« (...)o que é preciso é compenetrarmo-nos de que, na leitura de todos os livros, devemos seguir o autor e nao querer que ele nos siga.»
Fernando Pessoa. Páginas Íntimas e de Auto-interpretação. Ed. por Jacinto do Prado Coelho e Georg Rudolf Lind, Lisboa, 1966, p. 116.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
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ResponderEliminartenho uma tendência incontornável para acreditar naquele homem que cem anos atrás tinha mais de mil livros e acumulava muitas e diversas sabedorias, um homem de H grande, notável.
ResponderEliminara propósito da frase, do dito, do pensamento que aqui poderá estar sequenciado de um outro raciocínio que desconheço devo dizer que como num livro de receitas ao alterar a dosagem menos farinha, mais um pouco de açúcar e talvez num fim uma cereja, o leitor segue sempre o autor e sempre tem a liberdade de acrescentar, personalizar. e assim é no romance na análise de contextos e personagens, no dispor das simpatias, no incómodo das maldades, sendo as histórias reais ou irreais, e o leitor segue o enredo e gosta, ou não gosta e larga, e interroga porque não mais paisagem, não mais um pouco de característica, mais acentuada, mais próxima da realidade, realidade essa a do leitor, da sua própria personalidade.
assim como na poesia, a máxima e única de "Pessoas", em quadras, sonetos, canções, análises profundas de universos e as mãos de Álvaro de Campos a tornear as emoções e no fim o dizer "sinta quem lê", sinta quem quiser, quem ousar entrar, siga-me o leitor, se quiser.
E assim eram os múltiplos lugares de uma génese de palavras, totalmente coerente com a afirmação de alguém que escreveu um milhão de palavras, publicou um só livro, e teve apenas três pessoas no funeral.
gosto de acreditar que o autor autêntico partilha a alma, segue a sequência da mão que escreve, que solta as frases sem alternativa porque surgem como lava, como magma. por vezes são apreciadas, são publicadas e os leitores seguem , não como sagas, como fórmulas bem montadas para prender os leitores como tantas acontece nas literaturas modernas de Dan Brown, o tal que se dependura para que o sangue lhe desça e não suba à cabeça na descoberta de enredos.
Em tempos li três livros de Isabel Allende e por fim um quarto de nome "Paula" que resumia de forma dramática a história autêntica da autora quando há cabeceira velava a sua filha, em coma, que viria a falecer. neste contexto de drama, humano e sentido descobri os fundamentos dos seus enredos, o soltar de vulcão da sua escrita em noites intensas para escrever os primeiros livros e voltar ao trabalho de jornalista de olheiras fundas e olhos caídos, exaustos, mas raiados de brilhos naquelas "páginas íntimas" que nunca saberia se veriam a luz de um horizonte.
sendo assim digo Pessoa escrevia para libertar as palvras, as folhas dos seus significados, das suas emoções sob formas disfarçadas, como acho que todos os autores fazem. esta frase na sua intimidade é totalmente verdadeira, este homem do mundo é seguido por milhões e redito e reconfigurado em quadros e teatros, é analisado à pessoalidade dos investigadores, é imortalizado, e não me consta que alguma vez estivesse preocupado em seguir aquilo que os leitores desta ou da próxima época queriam. concordo. concordo com Pessoa.
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ResponderEliminarpeço imensa desculpa pela duplicação dos comentários. o facto é que um virtual aviso de excesso de palavras informou que não poderiam ser todas aceites e como tal fiz segundo. a realidade é que reconsiderou e resolveu dizer: " vá lá... só desta vez, eu publico".
ResponderEliminarCaro José,
ResponderEliminarmea culpa. Passei muito rápido pelo blogue e aprovei os comentários (claro, com engano de um envio). Apago.
Cumprimentos.