sábado, 27 de outubro de 2018

SUICIDAS (II)

A mão correu a cortina
E abriu-se logo o deserto.

E o silêncio.
E a agonia.
No fulgor de pedra fina,
Só eu ouvia e sabia
A data no tempo certo.

Nos cabelos enredados
De espinhos e palhas velhas
O mar deixara de ser
Os infinitos recados
De inumeráveis centelhas.

      Lá porque não houve enterro
      Nem retrato no jornal
      Todos cavaram a cova.
      Todos pisaram a terra
       E alguns cantaram felizes
      Na volta do funeral.
              Agora vão descansar
               Depois da cruz levantada.
                     Já é costume entre nós
                               Suicidar camaradas.

Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 142

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