«Ergueu a toalha. Havia na carreta doze canos de aço azul e frio; na extremidade de cada um deles desabrochava uma bonita rosa branca e fresca, sombreada de bege no côncavo das pétalas aveludadas.
-Oh!... - murmurou Colin. - Como são belas!...
O homem não dizia nada. Tossiu duas vezes.
- Não vale a pena continuar amanhã o seu trabalho - disse hesitante.
Os dedos agarravam-se nervosamente à borda da carreta.
-Posso colhê-las? - perguntou Colin. - Para a Chloé.
-Se as separar do aço murcham - disse o homem. - São de aço, como sabe...
- Não é possível - disse Colin.
Agarrou com delicadeza numa rosa e tentou quebrar-lhe o pé. A um movimento desastrado uma das pétalas fez-lhe um golpe com vários centímetros de comprimento. A mão sangrava com pulsações lentas, grandes golfadas de sangue escuro que ele chupava com um ar absorto. Olhava para a pétala branca, marcada por um crescente vermelho, e o homem bateu-lhe no ombro empurrando-o suavemente em direcção à porta.»
Boris Vian. A Espuma dos Dias. Tradução revista, apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Relógio D'Água, 2001, p. 175/6