terça-feira, 10 de agosto de 2010

182

O nome dos nomes conseguido

Se, por ti, criei um mundo para ti,
deus, tu tinhas que a ele vir, sem dúvida,
e tu vieste a ele e a mim,
porque o meu mundo era a minha esperança.

Eu acumulei a minha esperança
em língua, em nome falado, em nome escrito;
a tudo eu tinha dado nome
e tu tomaste o lugar
de todos esses nomes.

Agora posso deter já meu movimento,
como a chama se detém em brasa rubra
com um esplendor de inflamado ar azul,
na brasa do meu perpétuo estar e ser;
agora sou já o meu mar paralisado,
o mar em que eu falava, mas não duro,
paralisado em ondas de consciência em luz
e todas vivas, voltadas para cima, para cima.

Todos os nomes que dei
ao universo que por ti eu me recriava
estão a converter-se em um só e em um
deus.

O deus que é sempre ao fim,
o deus criado e recriado e recriado
por graça e sem esforço.
O Deus. O nome dos nomes conseguido.

Juan Ramón Jimenez. Antologia Poética. Selecção e Trad. de José Bento. Relógio D'Água, 1992, p. 166/7

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