-Foi por isso justamente que me armei em escultor: faço estátuas. As minhas estátuas não são como as outras, meu velho, têm vida...Vida, percebes?...Em vez de fazer carne com a minha carne, faço vida com as minhas mãos; isto é, com o meu cérebro, que as conduz. Faço vida, o tempo passa sobre as minhas estátuas, não passa sobre mim...
(...)
-Pateta...Mulheres?Para quê?Não tenho as minhas estátuas, não tenho mármore?...Dizem vocês os literatos cretinos, descrevendo o corpo de uma mulher ideal: «As suas pernas bem torneadas e nervosas, eram duas colunas de rijo mármore; o seu colo alabrastro puro.» Sim, apesar da vossa grande imbelicidade , vocês compreendem que a suprema beleza da carne está em parecer pedra ...Ora eu tenho pedra; para que hei-de querer carne, pateta? E a dizer isto, acariciava os seios de uma maravilhosa dançarina grega.
Mário de Sá-Carneiro. Loucura. Publicações Europa-América, .p.8/9
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