BASTAM-ME esses braços descarnados,
essas úlceras de carmim!
Quero o cheiro do teu corpo barato,
o enjoo dos teus seios,
a náusea de quem nos vê.
Ah, esquecer o mundo lá de fora
e ter versos violentos!
Esquecer mulheres honestas, amigos, livros,
o falso dos risos,
a mentira dos prantos.
Acordar os meus sentidos perdidos
em vícios procurados pelos cantos!
E tu, por exemplo,
serás a minha amante.
Atira-me beijos da janela
quando eu passar na rua
e ao sábado espera-me
para dormir contigo.
Aos outros dias, não, que eu tenho a minha vida...
(...)»
Fernando Namora. As Frias Madrugadas. Publicações Europa-América, 4ª ed, Lisboa, 1971., p.41