Mostrar mensagens com a etiqueta José Cardoso Pires. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Cardoso Pires. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 22 de abril de 2014

«Estou farta de liberdade», gritava ela para quem a quisesse ouvir, «toda a gente me quer dar liberdade e eu quero que a liberdade se foda». (Se cosa, disse a galinheira, perdoe-se a expressão).

José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 163

cristais nocturnos

''um vendaval de insultos''

sábado, 19 de abril de 2014

    «Mena acorda sempre de ressaca como ele pode ver pelo balde cheio de pontas de cigarro, e arrasta-se para a casa de banho embrutecida pelo valium. Primeiro que tudo diluir a insónia, depois é que vinha a maquilhagem, o envelhecer-se, e a peruca e os óculos sem graduação.»


José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 155

Com a outra mão, esmaga pensativamente o cigarro no prato da folha.


José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 153
   « - Olá, mais linda.
      -Vá bardamerda.
      -Estava a pensar em ti.
      -Largue-me mas é da mão, já lhe disse que sou uma senhora casada.
      Há meses que isto é assim. Vez por outra, quando o corpo lhe amorna em solidões, Elias marca o número-mistério e entra em linha.
     -Olha, vi-te ontem.
     -Eu também, tem piada.
     -Ias com o teu namorado.
     -Ai que mentira. Qual deles?
     -Aquele que te pregou o esquentamento.
     -Ordinário.
     Som de desligar. Elias, sempre de boca descaída, repete a marcação do número.
     -Isso faz-se? Desligar ao querido?
     -Já lhe disse que sou uma senhora casada.
     -Então estás lavadinha por baixo.
     -Ai toda, meu querido. Estou todinha. E tu? Sabes uma coisa, hoje não estou nada-nada para chatices.
    -Nem eu. Estou doentinho. (Elias mira uma unha gigante.)
    -Com quê, meu querido? Foram-te ao rabo?
    -Mais ou menos.
    -Logo vi, mas, sabes, com chantilly, filho, com chantilly.
    -Costumas pôr chantilly, é?
    -Sempre, filho. Com muitas natas. Olha vou desligar que o meu marido já chegou.
     -Chama-o lá.
     -O quê?
     -Chama-o lá, o teu marido.
     -O quê?
     -Pergunta-lhe se o gajo quer uma ajuda.
     -Ai, quer, querido, vem depressa. Sabes como é que eu estou? Olha, estou em cima da cama, que é assim no estilo de queen anne, mas, tu sabes, amor, tu já cá estiveste, não te lembras?
     -Daquela vez em que te comi de gatas, atão não me lembro.
     -Pois olha eu cá não.
      -Lembras, pois.
     -Comida de gatas? Adoro. Deves ter sido muito desajeitadinho para eu não me lembrar.
     -Até estavas com um robe castanho transparente.
     -Robe castanho deve ser confusão. A menina é muito prò moreno, o castanho não lhe cai bem. Não faz mal, foi como tu dizes.
     -Tinhas umas ligas com argolas que davam cá um tilintar que nem queiras saber.
     -Ah, foi de ligas?
     - E agora como é que tu estás?
     -Perdão?
     -Agora como é que tu estás, minha puta.
     -Ah, agora a puta está com o Sheik nas perninhas, o Sheik é o meu bassé.»


José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 148-150

galdéria mal amanhada

Aquellos ojos negros...

   «Entram dois loucos mansos do hospital Miguel Bombarda, ali ao pé. Reconhecem-se pelas cabeças rapadas, pela palidez escaveirada e pela roupa de internados; as calças estão-lhe sempre curtas, mal chegam às canelas, e usam cordéis a fazerem de cinto. Os loucos mansos dão uma volta pelas mesas acenando com os dois dedos à frente da boca. Pedem cigarros.»


José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 146

E ria, o velhaco.

       «Este velho da estátua era um dos seus fantasmas de menino, achava-o igual a um bruxo desdentado que havia em Elvas, um que chamavam o Esplérido e que tinha o corpo por dentro todo a bulir em lagartas. Não são lagartas, é sebo, sossegava-o o pai. Mas o Esplérido quando a garotada o espreitava à distância e de cara franzida, espremia as asas do nariz com duas unhas e começava a deitar pelos poros fios brancos como vermes retorcidos. E ria, o velhaco. Tinha o mesmo riso carcomido do velho de bronze.»


José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 144
«Pecador que me ignoras em breve te juntarás a mim e então é que eu me hei-de rir, Pax Tecum


José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 143

terça-feira, 1 de abril de 2014

Anoitecer,

«hora de os morcegos ensaiarem os voozinhos de cetim»,


José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 141

«Quando as chamas sobem de mais os anjos dão a mão ao diabo.»


José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 141

«Também, do mal o menos, entrou mudo e saiu calado.»


José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 140
«Cansados de dar à sola mas de pulmões lavadinhos, benza-os Deus, porque isto de dormir com as cabras e de namorar as gaivotas dá desgostos mas faz peito, a paciência do artista tem destas naturezas.»

José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 140

Quando o cadáver cheira a política até as moscas largam a asa

«Tendo em vistas o advogado dos brilhos, salienta que o homo politicus é um animal lixado de trabalhar porque tem padrinhos no céu e afilhados no inferno, para não falarmos no purgatório que é onde se junta a maralha dos conspiradores em part-time. Por estas e por outras é que: Quando o cadáver cheira a política até as moscas largam a asa, como se costuma dizer, e muito bem, aqui o nosso chefe Santana.»



José Cardoso PiresBalada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 138

«Ele-Estava-A-Viver-Plenamente-No-Auge-Da-Paixão.»

Felicidade dramática

Segunda sessão de brandies

Powered By Blogger