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quarta-feira, 30 de setembro de 2015


« JOVEM MULHER - Gostas de mim?

COMPANHEIRO - E tu?

JOVEM MULHER - Estou eu a perguntar-te?

COMPANHEIRO - E  tu?

JOVEM MULHER - Vais ao teu sindicato?

COMPANHEIRO - Preciso de consultar, primeiro, a Lei sobre despedimentos.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 141

« COMPANHEIRO - Seja cão, se desabafo mais contigo.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 138

«JOVEM MULHER - Vai! Se estás farto de mim, vai já, hoje!

COMPANHEIRO - Hoje não. Estou rebentado.

JOVEM MULHER - Vai amanhã, de comboio. Logo de manhãzinha, para veres nascer o sol. (Num lamento): Já não gostas de mim.

COMPANHEIRO - Ó mulher! Seria tão bom que calasses, durante quatro anos, ao menos, essa boca de trapo.

JOVEM MULHER (queixosa) - Já não gostas de mim. Eu sei. Levaste uma vida a ignorar que eu me pintava e, ainda há instantes, cuspiste na minha cara, no rimel, no pó d'arroz e no baton que uso. Julgas que eu me esqueci?

COMPANHEIRO - Deixa-me! Cala-te! Quero lá saber das tuas pinturas.

JOVEM MULHER - Quiseste desfazer-te de mim. Quiseste matar-me, para poderes casar com a tua patroa. Foi isso que sentiste, há bocado, não foi, quando eras governo? Ela é tua amante. É?

COMPANHEIRO - É. Esta mulher põe-me doido. Obriga-me a dizer o que não quero e a ser o que não sou. Agora vem-me com ciúmes. Deixa-me, pá! Necessito de sossego. Estou doente.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 137/8

«COMPANHEIRO - Em democracia, é assim. Quem não tem unhas não toca guitarra.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 129

«Companheiro - Um dos imperativos da democracia é o jogo político.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 129


«JOVEM MULHER (armando-se da vassoura) - Tenho uma tremenda vontade de te matar. Tenho cá uma enorme vontade de disparar, de amandar-te um tiro ao focinho. Vai lá pregar sermões capitalistas aos teus lacaios.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 113

''portuguesmente falando''



«JOVEM MULHER - Tenho de ir ver esse filme. De quem é a produção? A democracia cinematográfica faz milagres. Até educa os macacos.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 102

« Mim, Tarzan! Tu, Jane!»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 100

«JOVEM MULHER - Ora... A vossa diarreia verbal é muito superior, mais asquerosa e violenta que uma boa arrochada na espinha. São muito amigos da Pátria, mas que fizeram dela e por ela, durante estes 48 anos? Uma Pátria esquecida e escarnecida. Num mundo de nações, onde estava a Nação portuguesa? Em casa. Em família. No vosso bolso. Eis o que vocês fizeram da vossa querida pátria.»



Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 93

«Através de eleições, pensarão voltar a encurralar-me novamente? Mostrem-me lá a vossa propaganda. Cheira-me a pomada jibóia.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 92


«PRAZER - Chiu...jovem, não faças tanto barulho! Neste tipo de negócio, é indispensável a maior descrição. A mercadoria é rara, não chega para metade. Aqui a tens, linda como os amores: liamba, marijuana, coca, mescalina, beladona, ópio, haxixe ...enfim, uma beleza de sonhos ternos para a juventude. Experimenta lá esta, jovem!...»



Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 85

«COMPANHEIRO - Morres pelo povo, como o peixe pela água. Ainda não perguntaste o que ele quer, no entanto matas-te a falar nele e por ele.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 82

« JOVEM MULHER - Nas democracias ocidentais existe a exploração. A exploração é uma forma de escravatura. Viva o comunismo!»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 81


«PRATICANTE - Chefe! Está a ver?


INQUISIDOR - Perfeito. Sempre é o que eu te digo. O mundo está cada vez mais debochado. Quem diria! Um livro na cabeceira duma cama. E no lado da mulher! Uma sonsa destas, já viram? Tu, guarda-me as costas! Nada de descuidos. Já não querem servir só para o gozo. Qualquer dia, nem na cama querem deitar-se. Com que então, a sua patroa já não lhe serve só para a cama, hem! »

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 70
« MÃE - Ainda bem que tu não me julgas parva, filha. Porque eu não o sou. Deixo comer as papas em cima da cabeça, porque deixo. Também a leoa deixa, mansa, o domador pôr-lhe a cabeça nas goelas. Compreendes, filha? Se eu não tiver paciência...quem é que a tem?»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 63

«MÃE - Fui uma vez ao cinema, quando me casei. Levou-me o meu marido. Gostei muito da fita, apesar de meter muita pancadaria. Ao teatro, nunca cheguei a ir. Gosto muito de ver teatro, mas nunca vi nenhum.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 62
« JOVEM MULHER - Já abortou, alguma vez?

MÃE - Diz bem, filha. Eu própria até se me gela o sangue só de pensar nisso. Prefiro ter mil filhos. Se a parir, ainda posso ter uma vizinha à cabeceira, os abortos tenho-os eu de fazer na bruxa. E não é só a dor, a incerteza de morrer ou de viver para outro. Levo as noites a pensar que, quando fechar os olhos, irei cair nas penas do purgatório ou nas chamas do inferno. Vivo atormentada. Mas que hei-de eu fazer? Não posso ter um filho aos quatro meses e meio.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 61
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