O vento da dor,
cegando-lhe os olhos,
agitado areal que se move
insone e sem perguntas.
A sua indiferença cala,
enche de sombria luz
o sonolento abraço
de uma cruel desmemória,
ali, onde se extinguem
latidos e desejos,
o vínculo impossível
que faz mover o mundo.
E aperta-se na sua cabeça
uma garra de pedra,
irrespirável boçal,
arduamente enquistados
no longo horizonte
das horas, fazendo-o descer
à sua perversa prisão.
E uma voz, a mais verdadeiramente sua,
sobre outras se amotina,
com o seu nome de fogo,
eleva-o, reclama-o.
E continua e não se rende,
um dia e outro dia
insiste obstinadamente
mas não para viver,
somente para dar
o seu cruel testemunho.
Justo Jorge Padrón. Extensão da Morte. Editorial Teorema, 2000., p. 41