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domingo, 29 de janeiro de 2012

''Um Prometeu, um verdadeiro Prometeu! Que ar majestoso! Que andar imponente! Parece uma águia! Mal sai dali, com a papelada debaixo do braço, e entra no gabinete do director, a águia transforma-se em perdiz...''

«À noite, em sociedade, se os presentes lhe são inferiores, Prometeu continua a ser Prometeu, mas se encontra alguém duma categoria ligeiramente superior, o nosso Prometeu sofre uma metamorfose tão completa como o próprio Ovídio não seria capaz de imaginar: transforma-se em mosca, ou em menos do que mosca, num grão de areia...''Este não é Ivan Petrovich!'', dirá quem o vir. ''Ivan Petrovich é alto e este é um João-ninguém; Ivan Petrovich nunca ri, tem voz forte, um ar imponente e este ri por tudo e por nada e pipila como um passarinho...'' Mas se se aproximar um pouco mais, acabam-se as dúvidas, e exclamará então: ''Afinal, sempre é Ivan Petrovich! Quem haveria de dizer!''»



Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 51

domingo, 22 de janeiro de 2012

Chichikov poucas vezes falava de si próprio


«Chichikov poucas vezes falava de si próprio e, quando o fazia, era em termos vagos e com grande modéstia, dando às frases um estilo livresco. Dizia, por exemplo, que um insignificante verme da terra como ele não era digno de muita atenção;»



Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p.12

segunda-feira, 27 de junho de 2011

«(...) as palavras morreram-lhe nos lábios, as lágrimas e os soluços atacaram-no, precipitou-se para fora da sala como um louco.»

Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. O Retrato. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 116
   «Via-se que o pintor, primeiro, dera guarida na sua alma a tudo o que bebera do mundo exterior e que só depois, tirando-o da nascente da alma, o transformara num canto harmonioso e solene.»



Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. O Retrato. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 115
      «Um belo dia encontrou em cima da sua mesa uma carta da Academia das Belas-Artes em que lhe era pedido que, na sua qualidade de membro emérito, desse a sua opinião sobre uma obra nova, enviada de Itália, pintada por um russo que aperfeiçoara a sua arte nesse país. Este pintor era um dos seus antigos colegas, um artista que guardara desde os seus verdes anos a paixão pela arte, que mergulhara nela com toda a sua alma ardente de trabalhador, que se afastara dos amigos e da família, que abandonara os queridos hábitos e correra para as terras onde, sob os céus divinos, amadurecem os majestosos viveiros das artes - para aquela Roma divina de que basta apenas dizer o nome para que pulse forte e plenamente o coração do artista. Lá, como um eremita, embrenhou-se no trabalho e nos estudos, sem se deixar distrair com nada. Tanto se lhe dava que os outros cochichassem sobre o seu carácter, sobre a sua incapacidade de lidar com o próximo, sobre a violação das regras da boa educação mundana, sobre a humilhação que a sua roupa pobre e deselegante causava ao título de artista. Não lhe importava que os seus irmãos artistas estivessem ou não zangados com ele. Desprezava tudo, entregava-se todo à arte. Visitava incansavelmente as galerias, ficava horas absorto diante as obras dos grandes mestres, na busca, na perseguição do pincel milagroso. »



Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. O Retrato. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 113
  «(...) Vê se tens paciência. Reflecte bem sobre cada trabalho que fazes, deixa-te de elegâncias e deixa o dinheiro para os outros. O êxito não te foge.»



Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. O Retrato. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 81

terça-feira, 21 de junho de 2011

(como eu compreendo o pobre Piskariov...)


   «Oh, era demais!, já se tornava impossível de suportar. Piskariov precipitou-se para fora, de cabeça e sentidos vazios. Turvou-se-lhe a mente: sem atentar no caminho, sem tino, sem ver, sem ouvir, vagueou todo o dia. Ninguém sabe se dormiu ou não dormiu em qualquer sítio; só no dia seguinte o instinto cego o levou ao seu apartamento, pálido, com um aspecto medonho, o cabelo desgranhado, sinais de loucura no rosto. Fechou-se no quarto, sem deixar entrar ninguém, sem pedir nada. Quatro dias se passaram e o quarto fechado nenhuma vez se abriu; ao cabo de uma semana, o quarto continuava fechado. Chamaram por ele à porta, mas não houve resposta; por fim, arrombaram-na e encontraram o seu cadáver com a garganta cortada. A lâmina ensaguentada estava no chão. Pelos braços convulsamente abertos e pela cara terrivelmente desfigurada podia concluir-se que a sua mão fora certeira e que sofreu ainda muito antes de a sua alma pecadora lhe abandonar o corp
    Assim pareceu, vítima de louca paixão, o pobre Piskariov, quedo, tímido, modesto, ingénuo como um menino, que transportava em si a chispa do talento que talvez, com o correr do tempo, viesse a atear um fogo grande e brilhante. Ninguém chorou a sua morte; ninguém estava ao lado do seu corpo inanimado para além da figura vulgar do chefe de esquadra do bairro e do indiferente médico municipal. Levaram o caixão despercebidamente, sem ao menos as cerimónias religiosas, para o cemitério de Okhta; atrás do féretro apenas um guarda-soldado chorava, e mesmo esse porque bebera uma garrafa de vodca a mais.»


Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 50/1

segunda-feira, 20 de junho de 2011

   

   «Os sonhos acabaram por se tornar a vida dele e, desde então, a sua existência tomou um rumo estranho; pode dizer-se que dormia acordado e estava de vigília no sono. Se alguém o visse sentado em silêncio diante da mesa vazia, ou a andar pela rua, decerto o tomaria por um sonâmbulo, ou por um indivíduo destruído pelas bebidas fortes; o seu olhar estava privado de sentido, a sua distracção natural ampliou-se e, autoritariamente, expulsava da cara todos os sentimentos e movimentos. Apenas se animava com a chegada da noite.»


Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 45

A senhora

«A senhora passou o olhar em volta de todo o círculo de pessoas que ansiavam por atrair a sua atenção, mas logo o desviou, cansada e desatenta, e cruzou os olhos com os de Piskariov. Oh, que céu!, que paraíso!, dá-me forças, Criador, para o suportar!, pois isto não caberá na vida, destruirá, arrebatará a minha alma! Ela fez-lhe sinal, mas não com o gesto de mão ou um aceno de cabeça, não: o sinal relanceou pelos seus olhos demolidores, tão fino e imperceptível que ninguém o pôde ver, tirando Piskariov, que o viu e compreendeu.»




Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 41
«Aquela miscelânea incrível de rostos deixou-o completamente aturdido; parecia-lhe que um demónio qualquer esmigalhara todo o mundo reduzindo-o a mil fragmentos variados e que, depois, misturara sem critério e sem ordem todos esses fragmentos.»




Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 38
«Ficou-lhe retida no peito a respiração, tudo nele se converteu num tremor indefinido, todos os seus sentidos ardiam em fogo, tudo diante dele se vestiu de um nevoeiro.»



Nikolai Gógol. Contos de São Petersburgo. Avenida Névski. Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra. Biblioteca editores Independentes. Assírio&Alvim, Lisboa, 2007, p. 32
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