ESTRAGON Há quanto tempo é que estamos juntos?
VLADIMIR Não sei. Talvez há cinquenta anos.
ESTRAGON Lembras-te do dia em que me atirei ao rio
Ródano?
VLADIMIR Andávamos nas vindimas.
ESTRAGON Foste tu que me tiraste lá de dentro.
VLADIMIR Isso já está morto e enterrado.
ESTRAGON As minhas roupas secaram ao sol.
VLADIMIR Não penses mais nisso. Anda.
Arrasta-o consigo. Como antes.
ESTRAGON Espera.
VLADIMIR Estou com frio!
ESTRAGON Espera! (Afasta-se de Vladimir.) Não sei se
não estaríamos melhor sozinhos, cada um
para o seu lado. (Atravessa o palco e senta-se
no monte de terra.) Não fomos feitos para o
mesmo caminho.
VLADIMIR (sem se ofender) Vai-se lá saber.
ESTRAGON Pois é, nunca se sabe.
Vladimir atravessa o palco lentamente e
senta-se ao lado de Estragon.
VLADIMIR Se achas que é melhor, podemos sempre se-
parar-nos.
ESTRAGON Agora já não vale a pena.
Silêncio.
VLADIMIR Pois, agora já não vale a pena.
Silêncio.
ESTRAGON Então, vamos embora?
VLADIMIR Vamos.
Não se mexem.
Samuel Beckett. À espera de Godot. Trad. de José Maria Vieira Mendes. 3ª edição, Edições Cotovia, 2006., p.73
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