terça-feira, 21 de janeiro de 2014


« - Dispenso as explicações. Quando elas são necessárias já não servem de nada - disse eu, de maneira modesta, para não o irritar. Digo mal. O Freirão nunca se irritaria comigo. Um caçador irrita-se com o meteorologista, não com uma mulher. Eu, de resto, não lhe dizia o que pensava. Como se me ouvisse, no silêncio das minhas cordas vocais, ele perguntou-me:
       -O que estás a pensar?
       -Eu? Em nada...Mas já que quer saber, penso que não há remédio para uma pessoa como você.
       -Não há salvação, quer dizer.
      -Ou isso.»

Agustina Bessa-Luís. Doidos e Amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 12
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