« - Às vezes tenho a impressão de que falo, ou que me escutas, de muito longe. E quando me calo, é como se nenhum de nós fosse real. - E emudeceu, a sopesar a verdade do que dizia.
-Ao menos tu, serás real?
Que podia eu dizer-lhe, sem a crosta dos hábitos a defender-me? Segui-lhe no rosto a minha própria emoção.
-Deves ter razão em duvidar. Para te falar franco, chego a julgar que me inventaste - e apertei os dentes, atravessado por uma dor instantânea.
-Mas eu não invento a tua frieza.
Bem vi que outros pensamentos lhe galopavam de encontro às têmporas. Não lhes daria voz, porém. Pelo menos, a todos. Clarisse preferia não esticar, além de certos limites, as cordas do meu enfado. Picava-me, apenas. Ia aceitando, gradualmente, embora com espanto, fúria e terror, o pouco que eu lhe poderia oferecer.
- Nunca quiseste saber nada de mim. Vá, que sabes tu do meu passado?
Escorei-me nos antebraços. Procurei um cigarro nos bolsos. Media, à régua, as palavras que iria dizer.
-Que te sentavas num café com esse arzinho provocante...E se falássemos de outras coisas? A propósito, Clarisse: usavas um gracioso colete de bombazina. Veste-o um dia destes. Ficava-te muito bem.
Ela fixava-me, dorida, a desvendar um estranho.
-Escuta, Jorge, agora escuta-me. Quero sentir que estás, realmente, aqui. Tu poderás compreender que eu deseje tanto que saibas tudo de mim? Só assim poderei pertencer-te, como eu quero. - Ela fazia pontaria ao meu mutismo, para o estilhaçar. Mas logo uma ira crispada lhe borbulhava nas narinas frementes. - Dá-me às vezes a impressão de que és um saco de areia. Dou um murro, a mão amolga o saco, mas não se ouve a pancada. E o saco, claro, fica na mesma. Será inútil repetir o murro.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 164/5
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sexta-feira, 24 de abril de 2015
quinta-feira, 23 de abril de 2015
«A minha convivência nos desatinos e excessos de Clarisse traduzia apenas a solidariedade que se deve a um ser humano desesperado. E, sobretudo, solitário no seu desespero. Era este o disco entorpecente que fazia girar dentro do meu amor-próprio. E seria amor o que ela sentia?»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 145
«Talvez não seja inteiramente sincero ao dizer isto, pois, as mais das vezes, eu procurava muito mais interpretar-me, iludir as minhas acusações, do que ajudar Clarisse a libertar-se do pavor do dia seguinte. «Nada tenho dentro de mim a não ser o medo.» Ela bem o percebia, bem percebia o meu egoísmo. «Os homens são tão ciosos da sua invulnerabilidade! Tão estupidamente egoístas! (...)»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 144
''grandiloquências românticas''
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 144
''nuns monossílabos acerbos que ele se dispensava de ouvir''
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 143
''encurralava-me nas grades do meu mutismo''
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 143
segunda-feira, 20 de abril de 2015
«Ser uma vítima dócil, para sua comodidade?»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 98/9
domingo, 19 de abril de 2015
«(...) de cigarro a acobrear-lhe os dedos nodosos,»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 75
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«Que, ao menos, na floresta das palavras, eu saiba escolher apenas as necessárias.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 73
«Esse mutismo deixou-a por momentos irresoluta, após o que decidiu dispensar o contraponto das minhas palavras.
- Não tem o direito de me iludir. Nem a mim nem a ninguém.
Esmaguei o cigarro com irritação. Os olhos ainda lacrimejavam.
-Sabe o que está a dizer?
-Sei muito bem. Posso repeti-lo.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 70
- Não tem o direito de me iludir. Nem a mim nem a ninguém.
Esmaguei o cigarro com irritação. Os olhos ainda lacrimejavam.
-Sabe o que está a dizer?
-Sei muito bem. Posso repeti-lo.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 70
segunda-feira, 13 de abril de 2015
terça-feira, 7 de abril de 2015
«Clarisse baixou os olhos, humilhada.»
Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 36
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