terça-feira, 23 de março de 2010

«Rilke não procura dar conselhos sobre composição poética e evita o papel de crítico que, ao contrário de Virginia Woolf, considera inútil ou nefasto, pois as obras de arte « são de uma solidão infinita». Em termos práticos, limita-se a sugerir que evite o caminho demasiado percorrido da poesia de amor, até porque «num único pensamento criativo revivem mil noites de amor esquecidas».Rainer Maria Rilke defende a poesia como expressão de uma realização interior; a arte como forma de vida, vê na busca das profundezas de si, nas recordações de infância, na depuração dos sentimentos pela solidão, a espera e o sofrimento, a garantia da autenticidade»

Excerto do Prefácio de Francisco Vale ao livro:
Rainer Maria Rilke e Virginia Woolf in Cartas a Jovens Poetas. Relógio D'Água Editores, 2003., pp 19

2 comentários:

  1. Gosto disto.

    Sobre sinceridade(s), segue :

    « O poeta superior diz o que efectivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir. Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar, ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa no poeta. Tanto assim é que não creio que haja, em toda a já longa história da Poesia, mais que uns quatro ou cinco poetas, que dissessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam. Há alguns, muito grandes, que nunca o disseram, que foram sempre incapazes de o dizer. Quando muito há, em certos poetas, momentos em que dizem o que sentem.
    Aqui e ali o disse Wordsworth. Uma ou duas vezes o disse Coleridge; pois a Rima do Velho Nauta e Kubla Khan são mais sinceros que todo o Milton, direi mesmo que todo o Shakespeare. Há apenas uma reserva com respeito a Shakespeare: é que Shakespeare era essencial e estruturalmente factício; e por isso a sua constante insinceridade chega a ser uma constante sinceridade, de onde a sua grandeza.
    Quando um poeta inferior sente, sente sempre por caderno de encargos. Pode ser sincero na emoção: que importa, se o não é na poesia? Há poetas que atiram com o que sentem para o verso; nunca verificaram que o não sentiram. Chora Camões a perda da alma sua gentil; e afinal quem chora é Petrarca. Se Camões tivesse tido a emoção sinceramente sua, teria encontrado uma forma nova, palavras novas — tudo menos o soneto e o verso de dez sílabas. Mas não: usou o soneto em decassílabos como usaria luto na vida.
    O meu mestre Caeiro foi o único poeta inteiramente sincero do mundo.

    Fernando Pessoa, in 'Ideias Estéticas - Da Literatura' »

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  2. Bem, a minha caixa de comentários devia pôr-se sempre assim, com excertos de textos (ehehheheh)
    Obrigada.


    Bem, eu costumo ir a Lisboa, alguns fins de semana. Que tal combinares com a Cristina, para darmos uma saída (?)


    Aceitam-se saídas à tarde, também. Cinemateca, ou assim.

    BEijo.

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