a caligrafia das águas sobre a pedra uma pedra vacila
verde
as árvores despertam dormem apertadas na concavidadedo rumor
não dissemos ainda as pálpebras longínquas do horizonte
o trémulo deslumbramento da água jorrando lisa da terra
não dissemos a progressão das formigas em torno da árvore
de claras malhas como um leopardo
não dissemos as vagas sombras imóveis as folhas verdes
as altas e negras flores nas varandas suspensas
não dissemos sequer o nascimento da terra e do cavalo
as manhãs a meia-noite o turbilhão
do ventre o arranque para a primeira explosão no mar e o muro
onde o tempo se condensa como um navio suspenso sobre
o mar vertical
António Ramos Rosa in Gravitações. Colecção de Viva Voz. Litexa, 1983, pp.11
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