«E a partir do momento em que vi, a minha alma começou a consolidar-se: já não se escoava numa perpétua renovação como a água; ao redor de um núcleo iluminado, condensava-se e fixava-se agora um rosto, o rosto da terra. Deixei de avançar por caminhos inconstantes, ora à direita ora à esquerda, tentando descobrir o animal de que descendia; avançava com segurança, porque conhecia o meu verdadeiro rosto e o meu único dever: trabalhar esse rosto com toda a paciência, amor e habilidade que pudesse. Transformá-lo em fogo e, se tiver tempo, antes que a Morte venha, fazer desse fogo uma luz para que a Morte nada mais encontre em mim, para levar consigo. Porque foi esta a minha maior ambição: nada deixar de mim que a Morte possa levar - alguns ossos apenas.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 22
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