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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

''Na verdade não há processo de aceder à consciência senão estar, viver, tê-la presente, sê-la: talvez a filosofia dependa em última análise, como queria Fichte, «da qualidade de homem que se é».''


Eduardo Lourenço. Da Permanência no Mundo do Espírito in Heterodoxia I e II. Assírio&Alvim, Lisboa, 1987, p. 25
«Um homem pode recusar-se a trocar qualquer objecto insignificante (testemunho de amor, recordação familiar, fetiche absurdo mesmo) sobre que concentrou uma intenção infinita, pelo maior tesouro da terra. Quer dizer, pode recusar vender a alma.»


Eduardo Lourenço. Da Permanência no Mundo do Espírito in Heterodoxia I e II. Assírio&Alvim, Lisboa, 1987, p. 25

«É fácil ver a que espécie de homens pertencem os aproveitadores de mortos...»

«É fácil ver a que espécie de homens pertencem os aproveitadores de mortos: aos fanáticos de todas as religiões, metafísicas, morais, estéticas, políticas. Fanáticos, entenda-se, não crentes que testemunham da sua fé como fé, sem a querer impor aos outros como certeza demonstrável. O que é raro.»


Eduardo Lourenço. Da Permanência no Mundo do Espírito in Heterodoxia I e II. Assírio&Alvim, Lisboa, 1987, p. 21

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

'O velho mito germânico de Migdar'

« Tudo isso é Migdar e o reconhecimento de Migdar como essência da realidade, chama-se Heterodoxia. Ou traduzindo o mito, heterodoxia é a convicção de que o real não é apenas a cabeça mordendo sem hesitações nem a cauda devorada sem resistência, mas o inteiro movimento de morder e ser mordido, a paixão circular da vida por si mesma. O movimento da cabeça devorando com a certeza de existir um só caminho, pode receber o nome de Ortodoxia, assim como a convicção inversa de não existir caminho algum pode designar-se por Niilismo.»



Eduardo Lourenço. Escrita e Morte in Heterodoxia I e II. Assírio & Alvim, Lisboa, 1987

sábado, 25 de dezembro de 2010

«Falhada ou triunfante, toda a escrita é um exercício de imortalidade. Mas ninguém sabe o que o perde ou o que o salva.»


Eduardo Lourenço. Escrita e Morte in Heterodoxia I e II. Assírio & Alvim, Lisboa, 1987

«Não sabíamos então que a futura sobrevivência seria também partilhada entre a nostalgia sem redenção da pouca vida humanamente respirável dos nossos jovens anos e a decepção que espera sempre que acordam tarde sobre sonhos precocemente sonhados. É neste lugar de um crepúsculo que se esvai como um rio entre a decepção de outrora carregada de sonho e o sonho de hoje sonhado pela memória dessa decepção que vêm reinscrever-se páginas que porventura melhor conviria deixar no seu tempo próprio, aquele em que a agonia mesma nos sabia a vida.»


Eduardo Lourenço. Escrita e Morte in Heterodoxia I e II. Assírio & Alvim, Lisboa, 1987

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

«Uma parte da nossa geração não se viveu enquanto se ia vivendo.»


Eduardo Lourenço. Escrita e Morte in Heterodoxia I e II. Assírio & Alvim, Lisboa, 1987
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