Há que deixar no mundo as ervas e a tristeza,
e ao lume de águas o rancor da vida.
Levar connosco mortos o desejo
e o senso de existir que penetrando
além dos lodos sob as águas fundas
hão-de ser verdes como a velha esperança
nos prados de amargura já floridos.
Deixar no mundo as árvores erguidas,
e da tremente carne as vãs cavernas
aos outros destinadas e às montanhas
que a neve cobrirá de álgida ausência
Levar connosco em ossos que resistam
não sabemos o quê de paz tranquila.
E ao lume de águas o rancor da vida.
Madrid, 4/9/1972
Jorge de Sena in Obras de Jorge de Sena Antologia Poética. Edições Asa, 1ª ed. 1999
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
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