«Inacreditável. Eu, o Outro de mim, em viagem de passos perdidos e a interrogar-me se não estaria a caminhar para a loucura. E o caso é que, desconcertante ou não, a pergunta aconteceu. E para maior surpresa, não a esqueci. Loucura, caminho para a loucura, a questão chegou-me com uma insistência passageira mas no estado em que me encontrava o que não seria para mim a loucura? Como é que eu, impessoal e tão a esmo, me tinha lembrado de tal coisa a propósito dum letreiro? Pensando-a a esta distância, admito que essa perturbação se possa dever a um eco da minha identidade do passado: ao enfrentar aquele letreiro como uma provocação da leitura e da escrita era o ex-autor de livros que estremecia na cegueira em que me tinha mergulhado e que tirava do fundo da sua razão perdida o esboço duma interrogação à loucura. Seria?»
José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.57
José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.57
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