domingo, 5 de dezembro de 2010

Forma da ausência

XII
 
Este quarto tornou-se um poço profundo.
O candeeiro é uma estrela pregada na água.
A cama infantil no seu lugar; os lençóis, por agora
lançam reflexos circulares
enquanto à superfície da toalha
as horas lentas, imponderáveis, caem como fetos
de palha,
nela traçando círculos invisíveis. Ninguém fala
no interior - e se falasse ninguém ouviria. Quando
um copo
tomba, cai sem fazer ruído na palma do silêncio.
Não se quebra.
Sozinho, dissolvido da na água, o antigo grito da
separação
torna o poço mais sombrio e mais profundo.
 
 
 
 
Yannis Ritsos. poemas. Selecção e Trad. de Egito Gonçalves. Prefácio de Carlos Porto. 1ª ed. Fevereiro, 1984. Editora Limiar., p.36

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