quarta-feira, 17 de junho de 2015

CONVERSAR NA CAMA


Conversar na cama havia de ser facílimo.
Estar deitado com outro vem de tão longe,
Um símbolo da franqueza entre dois seres.
Mas cada vez mais tempo passa em silêncio.
Lá fora a agitação incompleta do vento
Junta e dispersa nuvens à face do céu,
E as vilas escuras apinham-se no horizonte.
Nada disto quer saber de nós. Nada mostra porquê
A esta distância única do isolamento
Se torna ainda mais difícil encontrar
Palavras ao mesmo tempo sinceras e gentis
Ou não insinceras nem menos gentis.


PHILIP LARKIN in 'Uma Antologia', trad. de Maria Teresa Guerreiro e posfácio de Joaquim Manuel Magalhães, Coimbra, Fora do Texto, 1989

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