«Que o homem é tão estranho na sua existência,
Tão raro no seu fado, tão obscuro na sua origem,
Que ante coisas tão simples perdemos a voz.
Tão ridículo, tão bizarro, tão real, irreal
E contudo tão triste! Como exprimir tudo isto?
Tivesse em mil línguas, mil maneiras
De expressar meu pensar e uma ideia só a dizer
Inda a mente me oprimiria ante um pensamento
Que amaldiçoa a palavra.
Sim, por vezes acho
Que vou ter a resposta de tudo; só que então
Algo demasiado horroroso em si aparece,
Uma loucura que alastra, uma ausência de luz,~
E de novo emudeço.
Quando medito sobre
Este espaço imenso, silencioso, interminável,
Sinto a vertigem do viandante que olha
Arrebatado sobre o fundo de um abismo,
Em escuro envolvido, donde se soltam terríveis sons -
Assim é estridente na minha alma o som solene
Do pensamento em si pesado.
Eu te dou algo para pensar, mas retém uma só
Palavra - uma pequena palavra, amigo - «Deus»
E diz-me tudo o que nela está. Ou então não digas
E pensa somente.
Alexander Search (1904). Poesia. Ed e Trad. Luísa Freire. Assírio&Alvim, Lisboa, 1999., pp. 323
domingo, 17 de outubro de 2010
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