quarta-feira, 7 de julho de 2010

«(…) Ó friorento Cristo atraiçoado / Pelo culto que te usurpa a leda fala! / Pois no caudal dos deuses és o facho / De uma meiga alegria que faltava. // Vieste para beber as nossas lágrimas / Com o mesmo amor com que bebias vinho, / Campos humildes, ó deus plebeu, lavravas / E eras nas bodas campestre bailarino, // Doce derriço das samaritanas, / Consolação de corações esquecidos, / Companheiro gentil de putas santas, / Irmão de adúlteras, estrela dos vadios».


Natália Correia. O Sol nas Noites e o Luar nos Dias II. Lisboa. Círculo de Leitores, 1993., p. 227.

1 comentário:

  1. (...) Diz-me muito mal de Deus.
    Diz que ele é um velho estúpido e doente,
    Sempre a escarrar para o chão
    E a dizer indecências.
    A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
    E o Espírito Santo coça-se com o bico
    E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
    Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
    Diz-me que Deus não percebe nada
    Das coisas que criou -
    "Se é que ele as criou, do que duvido." -
    "Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
    Mas os seres não cantam nada.
    Se cantassem seriam cantores.
    Os seres existem e mais nada,
    E por isso se chamam seres."
    E depois, cansado de dizer mal de Deus,
    O Menino Jesus adormece nos meus braços
    E eu levo-o ao colo para casa.(...)

    Não conhecia este poema . Lembrou-me o Caeiro.Florbela Espanca é mesmo genial.

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