domingo, 20 de agosto de 2023

 «Se lhe era permitido passar as manhãs no seu quarto a ler, a escrever ou a traduzir do grego, a meio da tarde tinha de se transformar na jovem bem-educada a participar nos rituais sociais, usar um vestido de cerimónia e conversar durante o chá de acordo com a tradição vitoriana.»

in Prefácio

 Virginia Woolf. Um Quarto Só para Si. Tradução e Prefácio de Maria de Lourdes Guimarães.

Relógio D'Água., p. 10

sábado, 19 de agosto de 2023

 ''parece que acabamos sempre a projectarmo-nos uns nos outros.''

Madalena Folgado

Mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa



 

Euclides

A cada um a sua montanha.


Liz Vahia
Licenciada em antropologia pela Universidade de Coimbra. Doutoranda no programa Filosofia da Ciência, Tecnologia Arte e Sociedade, da Universidade de Lisboa.

“totems de conceitos”

''O fogo criador''

 Liz Vahia

Licenciada em antropologia pela Universidade de Coimbra. Doutoranda no programa Filosofia da Ciência, Tecnologia Arte e Sociedade, da Universidade de Lisboa.

''Uma imagem-que-foi transformada agora numa imagem-ainda-a-ser, ou numa “arte ainda por vir” atingida já pela fúria do impacto da sua aparição.''


Liz Vahia
Licenciada em antropologia pela Universidade de Coimbra. Doutoranda no programa Filosofia da Ciência, Tecnologia Arte e Sociedade, da Universidade de Lisboa.




 

''destruição construtiva''

 ''a arte pode ter como origem a sua própria destruição, a imagem pode reinventar-se a si mesma e reproduzir-se como imagem tendo por base a destruição da própria imagem.''

Liz Vahia
Licenciada em antropologia pela Universidade de Coimbra. Doutoranda no programa Filosofia da Ciência, Tecnologia Arte e Sociedade, da Universidade de Lisboa.



''tentação idolátrica''

“carne divina”

 a objectividade e verdade da representação estão ameaçadas pela actividade construtiva do sujeito.

Fernando Gil in Mimesis e Negação (1984)

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

John Parish - Sorry for your loss (Feat. PJ Harvey)

dealbar

Mont Noir

 «Não foi por estudar muito e por ler muito que adoeci dos nervos aos 21 anos, foi por viver num ambiente deprimente.»

Adília Lopes. Manhã. Assírio&Alvim. Porto Editora, 2015., p. 126

 AÇÚCAR


Barthes escreveu já não sei onde cito de cor: o

açúcar é violento. Acho que tem razão.


Adília Lopes. Manhã. Assírio&Alvim. Porto Editora, 2015., p. 94

PJ Harvey - August


Tree-tears vall
Wordle wide
All of us
Cross o'er t'other side
'Vore I leave
Someone please
Love me tender
'Neath the trees

Love me tender
Love me sweet
All memories will fade

Lorn of leaf
Twiddicks sigh
Child
Season mortify

lambareira

aguadas

 PALAVRAS CARAS


 Em minha casa, detestávamos pessoas bem -

-falantes, palavras caras. De uma vez, apareceu a 

prima Maria Lucília a dizer já não sei porquê:

- Fiquei muito confrangida.

Passámos a chamar-lhe « a confrangida».

Sempre que aparecia alguém na televisão a 

declamar poesia ou a falar de poesia, desligáva-

mos a televisão.


Adília Lopes. Manhã. Assírio&Alvim. Porto Editora, 2015., p. 56

snobíssimo

 «CROFTS

[Lívido.] O diabo que te carregue!

VIVIE

Não é preciso, já me sinto num inferno.»


Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 27

''uva de má cepa''

Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 95

« Há sempre algo na vida que depende da nossa escolha.»

Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 72



Lu Guang (卢广) (born 1961) is a Chinese independent photojournalist.

''deixe-se de amuos comigo''

Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 27

Aguentei, por civismo

« Aguentei, por civismo, até ao terceiro dia, depois, informei-os de que não estava para aturar aquilo e fui para Chancery Lane.»

Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 20

''recato feminil''

Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 15

«Dizer sempre ''não'' quando se pensa ''sim''! Enfim, um inferno para as almas tímidas e sinceras.»

 Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 15

''galantaria copiada de romances''

Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 15

'' a necessidade de agradar''

 Bernard Shaw. A profissão da Sra. Warren. Tradução de Guilherme Mendonça. Campo das Letras. 1ª Edição Maio de 2003., p. 13

terça-feira, 27 de junho de 2023

 Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho o meu emprego

Também não me importei.

Agora estão-me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo.


(Atribuído a Bertolt Brecht)

terça-feira, 20 de junho de 2023

sábado, 10 de junho de 2023

« ferido o coração pouco resiste »

 Caetano José da Silva Souto-Maior

in Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 231


 

PJ Harvey - I Inside the Old I Dying

«Acendeu-se o fogo na água»

 Frei António das Chagas

in Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 209

«Madrugava nos seus olhos»

 Frei António das Chagas

in Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 203

'' nódoas roxas''

« e, mordes com o coração»

Afonso Álvares

in Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 167

Yes It's Me, The Goldfish!

 « Amores eu tenho, antes não tivesse,

o que eu fiz por ele, antes não fizesse!»


João Zorro

in Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 113

Vedes-me

''A poetização da carne''

Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 89

donjuanismo feminino


Elisa Miralles
 

As Vestais de Vénus

concupiscência


 

verbo transitivo
1.
tirar a autoridade a
2.
privar de um cargo
3.
depreciar

 


1.
rezas e benzeduras para curar males ou fazer malefícios
2.
bruxedo

''licença verbal''

Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 83

''pecúlio adjectival''

Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 83

''acanhamento lexical''

 Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 83

quinta-feira, 8 de junho de 2023

terça-feira, 6 de junho de 2023

Legislação Sexual

''O CATIVEIRO DE AFRODITE''


 

 

por acinte
de propósito, de caso pensado

quesito

''a lentidão da máquina judicial  não é exclusiva da democracia''


Francisco Topa. FAHRENHEIT 451: O Processo Judicial Contra a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica in Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.p. 54

segunda-feira, 5 de junho de 2023

terça-feira, 30 de maio de 2023

As Causas


Todas as gerações e os poentes.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta
De Adão. O ordenado Paraíso.
O olho decifrando a maior treva.
O amor dos lobos ao raiar da alba.
A palavra. O hexâmetro. Os espelhos.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que os Caldeus observaram.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang Tzu e a borboleta que o sonhou.
As maçãs feitas de ouro que há nas ilhas.
Os passos do errante labirinto.
O infinito linho de Penélope.
O tempo circular, o dos estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada vã gota de água na clepsidra.
As águias e os fastos, as legiões.
Na manhã de Farsália Júlio César.
A penumbra das cruzes sobre a terra.
O xadrez e a álgebra dos Persas.
Os vestígios das longas migrações.
A conquista de reinos pela espada.
A bússola incessante. O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei que pelo gume é justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol da Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida visto ao espelho.
O ás do batoteiro. O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remorso e também cada lágrima.
Foram precisas todas essas coisas
Para que um dia as nossas mãos se unissem.


jorge luís borges
obras completas 1975-1985 vol. III
história da noite   (1977)
trad. fernando pinto do amaral
editorial teorema
1998


Artur Pastor,
Equilíbrio,
Nazaré, Portugal, 1954-1957


 

boçalidade

  « Em dada altura, pareceu-me eminentemente oportuno lançar no charco do despotismo salazarista a pedrada de um estudo dedicado ao erotismo e sátira fescenina, ilustrando antologicamente. O resultado foi uma cómica condenação que, do alto do Plenário, pretendia avassalar-me, mas que proporcionou jocosa oportunidade de dar razão a Nietzsche, quando ele compara os juízes com camelos.»

Natália CorreiaAntologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica. 

introito

A defesa do poeta


Senhores jurados sou um poeta

um multipétalo uivo um defeito

e ando com uma camisa de vento

ao contrário do esqueleto.



Sou um vestíbulo do impossível um lápis

de armazenado espanto e por fim

com a paciência dos versos

espero viver dentro de mim.



Sou em código o azul de todos

( curtido couro de cicatrizes)

uma avaria cantante

na maquineta dos felizes.



Senhores banqueiros sois a cidade

o vosso enfarte serei

não há cidade sem o parque

do sono que vos roubei.



Senhores professores que pusestes

a prémio minha rara edição

de raptar-me em crianças que salvo

do incêndio da vossa lição.



Senhores tiranos que do baralho

de em pó volverdes sois os reis

sou um poeta jogo-me aos dados

ganho as paisagens que não vereis.



Senhores heróis até aos dentes

puro exercício de ninguém

minha cobardia é esperar-vos

umas estrofes mais além.



Senhores três quatro cinco e sete

que medo vos pôs por ordem?

Que favor fechou o leque

da vossa diferença enquanto homem?



Senhores juízes que não molhais

a pena na tinta da natureza

não apedrejeis meu pássaro

sem que ele cante minha defesa.



Sou um instantâneo das coisas

apanhadas em delito de perdão

a raiz quadrada da flor

que espalmais em apertos de mão.



Sou uma impudência a mesa posta

de um verso onde o possa escrever.

Ó subalimentados do sonho!

A poesia é para comer.





Natália Correia




"A defesa do poeta", Poesia Completa, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2000, pág. 330 e seg. (nota em rodapé: "Compus este poema para me defender no Tribunal Plenário de tenebrosa memória. O que não fiz a pedido do meu advogado que sensatamente me advertiu de que essa insólita leitura no decorrer do julgamento comprometeria a defesa, agravando a a sentença."


 

 


verbo transitivo
1.
imputar aleivosamente
2.
caluniar

inocuidade



A luz se torna vinho. A noite está em pedaços. A voz, a voz alada, a asa da voz. A luz que geme na escuridão. O vento que geme. A desconhecida, a desolada segurança de um vento vindo desta voz que me chama chama em mim, me inspira, me expira, me insufla, insuficientemente.

 “Todo pasa. Nadie tiene algo para siempre. Así es como tenemos que vivir”.

Haruki Murakami

domingo, 28 de maio de 2023

Astrud Gilberto - A Felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira.

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos de minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo por favor...
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor.

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...



 Calhau, S. Vicente, Cabo Verde, 2017 João Ferreira

 «BILLING: Mas então não poderá participar nas eleições para o novo Intendente.

CAPITÃO HORSTER: Vai haver novas eleições?

BILLING: Não sabia?

CAPITÃO HORSTER: Não. Não me meto nessas coisas.

BILLING: Mas o Sr. preocupa-se com as questões públicas, ou não?

CAPITÃO HORSTER: Não, não entendo nada disso.

BILLING: Ainda assim, é preciso votar, ao menos.

CAPITÃO HORSTER: Mesmo aqueles que não entendem nada do que se trata?

BILLING: Não entendem? O que quer dizer com isso? A sociedade é como um navio; todos devem segurar o leme.

CAPITÃO HORSTER: É possível que isso funcione em em terra firme. A bordo, o resultado não seria bom.

HOVSTAD: É estranho como tantos marítimos se importam tão pouco com as questões do país.

BILLING: Muito estranho.»

Henrik Ibsen. Um inimigo do povo. Peças Escolhidas. Volume 3. 1ª Edição, Outubro, 2008., p. 24

 « O INTENDENTE: Pelo menos, tens uma tendência permanente para seguires pelos teus próprios caminhos. E, numa sociedade bem organizada, isso é inadmissível. Cabe ao indivíduo submeter-se ao todo, ou, melhor dizendo, submeter-se às autoridades que têm por missão assegurar o bem comum.»

Henrik Ibsen. Um inimigo do povo. Peças Escolhidas. Volume 3. 1ª Edição, Outubro, 2008., p. 22

fuçar

 «El amor perfecto es una amistad con momentos eróticos»

Antonio Gala

Burocratas


 Berenice Abbott, Hands of Jean Cocteau, 1927

Tradição do barro preto de Bisalhães

 BISALHÃES - A aldeia do barro preto.

''Chegou a ter mais de 60 artesãos, todos oleiros que, em conjunto com as suas famílias, ajudaram a elevar a principal tradição da aldeia a Património Cultural Imaterial da Humanidade UNESCO. Hoje contam-se pelos dedos das mãos, e são cada vez mais raros os momentos em que um dos fornos escavados na terra se enchem de peças de barro, se vestem de fogo e de fumo para cozer a louça. São raros, mas existem e resistem. A tradição do barro preto de Bisalhães ainda é o que era, e há quem esteja empenhado em que continue a ser.''

"The Saving Bitterness of Nostalgia"


I need the viewer to have a sense of the beautiful Earth. So that, having plunged into the fantastic atmosphere of Solaris unknown to him, he suddenly, having returned to Earth, found the opportunity to breathe habitually, so that he would feel achingly easy from this familiarity. In a word, so that the viewer feels the saving bitterness of nostalgia. Kelvin decides to stay on Solaris. This is where I need the Earth, so that the viewer more fully, deeper, more acutely experienced all the drama of the hero’s refusal to return to the planet, which was and is our ancestral home.
Andrei Tarkovsky. Interview with Olga Surkova

 “Pensar, pensamos todos. Não só os humanos mas, segundo os antropólogos, todos os seres viventes. Pensar é ser um eco do que o Cosmos tem para nos dizer. É saber o que somos como tempo passado, como História; termos uma imagem mais ou menos objectiva do nosso percurso — o que é absolutamente inviável, mas uma pretensão como outra qualquer. Pensar é um diálogo que temos connosco próprios. E é sempre qualquer coisa que acontece em função de um espectador possível, mesmo que não tenhamos pensado ou escrito com o propósito de ter uma escuta, como acontece com estas notas [o livro “Da Pintura”, ed. Gradiva, 2017].”

.
Eduardo Lourenço (São Pedro de Rio Seco, Almeida, 23 de Maio de 1923 — Lisboa, 1 de Dezembro de 2020), pensador, professor, ensaísta, em entrevista ao semanário Expresso, de 2.7.2017.

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