ESTUDANTE 4 (Com assombro.)
Mas não te deste conta de que a Julieta que estava no sepulcro era um rapaz disfarçado, um truque do Director, e que a verdadeira Julieta estava amordaçada debaixo dos assentos?
ESTUDANTE 5 (Desatando a rir.)
Pois gostei! Parecia muito bonita, e se era um rapaz disfarçado não me importo nada. E nunca teria ficado com o sapato daquela fulana coberto de pó que gemia como uma gata debaixo das cadeiras.
ESTUDANTE 3
E, no entanto, foi por isso que a mataram.
ESTUDANTE 5
Porque estão loucos. Mas a mim que todos os dias trepo duas vezes à montanha e guardo, depois de acabar as aulas, uma enorme manada de touros, com que tenho de lutar e vencer a cada instante, não me sobra tempo para pensar se é homem ou mulher ou criança, só sei que gosto com toda a alegria do desejo.
ESTUDANTE 1
Bonito! E se eu me quiser apaixonar por um crocodilo?
ESTUDANTE 5
Apaixonas-te.
ESTUDANTE 1
E se eu me quiser apaixonar por ti?
ESTUDANTE 5 (Atirando-lhe com o sapato.)
Apaixonas-te também, eu deixo, e levo-te em ombros pelos penhascos.
ESTUDANTE 1
E destruímos tudo.
ESTUDANTE 5
Os telhados e as famílias.
Frederico Garcia Lorca. O Público. Trad. de José Manuel Mendes, Luís Lima e Luís Miguel Cintra. Edições Cotovia, Lisboa, 1989, p. 82/3
sábado, 25 de junho de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário