sob os dedos e alojar-se, como nevoeiro, nas unhas. Mas nada havia. Abriu a porta da frente e as sombras escaparam para o jardim.»



Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p.22
«Começou a chorar e depois parou, não havendo razões para lágrimas. A noite estava ventosa e fria, ele estava quente sob os lençóis; a noite era grande como um monte, ele era um rapaz na cama.»



Dylan Thomas. Uma Visão do Mar e outros contos. Tradução de Nuno Vidal, 2ª edição,Vega, Lisboa,  p.21

sábado, 22 de setembro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

NÃO ENTRES DOCILMENTE NESSA NOITE SERENA

Não entres docilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.

No fim, ainda que os sábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram docilmente nessa noite serena.

Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis acções ter dançado na baía verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E os loucos que colheram e cantaram o voo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram docilmente nessa noite serena.

Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega
quando os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entre docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.





Dylan Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel. Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 41

E A MORTE PERDERÁ O SEU DOMÍNIO


«E a morte perderá o seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio»

(...)


Dylan Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel. Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 39

''porque vem a pedra feri-lo e é suave a seda.''

Dylan Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel. Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 35
«  este meu vinho que bebes, este pão de que te alimentas.»




Dylan Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel. Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 33

'' e eu, preso pelas garras do sol, caminho sobre as chamas''

A FORÇA QUE IMPELE ATRAVÉS DO VERDE RASTILHO A FLOR

A força que impele através do verde rastilho a flor
impele os meus verdes anos; a que aniquila as raízes das árvores
é o que me destrói.
E não tenho voz para dizer à rosa que se inclina
como a minha juventude se curva sob a febre do mesmo inverno.

A força que impele a água através das pedras
impele o meu rubro sangue; a que seca o impulso das correntes
deixa as minhas como se fossem de cera.
E não tenho voz para que os lábios digam às minhas veias
como a mesma boca suga as nascentes da montanha.

A mão que faz oscilar a água no pântano
agita mais ainda a areia; a que detém o sopro do vento
levanta as velas do meu sudário.
E não tenho voz para dizer ao homem enforcado
como da minha argila é feito o lodo do carrasco.

Como sanguessugas, os lábios do tempo unem-se à fome;
fica o amor intumescido e goteja, mas o sangue derramado
acalmará as suas feridas.
E não tenho voz para dizer ao dia tempestuoso
como as horas assinalam um céu à volta dos astros.

E não tenho voz para dizer ao túmulo da amada
como sobre o meu sudário rastejam os mesmos vermes.



Dylan  Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel.  Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 21
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