para Margarida e António Gonzalez de Léon
Árvores carregadas de pássaros
sustêm a tarde a pulso.
Arcos e pátios. Entre vermelhos
muros, verde peçonha, um tanque.
Um corredor leva ao santuário:
mendigos, flores, lepra, mármores.
Túmulos, dois nomes, suas histórias:
Nizam Uddin, teólogo andarilho,
Amir Khusrú, língua de papagaio.
O santo e o poeta. Austero.
brota um luzeiro duma cúpula,
evola-se o odor do tanque.
Amir Khusrú, papagaio ou rouxinol:
um e outro em cada instante,
obscura a mágoa, a voz diáfana.
Sílabas, errantes incêndios,
vagabundas arquitecturas:
todo o poema é tempo e arde.
Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.83
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