sábado, 18 de janeiro de 2014

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Operário que a manhã despertou no sono necessário,
mão que ficaste nua ao bater na porta fechada,
caminheiro de que a estrada deserta aceitou o cansaço,
mulher de corpo usado e alma desflorada,
todos a quem negaram o pão,
todos a quem negaram amor,
eu vos recebo, embora proscrito como vós!


Nem as carícias de Olívia se fizeram para os nossos
                                                                             [corpos
nem os deuses nos reconheceram como sua obra,
nada, nada a vida nos concedeu.
Mas conquistaremos a fé dos espezinhados,
o clamor das faces cuspidas,
e esta força será maior que as carícias e os deuses,
ó companheiros que desconheceis as preces!
Seremos aquela planta selvagem que se ergueu renovada
depois de o arado a mutilar.

Heróica arrogância da alma desprezada!




Fernando Namora. As Frias Madrugadas. Publicações Europa-América, 4ª ed, Lisboa, 1971., p.82
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