quarta-feira, 21 de julho de 2010

XVI

''E seu nome é Orestes.''
SÓFOCLES, Electra, 674.
Na arena outra vez, e sempre na arena!
Quantas voltas, e circuitos de sangue, sombrios
Degraus de rostos que olham...Esta multidão que me olha,
Que me olhava quando, de pé no carro,
Levantei alto a mão, radiante, e ela me aclamou!
A espuma dos cavalos me açoita. Quando chegarão
À meta? O eixo range, o eixo aquece, quando se incendiará?
Quando se romperão as rédeas, e os cascos
Afinal pisarão a relva tenra
Entre as papoulas onde, na primavera,
Colheste uma margarida?
Eram belos, os teus olhos. Mas não sabias o que olhasses
E eu mesmo não sabia o que olhar, eu que luto,
Justamente aqui, sem pátria - quantas voltas e circuitos ! -
E que sinto meus joelhos curvarem-se no eixo,
Nas rodas, na pista selvagem.
Comodamente dobram-se os joelhos quando os Deuses assim o
determinam.
Ninguém pode escapar; para que lutar, resistir?
Não podes escapar a este mar que te embalou, e que procuras,
Neste instante de luta, no sopro dos cavalos,
Com as canas que cantavam no outono ao modo lídio,
O mar nunca tornarás a ver, nem mesmo de passagem,
Voltando sem delonga à presença das sombras
Eumênides que se aborrecem e não perdoam.


Giorgos Seferis. Poemas. Trad. de Darcy Damasceno. Estudo introdutivo de C. TH. Dimaras. Editora Opera Mundi. Rio de Janeiro, 1973., p. 75

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